Com isenção de IPVA, número de carros elétricos aumenta quase 4 vezes em dois anos e entra na mira da Tributação do RN


Lei criada no estado há mais de 20 anos isenta elétricos de imposto, mas Secretaria da Fazenda estuda possibilidade de revogação da regra. Venda de carros elétricos sobe no Rio Grande do Norte
Leide Duarte
O Rio Grande do Norte teve um aumento de quase quatro vezes no número de carros elétricos em menos de dois anos, segundo dados do Departamento Estadual de Trânsito (Detran).
Em dezembro de 2022, o estado tinha 427 veículos do tipo. Em um ano e meio, até o último dia 17 de junho, chegou ao total de 1.647 emplacamentos – um aumento de 285%. Mesmo os veículos mais baratos são vendidos a mais de R$ 115 mil.
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Além de ser isento do Imposto sobre Propriedades de Veículos Automotores (IPVA), o novo tipo de carro tem vendas alavancadas por marcas chinesas com estratégias agressivas e benefícios vantajosos, como garantia prolongada para as baterias – um dos itens que mais preocupam os novos usuários.
Porém, o rápido aumento da frota acendeu um alerta na área econômica do governo do estado, que estuda a possibilidade de elaborar um projeto para atualização da lei estadual, a fim de cobrar imposto dos veículos.
Somente em 2023, o estado deixou de arrecadar R$ 5 milhões em IPVA com os veículos elétricos comprados no estado. Metade do valor arrecadado com o IPVA pertence aos municípios.
Elétricos e eletrificados
Quando considerados também os carros eletrificados – conhecidos como híbridos, a frota de veículos registrados subiu de 1.343, em dezembro de 2022, para 3.356, em 17 de junho de 2024 – uma evolução de quase 150%. Os híbridos, no entanto, pagam IPVA.
Carros elétricos são os “plug-ins”, aqueles que conectam diretamente nos carregadores e a energia elétrica como única fonte de abastecimento.
Carros eletrificados incluem todos os veículos que têm motor elétrico, mas são híbridos (que também têm outros tipos de combustíveis).
Apesar do crescimento, a participação desses veículos na frota total do estado é de apenas 0,21%. Na capital, Natal, onde mais de 57% dos veículos elétricos e eletrificados está concentrada, eles são 0,43% da frota.
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Isenção na mira do governo
O aumento do mercado de carros elétricos movimentou a equipe da Secretaria da Fazenda, que está em fase de elaboração de um estudo que será encaminhado ao governo do estado. A área econômica do estado teme uma redução da arrecadação com a gradativa substituição dos carros a combustão pelos carros elétricos.
Segundo o coordenador da Assessoria Técnica da Secretaria da Fazenda do Rio Grande do Norte, Neil Armstrong de Almeida, a lei estadual que garante isenção de IPVA para os elétricos tem mais de 20 anos e não previa, na sua implantação, a presença desse tipo de veículo nas avenidas e estradas potiguares.
“Na época, praticamente inexistia carro elétrico. Os carros que a lei previa eram os usados em recreações, em atividades de hotéis, de empresas, veículos que não representavam uma parte significativa da frota. A legislação é de um cenário em que não se imaginava uma demanda dessa natureza”, disse.
De acordo com o coordenador, vários estados vizinhos, como o Ceará, já alteraram suas leis estaduais para prever a cobrança do imposto aos carros elétricos. No caso do estado vizinho, explica, a implantação foi gradual, começando com alíquota de 0,5% sobre o valor do veículo no primeiro ano, até chegar ao tradicional percentual de 3%.
Somente em 2023, segundo ele, o estado deixou de arrecadar R$ 5 milhões com o imposto de carros elétricos. Metade do valor do imposto pertence ao município onde o carro é cadastrado.
“Não só o estado, mas também os municípios atravessam um momento de grande dificuldade financeira e um aumento dessa frota, bem como a progressiva substituição dos modelos tradicionais, a combustão, pode gerar uma grande redução nessa receita. E as ruas e as estradas que eles vão rodar são as mesmas dos outros”, disse.
Apenas para complementar sobre a necessidade de revisão da legislação do IPVA para carros elétricos, considerando os veículos adquiridos até 2023 já representou uma renúncia em torno de R$ 5 milhões, devendo esse ano aumentar significativamente com o incremento das vendas
O coordenador ainda ressalta que há uma questão de justiça social envolvida. Na opinião dele, quem compra um carro elérico de R$ 300 mil tem mais condições de pagar o IPVA do que muitos outros cidadãos que só podem adquirir um carro popular ou uma moto e precisam pagar o imposto.
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Vantagens para o consumidor
O consultor Thales Samir Quirino, de 45 anos, que mora em Natal e trabalha há 20 anos prestando assessoria na compra e venda de veículos, adquiriu seu primeiro carro elétrico há cerca de seis meses. Um dos objetivos era conhecer melhor esse tipo de carro para poder indicar, ou não, aos seus clientes.
Com mais de 38 mil km rodados, ele afirma que está satisfeito e que o veículo atendeu seu perfil de uso, mas aponta que é necessário planejamento para ter uma boa experiência com os elétricos.
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Cedida
“O que me chamou atenção no carro elétrico, além da economia e da redução da poluição do meio ambiente, foi ter uma forma de combustível independente dessas constantes mudanças de preço da gasolina nos postos e o risco de comprar combustível adulterado. Nada disso ia me afetar. Estudei muito antes de comprar”, disse.
De acordo com o consultor, para ter uma melhor experiência, é importante que o usuário também tenha condição de instalar um carregador veicular em casa. Ter um sistema de energia solar no imóvel também é um diferencial na economia.
“Eu estimo que deixei de gastar cerca de R$ 30 mil nesse tempo. Além do combustível, tem o IPVA, que é isento. Seria mais de R$ 4 mil. Também tem o seguro, que a própria concessionária pagou, e as revisões”, pontuou.
Um dos pontos negativos, segundo Thales, é a demora para a chegada de novas peças, caso seja necessária a reposição, mas o consultor considera que a falta de equipamentos para pronta-entrega é um problema que atualmente afeta também os carros tradicionais.
Embora a infraestrutura de abastecimento esteja cada vez mais presente nas cidades, ele considera que poderiam ter uma evolução mais rápida, para atender uma demanda cada vez maior.
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