Beneficiária do Bolsa Família tem conta da Caixa Econômica zerada e diz: ‘Não conseguia comer’


Banco disse que as contestações são analisadas e, nos casos considerados procedentes, o valor é ressarcido. O dinheiro da vítima foi devolvido cinco dias depois do ocorrido. Jovem denunciou Pix feito no nome dela para desconhecido em Itanhaém (SP)
Arquivo pessoal e Imagem Ilustrativa/Pixabay
Uma moradora de Itanhaém, no litoral de São Paulo, denunciou uma transferência indevida de R$ 600, recebidos do programa Bolsa Família. Leticia Rosendo da Costa afirma não ter feito a transação, que zerou a conta dela e a deixou sem ter dinheiro para comer. O valor foi devolvido pela Caixa Econômica Federal somente cinco dias depois.
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Assim como Leticia, de 26 anos, beneficiários de diferentes regiões do país, incluindo Ceará e Rio de Janeiro, foram afetados pelo mesmo problema. Mariana Paixão, especialista em Direito Digital, acredita que as pessoas tenham sido vítimas de um vazamento de dados de clientes do banco.
A jovem foi dormir na última quarta-feira (21) e, por volta de 7h40 do dia seguinte, acordou com uma notificação no celular. Segundo ela, a mensagem dizia que havia feito um Pix a um desconhecido, o que a mulher nega.
“Eu já comecei a entrar em pânico, e acordei o meu marido. De imediato, a gente pegou e foi na delegacia”, disse.
Assim que chegou ao 1º DP de Itanhaém, ela foi orientada a ir ao banco para pegar o extrato detalhado da conta. Na agência, Letícia contou ter encontrado outras duas mulheres se queixando da mesma situação.
‘Não conseguia fazer nada’
Com o extrato em mãos, Leticia voltou à unidade policial e registrou o boletim de ocorrência. O valor debitado sem consentimento foi restituído na última terça-feira (27), mas a resolução não a acalmou completamente.
“O dinheiro foi estornado, graças a Deus, mas e o que eu senti esses dias todos? Eu não conseguia comer, não conseguia fazer nada. O valor para algumas pessoas pode ser pouco, mas para a gente que realmente está numa situação delicada, difícil, ajuda bastante”, desabafou.
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP) disse que a Polícia Civil prossegue com as diligências para identificar e prender os suspeitos. “Demais detalhes serão preservados para garantir a autonomia ao trabalho policial”, diz o texto.
Vazamento de dados
Pessoa mexendo no celular
Reprodução/TV Gazeta
Segundo a advogada Mariana Paixão, normalmente os golpistas conseguem entrar na conta bancária de um cliente quando o celular é violado por um vírus ou a vítima clica em um link suspeito que dá acesso às informações.
Nos últimos dias, porém, beneficiários da Caixa de diversas cidades do país têm apresentado queixas semelhantes. “[O número de ocorrências] está sendo bem expressivo, e justamente com os beneficiários do Bolsa Família. Então, o que praticamente é certeza de que aconteceu?”
“Teve algum tipo de vazamento de dados e os golpistas conseguiram invadir o sistema da Caixa Econômica Federal”, acredita a especialista.
Ela ressaltou que a instituição bancária deve ser responsabilizada, pois a hipótese de negligência do beneficiário não é aplicada nessa situação. Então, quem desejar pode adotar as medidas judiciais cabíveis.
O que diz a Caixa?
Por meio de nota, a Caixa Econômica Federal esclareceu que, em caso de movimentação não reconhecida pelo cliente, é possível realizar pedido de contestação em uma das agências do banco com CPF e documento de identificação.
A instituição diz trabalhar em conjunto com os órgãos de segurança pública nas investigações e operações que combatem fraudes e golpes. A instituição financeira também afirmou monitorar ininterruptamente seus produtos, serviços e transações bancárias para identificar e investigar casos suspeitos.
“As contestações são analisadas de forma individualizada e, considerando os detalhes de cada caso, para os casos considerados procedentes, o valor é ressarcido”, disse a Caixa, em nota.
🚨Veja algumas orientações:
A Caixa não envia SMS com link, apenas e-mails, se o cliente autorizar;
Não forneça senhas ou outros dados de acesso em outros sites ou aplicativos;
O cliente deve estar sempre atento a qualquer atividade e situação não usual e, principalmente, não clicar em links recebidos por SMS, WhatsApp ou redes sociais para acesso a contas e valores a receber;
Desconfie de informações sensacionalistas e de “oportunidades imperdíveis”;
Links suspeitos podem levar à instalação de programas espiões, que podem ficar ocultos no celular ou computador, coletando informações de navegação e dados do usuário;
Utilizar sempre navegadores e softwares de antivírus atualizados;
A Caixa jamais pede senha e assinatura eletrônica numa mesma página, sendo a assinatura digitada somente por meio da imagem do teclado virtual;
Senhas e cartões são pessoais e intransferíveis. Senhas bancárias não devem estar disponíveis em aparelhos celulares ou computadores;
A Caixa não faz ligações telefônicas solicitando a instalação de aplicativos e orienta seus clientes que não insiram usuário ou senha de acesso em sites e aplicativos que não sejam desenvolvidos pela instituição.
Como recuperar a conta?
A advogada, especialista em crimes digitais, disse que para recuperar a conta é necessário fazer todos os procedimentos, incluindo envio de biometria facial.
Se não der certo, o usuário pode ingressar nos órgãos de defesa do consumidor, como Procon e o site Reclame aqui. “Infelizmente, em alguns casos só é possível fazer a recuperação através de via judicial. Dessa forma, é necessário entrar com um pedido de urgência para que o juiz determine a recuperação da conta sob pena de multa”.
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