Cenas deploráveis na Política, infelizmente, em tempos de polarização ideológica e comportamental, já não são mais raras, não só no Brasil, mas também pelo mundo afora. A escola Trump, com armadilhas e falas truculentas em encontros que deveriam ter um mínimo de respeito e diplomacia, parece se espalhar pelo mundo.
A política, que deveria ser o caminho pelo qual o País discute e resolve civilizadamente seus conflitos, virou, infelizmente, um teatro (muitas vezes de horrores) e de piora das relações sociais e econômicas do País.
Foto: Geraldo Magela/Agência Senado
Ódio e ofensas são os únicos caminhos que alguns políticos parecem agora trilhar para “agradar” seus seguidores/eleitores, que, para piorar, apoiam esta linha que em nada contribui para a construção de algo bom para todos.
Em Brasília, o episódio lamentável com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, “convidada” pela Comissão de Infraestrutura do Senado para falar sobre licenciamento ambiental, demonstra o nível de desrespeito que toma conta do nosso País, um espelho das “redes sociais” cada vez menos sociáveis e carregadas de ódio e ataques violentos.
O presidente da comissão, senador Marcos Rogério, ao mesmo tempo que dizia alto no seu microfone “me respeite”, não respeitava uma ministra de Estado cortando o seu microfone e proferindo um retumbante “se ponha no teu lugar”, além de distribuir sorrisos irônicos, comprovando o clima nada convidativo para uma discussão construtiva sobre licenciamento ambiental, assunto, aliás, que avança de forma célere e preocupante em um Congresso que se alinha para as próximas eleições, com muitos políticos pensando somente na sua reeleição.
Encontro virou um teatro de ataques
A ideia do convite da comissão ficou claro com o andamento da sessão: o objetivo era atacar e enfraquecer a ministra, encaminhando a sua queda – algo que, vendo a atual agenda governamental de “toma-lá-dá-cá” para conseguir passar projetos no Congresso não pode ser totalmente descartada nos próximos meses.
Apesar de a ministra ponderar que não queria travar o desenvolvimento, mas ter estudo técnico para questões de impacto ambiental antes de construir uma estrada ou fazer exploração de petróleo, a agenda dos congressistas na terça-feira era de embate e não de debate.
Episódio de “tiro pela culatra”
Mas o tiro, neste caso, saiu pela culatra. O coro da condenação às atitudes dos parlamentares foi grande. Inclusive dentro do Senado. Claro que os seguidores da truculência e do descaso com a causa ambiental aplaudiram. Mas o desenlace final deste encontro foi infeliz aos senadores.
A sessão acabou com a ministra abandonando a sessão, em momento desencadeado pelo senador Plínio Valério (que já havia abordado uma questão sobre “enforcar” ela – “Imagine o que é tolerar a Marina seis horas e dez minutos sem enforcá-la”, falou ele em um evento empresarial, depois dizendo – um senador da República – que era só “uma brincadeira”), que fez coro com Omar Aziz nos ataques à ministra, dizendo que “a mulher merece respeito e a ministra não – por isso quero separar uma da outra”. Marina, bradando que era inseparável o fato dela ser mulher e ministra, exigiu que ele se desculpasse. Mas, ele se negou e disse que não a tinha ofendido.
A frase do senador foi de uma infelicidade e de uma falta de respeito que demonstra a incapacidade política que é apoiada na ferocidade verbal de outros colegas que parecem não medir mais palavras. Com apoio de seguidores vorazes pelos discursos de ódio, muitos políticos parecem ter perdido os limites, muitas vezes amparados na “imunidade parlamentar” criada por eles para falar o que bem entenderem “legalmente”.
Limites precisam ser respeitados
Não sou um defensor da intolerância do politicamente correto, mas é preciso entender os limites do respeito. Não dá para um senador desdenhar uma ministra de Estado – concordando ou não com sua ideologia – e usar palavras como se ponha em seu lugar a uma mulher negra que enfrentou muitos desafios para construir uma importante história na política nacional. Goste você ou não.
A falta de respeito entre os três poderes – Executivo, Legislativo e Judiciário – já está passando dos limites da civilidade, não só política, como social. E este exemplo não serve em nada ao País. Se as pessoas que ocupam cargos de poder não são capazes de promover um diálogo civilizado, o que dizer de um povo que sofre com com as sucessivas crises (econômicas, sociais, legais, morais) que o País atravessa.
Está na hora da demagogia dar lugar a uma consciência de que, se seguirmos pro este caminho de embates, vamos conhecer o fundo de um poço onde a desumanidade será a única (maldita) herança.