Moradora do bairro Rio Branco, Anelise Corrêa observou surgir, do dia para a noite, um pequeno lixão a céu aberto na Rua Cairu. Ela conta que bastou uma noite de sono para que a área próxima de casa acabasse tomada de lixo.
Foto: LEANDRO DOMINGOS/GES-ESPECIAL
“Eu não sei quem foi o imbecil, mas sei que fui dormir tranquila e, quando acordei, estava cheio de lixo e moscas quase na esquina de casa”, lembra a costureira com 49 anos. “Depois, mais gente começou a jogar lixo. O monte só cresce”.
O problema do lixo descartado irregularmente em Canoas é conhecido e aborrece a população da cidade há anos. Contudo, uma postagem do prefeito Airton Souza, na véspera de Páscoa, gerou expectativa quanto a solução.
Foi no sábado (19) que o prefeito gravou um vídeo sobre entulhos espalhados pela Rua República. Ao mandar um recado aos “porcalhões”, ele apontou uma multa de R$ 1.097,50 a pessoa que espalhou o lixo.
“Tenho um recado para os porcalhões, aqueles que largam lixo na rua”, avisou. “Estamos começando a multar todo o cidadão que for pego largando lixo de maneira irregular.”
Mobilização
Secretário municipal de Serviços e Zeladoria Urbana, Sergio Giugno explica que a Prefeitura de Canoas tem uma estratégia clara para mudar a cultura enraizada em Canoas de lixo descartado em qualquer lugar.
Além das multas aplicadas, há discussões em torno da ampliação do número de ecopontos, reforço na fiscalização com a Guarda Civil e aumento das câmeras de vigilância em pontos considerados estratégicos para flagrar o descarte.
“Acontece que já flagramos empresas vindo de Porto Alegre e até de Alvorada largar lixo em Canoas”, explica. “Também tem gente abrindo o porta-malas do carro e despejando lixo em qualquer lugar.”
A questão é complexa, admite o secretário, mas ele garante que existe vontade política para mudar.
“Foi discutido que haverá uma campanha de conscientização muito forte em Canoas, esclarecendo que não será permitido o descarte na calçada nem de material de obras do próprio canoense. Depois disso, quem larga material na frente de casa, também será cobrado.”
República é alvo constante dos “sujões”
Não à toa, uma multa ocorreu na Rua República. Se antes a Avenida Engenheiro Irineu Carvalho Braga somava o maior número de lixões de Canoas, hoje a República é alvo constante.
O ponto que fica entre a República e a Araçá é historicamente alvo de toda e qualquer porcaria, segundo os próprios moradores que vivem no bairro Harmonia.
“É lamentável que quem passa por aqui pensa que somos nós, os moradores, quem largam todo o lixo à beira da estrada”, reclama Cleonice Barcelos. “Param de carro e largam de tudo. Até bicho morto”, aponta a pensionista com 61 anos.
Trabalhando na secretaria de uma igreja, Mara Alves, 43 anos, reclama que o odor é insuportável, especialmente em dias mais quentes, algo prejudicial especialmente para as crianças.
“Triste é ver as crianças passando e algumas até brincando no meio desse lixo”, desabafa. “Nunca vi tanto relaxamento.”
Prefeitura quer multas mais pesadas
As multas são baseadas na Lei Municipal Nº 4.980 de 19 de maio de 2005, que institui o Código Municipal de Limpeza Urbana. Denúncias contra o descarte irregular podem ser encaminhadas para o número (51) 982552777. Qualquer um pode encaminhar fotografias e vídeos, sem que seja divulgado qualquer dado do denunciante.
Na avaliação da Administração, as multas permanecem brandas, razão pelo qual serão discutidas punições mais severas, com um posterior projeto a ser encaminhado para aprovação.
“Estamos aplicando as multas, mas elas são brandas no comparativo com o prejuízo que temos para limpar”, explica o secretário Sergio Giugno. “Estamos estudando multas mais pesadas, porque sabemos que só assim o assunto passará a ser levado a sério”, adverte Sergio.
Entulhos
Quem recorda do período após as cheias de maio do ano passado, quando a água baixou e a população retomou moradias, não esquece das montanhas de entulhos acumuladas em frente a residências.
No bairro Fátima, volta e meia, ainda é possível observar moradores retornando e, como consequência, removendo de dentro de casa o material deteriorado devido às inundações que atingiram Canoas.
O problema, explica a confeiteira Luciane Khote, 35 anos, é que, passados os meses, qualquer acúmulo de lixo parece abrir um precedente para que mais um lixão ao ar livre possa ser aberto.
“Imagina que o meu vizinho veio só para tirar as coisas de casa, colocou tudo na calçada e, dias depois, com os móveis eletros estragados, havia uma porção de lixo que outras pessoas resolveram aproveitar e jogar em cima”, lamenta. “É um absurdo isso.”