Oratório do século XVIII com pinturas de Guignard é exposto ao público pela primeira vez


Peça, que passou por análise de professor da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), pode ser vista no Museu Casa Guignard, em Ouro Preto. Oratório do século XVIII com pinturas de Guignard
Arquivo Theodoro de Hungria Machado
Uma peça imponente de madeira, de quase um metro e meio de altura, chama atenção de quem visita o Museu Casa Guignard, em Ouro Preto, na Região Central de Minas Gerais. Apesar do tamanho e do material rústico que lhe dá forma, a delicadeza da peça impressiona (veja vídeo abaixo).
É que grande parte da superfície está decorada com pinturas feitas pelo artista Alberto da Veiga Guignard. São desenhos de flores, folhas e arabescos feitos com tintas em tons claros e harmônicos.
“As linhas de força do móvel, preenchendo os interstícios, os espaços vazios, quase como se fossem ‘comentários’ sobre os elementos construtivos, como frisos, réguas e molduras”, disse o professor da Escola Guignard (UEMG), Adriano Gomide.
Oratório decorado por Guignard
O professor Adriano foi quem fez um estudo analisando as pinturas, procurando determinar se elas se encaixavam na produção de Guignard como um todo, cruzando informações repassadas pelos familiares dos donos originais da peça, fotografias, correspondências e documentos de pesquisadores que já se debruçaram sobre a obra do artista.
Depois de um ano e meio de análises, o estudioso concluiu que, mesmo não sendo uma peça assinada, é possível que as pinturas decorativas no oratório tenham sido feitas por Guignard.
Temporada em Itaipava
O oratório, que é feito de madeira entalhada, esculpida e policromada, pertence à família de Theodoro de Hungria Machado e, segundo ele, as pinturas decorativas no móvel foram feitas quando Guignard passou uma temporada na Fazenda Santo Antônio, em Itaipava, no Rio de Janeiro, à convite dos proprietários do local, Clara e Argemiro de Hungria Machado, avós de Theodoro, no verão de 1941.
Ainda conforme Theodoro, na mesma visita à fazenda, Guignard ainda pintou dois painéis sobre madeira a pedido de Lúcio Costa.
“Os painéis foram intitulados como ‘Paisagem Imaginária do Rio de Janeiro e Paisagem Imaginária de Minas Gerais’, onde no centro de um dos painéis vê-se com absoluta clareza a imagem da Fazenda Santo Antônio pintada no centro da composição”, disse Theodoro.
O herdeiro do oratório contou que ele permaneceu na fazenda entre 1941 e 2019, quando a propriedade foi vendida. Logo depois, Theodoro o levou para um restaurador de Niterói para fixar as pinturas e, em seguida, para duas galerias de São Paulo, onde esteve à venda, mas não foi arrematado.
Recentemente, Theodoro demonstrou ao prefeito de Ouro Preto, Angelo Oswaldo de Araújo Santos, o interesse de expor o oratório em um local público pela primeira vez. O lugar escolhido foi o Museu Casa Guignard, que fica na cidade histórica. Desde o início do mês de agosto, ele está exposto em forma de comodato e pode ser visitado até março de 2025.
De acordo com a coordenadora do Museu Casa Guignard, Wanalyse Emery, o Oratório das Flores é um exemplar da versatilidade artística de Guignard, que utilizava diferentes suportes e técnicas.
Além disso, é um “acervo único por se tratar de uma peça do século XVIII, porém, decorada na década de 40, cuja autenticidade remete a vida de Alberto da Veiga Guignard e suas relações interpessoais, em especial, com a família Machado Hungria”.
Cama e violão
O oratório pode ser visto no museu ao lado dois objetos — uma cama e um violão — que também têm pinturas decorativas de Guignard. A cama pertencia a Patrícia, filha do casal Lúcia Machado e António Joaquim de Almeida, amigos do artista e que o acolheram durante parte da vida de Guignard em Belo Horizonte. O nome de Patrícia está inscrito no centro da cabeceira do móvel junto a um coração vermelho.
Cama decorada por Guignard
De acordo com a descrição das pinturas no site do Acervo Digital do Museu Casa Guignard, “toda a estrutura da cama é decorada por grafismos em traços finos, geometrizados, nas cores branca, azul, amarelo e vermelho. A pintura na cabeceira apresenta paisagem ao ar livre, com vegetação e montanhas onde se vê ao fundo perfil de igreja e nuvens”.
O violão foi decorado para Ângela Nelson de Senna, que tem como data provável o ano de 1949. Segundo a descrição da peça no site do Acervo Digital do Museu Casa Guignard, ele tem “decoração com motivos florais, igreja, inscrições e linhas, no campo da caixa harmônica e no braço. No canto superior esquerdo da caixa harmônica, consta inscrição ‘ANGELA’, ao centro na parte inferior da caixa harmônica, inscrição ‘Guignard’”.
Violão decorado por Guignard
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