Eventos climáticos extremos deste ano podem se repetir em 2025? Relembre o que aconteceu em 2024 e as projeções para os próximos meses

O clima de 2024 ficará para sempre na lembrança de quem estava no Rio Grande do Sul e também daqueles que acompanharam, mesmo de longe, os impactos da maior catástrofe já registrada no Estado. Porém, não foi só no RS que o ano foi de extremos. Em todo o mundo, fenômenos climáticos deixaram traços de destruição e antes de acabar oficialmente, 2024 já é considerado o ano mais quente da história.

Enchentes atingiram o Rio grande do Sul em maio de 2024. Na imagem, São Sebastião do Caí | abc+



Enchentes atingiram o Rio grande do Sul em maio de 2024. Na imagem, São Sebastião do Caí

Foto: Isaías Rheinheimer/GES-Especial

Para relembrar os principais acontecimentos climáticos de 2024, explicar os fenômenos registrados e trazer algumas previsões para 2025, a reportagem conversou com os meteorologistas Estael Sias, da MetSul Meteorologia, e Daniel Caetano, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Ambos usam a mesma expressão para explicar as enchentes de maio: “tempestade perfeita”. Mas o que significa a expressão? 

“Tudo o que podia ter de indicador que trouxesse mais chuva aconteceu ao mesmo tempo. Nós tivemos Super El Niño. Nós tivemos todos os oceanos do planeta mais quentes, algo que, até então, não tínhamos trabalhado com essa condição”, relata Estael.

Conforme Caetano, foram várias tempestades que causaram um grande volume de chuva. “O estabelecimento do El Niño, que favorece o fluxo de umidade, o maior volume de água presente na atmosfera aqui, sobre a Região Sul do Estado, e nós tivemos a sucessão de temporais em função de bloqueios atmosféricos.”

Ano mais quente, mas com dias de mínima bem abaixo de zero

Apesar de 2024 ter sido o ano mais quente da história, não quer dizer que só registrou temperaturas altas. Os meses foram marcados por extremos nas temperaturas, com dias muito quentes, como o dia 13 de fevereiro, que teve máxima de 40.3ºC em Campo Bom, e muito frios, como o dia 6 de julho, que teve mínima de -7,3°C em Pinheiro Machado, no Sul do RS.

“Essa variação entre um tempo quente e um tempo frio é normal. O que as mudanças climáticas fazem é intensificar tanto as ondas de calor quanto as ondas de frio. O que a gente tem observado é que as ondas de calor são mais persistentes e as ondas de frio são menos persistentes, têm menos duração de dias”, comenta Caetano.

Fumaças das queimadas

Além das enchentes, outro fenômeno que chamou atenção este ano foi a chegada das fumaças, vindas das queimadas da Amazônia, ao Sul do continente, entre agosto e outubro. “A Região Central do Brasil estava em um período de seca muito intenso aliado a focos de incêndio. Tínhamos uma quantidade muito grande de fumaça sendo lançado para a atmosfera”, descreve o meteorologista da UFSM.

Conforme Estael, a fumaça foi resultado do prolongamento da estação seca no Centro-Norte do País, pois, com o El Niño, choveu menos no bioma amazônico. “Várias semanas com baixa visibilidade, com impacto na visibilidade aqui no Rio Grande do Sul. Depois, a chuva preta, trazendo essa fuligem para a superfície. Em outros anos isso já havia acontecido, mas neste foi em um período um pouco mais longo do que anos anteriores por conta dessa escassez de chuva e pelo número recorde de incêndios na região.” 

Previsão para 2025

Quanto ao próximo ano, os especialistas defendem que ainda é cedo para dizer o que o esperar. Apesar disso, é baixa a probabilidade de uma catástrofe parecida com a de 2024. “Não tem nenhum indicador hoje que nos traga essa possibilidade para o ano que vem. Mas enchentes regionalizadas pegando um município, dois, três ou uma região, isso possivelmente poderemos ter. Não quer dizer que é uma previsão, mas eu diria que há essa possibilidade de inundações repentinas que acontecem até mesmo em anos de La Niña”, destaca Estael.

“É um fenômeno que vem a ocorrer a cada 80 ou 40 anos. É o que a gente chama de tempo de recorrência. A gente não espera a ocorrência de um episódio parecido com esse em 2025, mas, infelizmente, a gente não tem como descartar e isso só quem vai nos dizer é a previsão de tempo. Sempre por um horizonte de cinco ou sete dias adiante”, enfatiza o professor da UFSM.

Para 2025, a previsão para os primeiros dois meses é que a chuva fique entre dentro e levemente abaixo da média. Já as temperaturas ficarão acima da média. Com o início do ano já quente, o próximo ano poderá ser novamente de recorde na temperatura.

CLIQUE AQUI PARA RECEBER NOSSA NEWSLETTER

La Niña e El Niño

Para os próximos meses, é previsto que siga a neutralidade no Oceano Pacífico, ainda sem que se estabeleça um evento de La Niña.

A MetSul já havia adiantado nos últimos meses que não esperava que a La Niña se configurasse este ano. No começo de 2025, o Pacífico estará mais frio do que normal, mas sem La Niña nos primeiros meses. Até metade do próximo ano deve seguir essa condição de neutralidade. No segundo semestre, aumenta a probabilidade de um El Niño, mas que não começaria em 2025.

O alerta é que, quando não se tem um vetor definido de El Niño ou La Niña, indicadores secundários passam a ter maior importância. São indicadores como a oscilação antártica, por exemplo, que favorecem mais ou menos chuva, ciclones ou massas de ar frio.

“[O clima] fica mais suscetível às oscilações de curto prazo, o que traz um desafio maior para prognóstico de 2025. Neutralidade não significa normalidade, significa mais vulnerabilidade das condições atmosféricas a índices secundários e de curta duração, então isso pode trazer uma grande oscilação de condições atmosféricas”, explica a meteorologista da MetSul.

ENTRE NA COMUNIDADE DO JORNAL NH NO WHATSAPP

2025 será um ano de extremos?

Quanto ao extremos, tanto de chuva quanto de temperaturas, a previsão é de um novo ano de recordes. Nos últimos anos, os especialistas têm notado um aumento de extremos climáticos por todo o território global.

Os fenômenos têm ocorrido independentemente de El Niño e La Niña e são explicados pelas mudanças climáticas. “É algo que, infelizmente, vai fazer parte do nosso cotidiano”, afirma Estael.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.