O glaucoma é uma doença ocular crônica e progressiva que danifica o nervo óptico, estrutura responsável por transmitir os sinais visuais dos olhos para o cérebro, formando a imagem que enxergamos. Esse dano costuma estar relacionado à pressão intraocular elevada, embora o glaucoma também possa ocorrer com pressões normais.
“É a principal causa de cegueira irreversível (por acometer o nervo óptico) no mundo. A alta prevalência, dificuldade de acesso ao oftalmologista e a desinformação são alguns dos fatores associados a essa estatística”, explica a Dra. Karina Carvalho, especialista em glaucoma e membro da Sociedade Brasileira de Glaucoma, em entrevista exclusiva à Catraca Livre.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que cerca de 7,7 milhões de pessoas no mundo sejam cegas devido ao glaucoma. No Brasil, a prevalência da doença varia entre 2% a 3% na população acima de 40 anos, aumentando com o avanço da idade.
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Tipos de glaucoma e suas diferenças
Existem os glaucomas primários, os secundários e o congênito/infantil. Segundo a oftalmologista, os tipos mais comuns são os primários, que se diferenciam principalmente pela forma como o líquido produzido dentro do olho, o humor aquoso, encontra resistência para sair e pela velocidade de progressão dos sintomas.
“O primário de ângulo aberto é o tipo mais comum no mundo. Nesses casos o humor aquoso tem dificuldade de sair (uma maior resistência) pelo sistema de drenagem do olho, mesmo com o ângulo entre a íris e a córnea estando aberto. Aqui o quadro é assintomático nas fases iniciais da doença.”
Por outro lado, o primário de ângulo fechado é mais comum em pessoas com olhos anatomicamente pequenos, como os hipermetropes, especialmente em mulheres e idosos. “Nesses casos o ângulo entre a íris e a córnea é estreito ou fechado, impedindo a saída do humor aquoso. As formas de apresentação aqui podem ser crônica, lentamente progressiva (sem sintomas) ou aguda, súbita, com dor ocular intensa, visão turva, olho vermelho, náuseas e vômitos. É uma urgência médica.”
Sintomas: quando o glaucoma dá sinais
A Dra. Karina alerta que, como o tipo mais comum é o primário de ângulo aberto, a doença é assintomática nas suas fases iniciais. “A visão central permanece normal e o paciente não sente dor ou percebe embaçamento visual. Por isso, muitas pessoas só descobrem que têm a doença quando já perderam parte importante do campo visual.”
Sinais de alerta geralmente surgem em fases mais avançadas ou em outros tipos de glaucoma. Ela cita alguns exemplos:
- “Em fases avançadas: dificuldade para enxergar em ambientes escuros; pequenos ‘tropeços’ por não perceber objetos ao lado; quedas frequentes.”
- “Fechamento angular agudo (glaucoma primário de ângulo fechado) — uma urgência médica: dor ocular intensa; olho vermelho; visão borrada ou com halos coloridos ao redor das luzes; náuseas e vômitos.”
- “Em bebês que nascem com glaucoma (glaucoma congênito): lacrimejamento excessivo; sensibilidade à luz (fotofobia); aumento do tamanho dos olhos; opacidade da córnea.”

Diagnóstico: quais exames são essenciais
O diagnóstico precoce depende de uma avaliação detalhada. “Além da consulta oftalmológica completa, é fundamental a realização de exames complementares como retinografia, gonioscopia, paquimetria, campimetria computadorizada e tomografia de coerência óptica.”
Após o diagnóstico, a frequência desses exames varia conforme o tipo de glaucoma e o estágio da doença.
Tratamento: controlar para preservar
“Procedimentos a laser, colírios hipotensores, procedimentos cirúrgicos minimamente invasivos e outros tipos de cirurgias.” Essas são as opções de tratamento disponíveis atualmente, segundo a Dra. Karina.
Ela esclarece que “o tratamento do glaucoma tem como objetivo controlar a pressão intraocular e, assim, evitar a progressão do dano ao nervo óptico.” Embora não tenha cura e a perda visual seja irreversível, “com o tratamento adequado é possível preservar a visão e manter qualidade de vida.”
A médica faz um alerta importante: “É importante lembrar que nenhum tipo de tratamento recupera a visão perdida pela doença. A cegueira é irreversível, por isso é tão importante o diagnóstico precoce. Quanto mais cedo descobre que tem a doença e inicia da forma correta o tratamento e o acompanhamento, reduz muito o risco de cegueira.”
O impacto do diagnóstico precoce
Quando perguntada se o diagnóstico precoce realmente pode evitar a perda de visão, a resposta é direta: “Sim, o diagnóstico precoce do glaucoma pode evitar, ou ao menos retardar significativamente, a perda de visão. Na maioria dos casos, quanto mais cedo a doença é identificada e tratada, maior a chance de preservar a visão ao longo da vida.”
Grupos de risco: quem deve estar mais atento
Alguns grupos devem redobrar a atenção com a saúde ocular. De acordo com a especialista, pessoas que apresentam qualquer uma das seguintes características devem realizar acompanhamento oftalmológico regular, mesmo na ausência de sintomas:
- Pacientes maiores de 40 anos
- Pressão intraocular elevada
- Negros
- Míopes
- Hipermetropia elevada
- Doenças sistêmicas (diabetes mellitus, hipertensão arterial)
- Histórico familiar da doença
- Uso prolongado de corticoide
- Histórico de trauma ocular
- Alterações no disco óptico (escavação aumentada) devem realizar monitoramento frequente
Histórico do glaucoma como problema de saúde pública
O reconhecimento do glaucoma como um problema de saúde pública no Brasil ocorreu em 2002, com a instituição do Dia Nacional de Combate ao Glaucoma, datado em 26 de maio, conforme a Lei nº 10.456/2002. Essa data visa conscientizar e alertar sobre a doença, considerada a segunda causa de cegueira no Brasil, atrás apenas da catarata.
Desde então, o Ministério da Saúde tem implementado políticas públicas para aprimorar o diagnóstico, tratamento e acompanhamento dos indivíduos com glaucoma, incluindo a atualização de protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas.

Maio Verde: mês de conscientização sobre o glaucoma
Durante o mês de maio, é realizada a campanha Maio Verde, dedicada à conscientização, prevenção e combate ao glaucoma. A iniciativa visa informar o público sobre os fatores de risco, sintomas e a importância dos exames oftalmológicos regulares para detectar o glaucoma precocemente.
A Sociedade Brasileira de Glaucoma (SBG) desenvolveu uma campanha com materiais educativos, como cartilhas para pacientes, materiais de apoio aos oftalmologistas para incentivar eventos locais e vídeos curtos explicando todos os aspectos da doença, para disseminar o conhecimento, promover exames regulares e ampliar o acesso ao tratamento para garantir uma visão saudável para todos.
Onde e como buscar atendimento oftalmológico pelo SUS
Centros públicos de referência em oftalmologia:
O Sistema Único de Saúde (SUS) dispõe de Unidades de Atenção Especializada em Oftalmologia e Centros de Referência em Oftalmologia habilitados para o atendimento de pacientes com glaucoma. Esses estabelecimentos possuem condições técnicas, instalações físicas, equipamentos e recursos humanos específicos para o atendimento oftalmológico.
Entre os principais centros estão:
- Hospitais universitários vinculados às universidades federais;
- Hospital de Olhos de Sorocaba (SP) – referência nacional;
- Instituto Benjamin Constant (RJ);
- Fundação Altino Ventura (PE);
- Hospital São Geraldo (MG);
- Hospital das Clínicas da USP (SP);
Como agendar consulta e exames pelo SUS:
- Vá até a Unidade Básica de Saúde (UBS) mais próxima da sua residência. O clínico geral ou médico da família fará o primeiro atendimento e, se necessário, encaminhará para o oftalmologista.
- Outra opção é utilizar o portal Meu SUS Digital ou o aplicativo, disponível para Android e iOS, onde é possível verificar a disponibilidade de consultas, exames e acompanhar o andamento do encaminhamento.
- Algumas prefeituras também oferecem serviços de agendamento online diretamente em seus sites.
Documentos necessários:
- Documento de identidade (RG ou CPF);
- Cartão SUS;
- Comprovante de residência.
Importante: Pacientes diagnosticados com glaucoma têm direito ao acompanhamento contínuo, inclusive com fornecimento gratuito de colírios e realização de exames periódicos, de acordo com o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) do Ministério da Saúde.