Este artigo foi publicado originalmente em inglês no site The Conversation
Por John Deni
Os Estados Unidos há muito tempo desempenham um papel de liderança na Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), a aliança militar mais bem-sucedida da história.
Os EUA e outros 11 países da América do Norte e da Europa fundaram a Otan em 1949, após a Segunda Guerra Mundial. Desde então, a Otan ampliou seu quadro de membros para 32 países da Europa e da América do Norte.
Mas agora, líderes e políticos europeus temem que os Estados Unidos tenham se tornado um aliado menos confiável, o que representa grandes desafios para a Europa e, por consequência, para a Otan.
Essa preocupação não é infundada.
O presidente Donald Trump tem falado repetidamente sobre o desejo de tomar a Groenlândia, um território autônomo da Dinamarca, membro da Otan. Ele declarou que o Canadá, outro membro da Otan, deveria se tornar “o 51º Estado” norte-americano. Trump também se aliou à Rússia nas Nações Unidas e afirmou que a União Europeia (UE), o grupo político e econômico que une 27 países europeus, foi criada para “prejudicar” os EUA.
Durante décadas, políticos americanos liberais e conservadores reconheceram que os EUA fortalecem seus próprios interesses militares e econômicos ao serem líderes na Otan e ao manterem milhares de tropas americanas baseadas na Europa para garantir seu comprometimento.
Compreendendo a Otan
Os EUA, o Canadá e dez países da Europa Ocidental formaram a Otan há quase 80 anos como forma de ajudar a manter a paz e a estabilidade na Europa após a Segunda Guerra Mundial. A Otan ajudou os países europeus e norte-americanos a se unirem e se defenderem contra a ameaça outrora representada pela União Soviética, um antigo império comunista que caiu em 1991.
A Otan emprega cerca de duas mil pessoas em sua sede em Bruxelas. Não possui tropas próprias e conta com seus 32 países-membros para voluntariar suas próprias forças militares para conduzir operações e outras tarefas sob a liderança da Otan.
A Otan possui sua própria estrutura de comando militar, liderada por um oficial militar americano e incluindo oficiais militares de outros países. Essa equipe planeja e executa todas as operações militares da Otan.

Em tempos de paz, as forças militares que trabalham com a Otan conduzem exercícios de treinamento na Europa Oriental e em outros lugares para ajudar a tranquilizar os aliados sobre a força da coalizão militar e para dissuadir potenciais agressores, como a Rússia.
A Otan tem um orçamento anual relativamente pequeno, de cerca de US$ 3,6 bilhões. Os EUA e a Alemanha são os maiores contribuintes para esse orçamento, cada um responsável por financiar 16% dos custos da Otan a cada ano.
Independentemente do orçamento anual da Otan, em 2014, os membros da Otan concordaram que cada país participante deveria gastar o equivalente a 2% do seu Produto Interno Bruto (PIB) em sua própria defesa nacional. Vinte e dois dos 31 membros da Otan com forças militares deveriam atingir esse limite de 2% em abril de 2025.
Embora a Otan seja principalmente uma aliança militar, ela tem raízes nos interesses econômicos mútuos dos EUA e da Europa.
A Europa é o parceiro econômico mais importante dos Estados Unidos. Aproximadamente um quarto de todo o comércio dos EUA é com a Europa – mais do que os EUA têm com o Canadá, a China ou o México.
Mais de 2,3 milhões de empregos americanos estão diretamente ligados à produção de exportações que chegam aos países europeus que fazem parte da Otan.
A Otan ajuda a salvaguardar essa relação econômica mútua entre os EUA e a Europa. Se a Rússia ou outro país tentar intimidar, dominar ou mesmo invadir um país europeu, isso poderá prejudicar a economia americana. Dessa forma, a Otan pode ser vista como a apólice de seguro que garante a força e a vitalidade da economia americana.
O cerne dessa apólice de seguro é o Artigo 5, uma promessa de defesa mútua com a qual os países-membros concordam quando ingressam na Otan.
O Artigo 5 estabelece que um ataque armado contra um membro da Otan é considerado um ataque contra toda a aliança. Se um membro da Otan for atacado, todos os outros membros da Otan devem ajudar a defender o país em questão. Membros da Otan invocaram o Artigo 5 apenas uma vez, após os ataques de 11 de setembro de 2001 nos EUA, quando a aliança enviou aeronaves para monitorar os céus americanos.
Um compromisso vacilante com o Artigo 5
Trump questionou se aplicaria o Artigo 5 e ajudaria a defender um país da Otan se ele não estivesse pagando os 2% exigidos de seu produto interno bruto.
A NBC News também noticiou em abril de 2025 que os EUA provavelmente reduzirão dez mil ou mais dos quase 85 mil soldados americanos estacionados na Europa. Os EUA também podem abrir mão de sua posição de liderança militar na Otan, segundo a NBC.
Muitos analistas políticos esperam que os EUA mudem seu foco de segurança nacional da Europa para as ameaças representadas pela China – especificamente, a ameaça da China invadir ou atacar Taiwan.
Ao mesmo tempo, o governo Trump parece ansioso para restabelecer as relações com a Rússia. Isso apesar das atrocidades militares russas cometidas contra forças militares e civis ucranianos na guerra iniciada pela Rússia em 2022 e da intensificação da guerra híbrida da Rússia contra europeus na forma de ataques secretos de espionagem em toda a Europa. Essa guerra híbrida supostamente inclui a Rússia conduzindo ataques cibernéticos e operações de sabotagem em toda a Europa. Também envolve a suposta tentativa da Rússia de plantar dispositivos incendiários em aviões com destino à América do Norte, entre outras coisas.
Um papel mutável na Europa
As evidências disponíveis indicam que os EUA estão se afastando de seu papel na Europa. Na melhor das hipóteses – de uma perspectiva de segurança europeia – os EUA ainda poderiam defender seus aliados europeus com a ameaça potencial de seu arsenal nuclear. Os EUA possuem significativamente mais armas nucleares do que qualquer país da Europa Ocidental, mas não está claro se isso será suficiente para dissuadir a Rússia sem a presença clara de um grande número de tropas americanas na Europa, especialmente considerando que Moscou continua a perceber os EUA como o membro mais importante e poderoso da Otan.
Por esse motivo, reduzir significativamente o número de tropas americanas na Europa, abrir mão de posições-chave de liderança militar americana na Otan ou se afastar da aliança de outras maneiras parece excepcionalmente perigoso. Tais ações podem aumentar a agressão russa em toda a Europa, ameaçando, em última análise, não apenas a segurança europeia, mas também a dos Estados Unidos.
Manter a posição de liderança dos Estados Unidos na Otan e sustentar seus níveis de tropas na Europa ajuda a reforçar o compromisso dos EUA com a defesa de seus aliados mais importantes. Esta é a melhor maneira de proteger os interesses econômicos vitais dos EUA na Europa hoje e garantir que Washington tenha amigos a quem recorrer no futuro.
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