Um ano após a enchente, as ruas tomadas pela água dão lugar aos moradores atingidos mobilizados em uma manifestação. Neste sábado (3), canoenses dos bairros do lado oeste de Canoas se reuniram em dois pontos da cidade para apresentar suas demandas para o poder público.
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Foto: Paulo Pires/GES
Um grupo de moradores do Harmonia, Rio Branco, Fátima, Mathias Velho, Mato Grande e Cinco Colônias marcaram o encontro no Parque Esportivo Eduardo Gomes. O ato se apoia em uma carta de reivindicações que tratam desde a limpeza da cidade e obras até a assistência psicológica às famílias afetadas, como elenca o aposentado Adair Barcelos, 72 anos.
“Os principais são os diques, aluguel social e restruturação da Defesa Civil. E principalmente, uma coisa que está nos preocupando muito, é uma insegurança em relação ao andamento destas questões. Nós sabemos que falta projeto, falta recurso e as obras estão indo num ritmo muito lento.”
Para o morador do Harmonia, a população estava ocupada, e ainda está, com a reconstrução de suas casas e de suas vidas. “Depois de um ano do evento, queremos mostrar que estamos preocupados, que estamos inseguros, e que nós queremos participar do andamento do processo todo. Hoje, quem menos sabe disso tudo são os moradores”, afirma.
O empresário Ronei Krolow, 51, morador do Cinco Colônias comenta que a comunidade não vê avanço nas obras de proteção contra cheias. “O que tange o ato em si é a falta de transparência. A população não sabe dos projetos. Quando chegar no inverno que é época de chuva, aumenta a preocupação de quem já foi atingido.”
Foto: Paulo Pires/GES
Essa é a aflição da família da Lisiele Corrales, 39. “Fomos atingidos e boa parte das coisas que temos direito não conseguimos ter acesso, como assistência psicológica”, desabafa a moradora do Mato Grande. Ela, o marido e os três filhos ficaram em cima de uma laje, foram socorridos por voluntários e ficaram um mês em abrigo. “Eu tenho uma filha especial que não dorme quando chove. Não esquecemos o que aconteceu e parece que foi ontem”, conta.
“Ficamos sem nada e até hoje não temos coragem de comprar muita coisa. Estamos cobrando de quem deveria nos assistir, dar a mão. Mas ficam jogando a responsabilidade de um lado para o outro”, conclui.
“Nós precisamos ter paz”, diz moradora
Em outro espaço muito atingindo da cidade, a comunidade se reuniu na Avenida Irineu Carvalho Braga, em frente à Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Paulo VI, no bairro Fátima. Organizado pela Comissão SOS Fátima/Rio Branco, a manifestação cobrou a liberação de recursos do governo estadual.
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Foto: Paulo Pires/GES
“Começamos a nos organizar e marcávamos reunião com o prefeito, secretário de obras e começamos a ver os projetos com a nossa equipe técnica. Vimos que tudo está ok. Canoas estava com as licitações em dias, projetos e anteprojetos tudo pronto. Então, agora é o momento de cobrar do governo do Estado. Sem dinheiro nós sabemos que a reconstrução não vai acontecer”, declara a presidente da comissão, Claudia Burtet.
A cobrança ao governador Eduardo Leite está expressa nos cartazes colocados em frente à escola. “Além da nossa dignidade, nós precisamos ter paz. Nós não podemos mais a cada pingo de chuvas, os animais entram em desespero, nós entra em desespero. Se chove dois dias, não dormimos dois dias”, completa Claudia.
Foto: Paulo Pires/GES
Presente no ato, a moradora do bairro Greicy Costa, 34, relembra o que aconteceu um ano atrás. “Ligamos para a Defesa Civil e disseram que não era para evacuar. E eu tenho pais idosos, foi difícil sair e quando saímos só pegamos documentos, poucas roupas. Pensei que iam ser só três dias fora, mas ficamos dois quase três meses em casa de parente. Quando voltamos, foi difícil também porque a vontade era de não voltar, mas não tem para onde ir.”
Reunião com o Estado
A liberação de verbas pelo governo estadual virou cobrança dos parlamentares canoenses. O vereador Eric Douglas, presidente da Câmara Municipal, está organizando uma ida até o Palácio Piratini, em Porto Alegre, nesta terça-feira (6). O ato deve contar com a participação dos demais integrantes do Legislativo e da comunidade.
E eles não são os únicos. O aposentado Adair Barcelos e o empresário Ronei Krolow integram um grupo que quer formar um comitê de moradores atingidos pela enchente. A intenção é levar as demandas para todas as esferas possíveis em busca de soluções. “A ideia é ter representação de todos os bairros atingidos e acompanhar as ações da Prefeitura. Ainda não definimos um número, mas vamos jogar em todas as frentes”, diz Adair.
O que diz a Prefeitura de Canoas
Um ano depois da enchente, a gestão municipal é outra. Após 100 dias de governo completados em abril, a Prefeitura de Canoas sob o comando de Airton Souza afirma que está trabalhando nos diques, em projetos habitações e na qualificação da Defesa Civil. Além disso, abriu consulta pública sobre demandas prioritárias.
No entanto, a administração não deixa também de cobrar o governo estadual a respeito da destinação de verba. “O Plano Diretor do município está em processo de diagnóstico e também será revista a legislação urbana. Quanto aos recursos que serão destinados a Canoas, o Município ainda aguarda o repasse por parte do governo do Estado, responsável por gerenciar os valores advindos da União. Enquanto isso, há a promessa de Eduardo Leite para a inclusão, neste mês de maio, das obras dos diques da cidade no Fundo do Plano Rio Grande (Funrigs)”, diz em nota.