Espanha e França adotam medidas de segurança para proteger a população com níveis de poluentes cinco vezes menores do que no Brasil


O estudo avaliou os níveis de MP2,5 – partículas inaláveis – por microgramas em metro cúbico de ar. No Brasil, o estado de atenção se inicia quando o nível está em 125mcg/m3. Já na Espanha e França, o alerta é emitido quando os níveis estão em 25 mcg/m3. Segundo especialista, há medidas de diminuir circulação de ônibus, dar gratuidade no Metrô, entre outros. Tempo seco e camada de poluição que encobre o céu na cidade de São Paulo na manhã segunda-feira, 9 de setembro de 2024. No decorrer do dia o sol favorece a elevação das temperaturas, com máximas que podem chegar aos 33°C e índices de umidade atingindo valores críticos, abaixo dos 30%. Alerta-se que estas condições dificultam a dispersão de poluentes, além de favorecer a formação e propagação de queimadas, o que prejudica a qualidade do ar.
FÁBIO VIEIRA/FOTORUA/ESTADÃO CONTEÚDO
Uma pesquisa realizada pelo Instituto Ar, que comparou os níveis de poluição do Brasil com os de outros países, mostra que França e Espanha, por exemplo, emitem planos de ação para controle dos níveis de poluição quando os níveis de poluentes estão 5 vezes menores do que em território brasileiro.
O estudo avaliou os níveis de MP2,5 – que são partículas inaláveis – por microgramas em metro cúbico de ar. Além do Brasil, a determinação dos níveis críticos é encontrada nas leis nacionais do Chile, Colômbia, Equador e França. No México, os níveis são estabelecidos por região, não a nível nacional.
Poluição causada por fumaça de queimadas, poluentes e tempo seco na cidade de SP é inédita, diz Cetesb: ’40 anos e nunca vimos isso’
Governo de SP suspende autorização de queimada e recomenda evitar atividade ao ar livre e usar máscara
As partículas inaláveis são poluentes extremamente pequenos que podem penetrar nos pulmões, prejudicando a capacidade respiratória das pessoas, especialmente daquelas que possuem alergias respiratórias ou doenças como asma e bronquite. Elas também podem afetar a visibilidade na atmosfera.
O nível de atenção no Brasil se inicia com concentrações de 125mcg/m3, enquanto na Espanha e França é emitido com 25 mcg/m3, ou seja, o plano de ação para controle das emissões é iniciado quando a poluição está em um nível 5 vezes menor do que no Brasil. Na Colômbia, o país entra em estado de alerta quando as partículas estão com 38 mcg/m3.
O Brasil considera alerta quando o nível de partículas está acima de acima de 210 mcg/m3 e emergência, acima de 250.
Os níveis podem mudar de estado para estado, mas São Paulo segue os mesmos nacionais.
Comparando com outros países:
Chile:
Atenção: quando as partículas atingem entre 80 e 100
Alerta: precisa estar entre 110 e 169.
Emergência acima de 170.
Colômbia:
Atenção: quando as partículas atingem entre 38 e 55.
Alerta: precisa estar entre 56 e 150.
Emergência: Acima de 151
Equador:
Atenção: acima de 150
Alerta: acima de 250
Emergência: acima de 350
Espanha:
Atenção: acima de 25
Alerta: acima de 35
Emergência: acima de 50
França:
A França entra em estado de alerta quando o nível já está acima de 25 microgramas por metro cúbico de ar.
México:
Alerta: acima de 95,7
Emergência: acima de 150,4
Segundo a pesquisadora Evangelina Araújo, presidente do Instituto Ar, com o atual nível de poluição, o Brasil já deveria ter sido iniciada ações de prevenção.
“Esse nível do ar de São Paulo, por exemplo, causa já mortes precoces, toda a população já está sendo afetada pela poluição do ar. Poderia diminuir a circulação de ônibus, dar gratuidade no Metrô para as pessoas usarem o Metrô em vez de ônibus e carros particularidades”.
Na Colômbia, por exemplo, quando está em estado de alerta, o governo já inicia medidas como a suspensão das aulas e até mesmo evacuação dos locais mais afetados.
José Renato Nalini, secretário de Mudanças Climáticas da cidade de São Paulo, afirmou que as tendas de altas temperaturas são estratégias para lidar com a crise e que a pasta estuda criar centros de refúgios térmicos.
“Vamos fazer com que escolas, centro de educação unificadas, céus, clubes, todos os edifícios da prefeitura vão sofrer gradual alteração para ser refúgios térmicos”.
Qualidade do ar
Céu da cidade de São Paulo nesta segunda-feira (9)
Reprodução/TV Globo
Há dias encoberta pela poluição, a cidade de São Paulo tem apresentado índices preocupantes de qualidade do ar, com estações de monitoramento variando entre as classificações “ruim” e “muito ruim” para a concentração de partículas prejudiciais à saúde.
“Isso é inédito. Há quarenta anos (quando as medições automáticas começaram), a gente não tinha um cenário como esse. Aliás, nem sabíamos que íamos passar por esse cenário”, afirmou Maria Lúcia Guardani, gerente da divisão de qualidade do ar da Cetesb, à TV Globo.
A companhia ambiental do estado monitora os níveis de poluição na capital desde a década de 70, mas foi em 1985 que esse processo foi automatizado, com a instalação de equipamentos certificados e de referência mundial em diversas partes do município.
Pelas diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS), são 6 os poluentes monitorados: dióxido de enxofre (SO2), dióxido de nitrogênio (NO2), monóxido de carbono (CO), ozônio (O3), partículas inaláveis (MP10) e partículas inaláveis finas (MP2,5);
Os níveis de poluentes podem ser classificados em cinco categorias: boa, moderada, ruim, muito ruim e péssima;
É exatamente a concentração dessas partículas — com destaque para MP2,5 — que preocupa os especialistas. Na segunda-feira (9), 12 das 14 estações da Cetesb na capital paulista que monitoram esse poluente registraram índice médio “ruim” para ele. Aquelas localizadas na Marginal Tietê e no Parque Dom Pedro II ficaram com classificação “muito ruim”.
Em um cenário mais amplo, quando se olha a concentração anual de partículas inaláveis, os índices de poluição já foram piores na Grande São Paulo e vêm caindo ao longo das últimas quatro décadas, resultado da implementação de políticas públicas e da migração de indústrias para outras partes do estado e do país.
Contudo, os especialistas da Cetesb apontam que nunca houve índices tão ruins registrados em tantas estações de medição ao mesmo tempo, como tem ocorrido nesta semana.
Segundo o monitoramento da Cetesb, às 16h de segunda, o índice de qualidade do ar na região metropolitana atingiu níveis assustadores: 20 das 22 estações medidoras, o ar foi classificado como ruim ou muito ruim.
Incêndio atinge uma extensa área de vegetação próxima ao Pico das Cabras, no distrito de Joaquim Egídio, em Campinas (SP)
DENNY CESARE/CÓDIGO19/ESTADÃO CONTEÚDO
Segundo a companhia, esse cenário pode ser explicado pela soma de alguns fatores:
Queimadas: os poluentes liberados nas queimadas, tanto na região Centro-Oeste quanto no interior do estado, são arrastados por correntes de vento até a capital;
Tempo seco: além de estar em época de baixa incidência de chuvas, São Paulo também sofre com os efeitos de uma onda de calor que atua sobre parte do país;
Emissão de poluentes: as fontes de poluição “habituais”, como veículos e indústrias, seguem emitindo partículas e gases na atmosfera, que se misturam aos provenientes das queimadas.
“A gente nem consegue ver o nascer do sol. É a poluição indicando que não tá tendo dispersão [dos poluentes]. Enquanto não vier uma chuva pra lavar essa atmosfera, nós vamos ter dias muito severos, principalmente para a saúde de todos”, afirmou a especialista da Cetesb.
Recomendações para Saúde
Em cenários como o que a capital paulista vive, os especialistas recomendam algumas medidas para aliviar os incômodos causados pela poluição.
Aumentar o consumo de água;
Hidratar as narinas e os olhos com soro fisiológico;
Evitar atividades físicas ao ar livre entre o final da manhã e o final da tarde;
Umidificar o ambiente com toalhas molhadas ou aparelhos umidificadores;
Evitar permanecer em ambientes com aglomeração de pessoas
Adicionar aos favoritos o Link permanente.