Divã high-tech: estudo mostra que terapia com IA tem efeitos contra depressão e ansiedade

A chegada da inteligência artificial nos faz olhar com seriedade e desconfiança para vários aspectos da nossa vida. E agora parece que a IA está tomando uma nova área. Um estudo publicado no NEJM AI do The New England Journal of Medicine demonstra como um chatbot de IA chamado Therabot pode melhorar os sintomas de quem sofre com depressão, ansiedade e transtornos alimentares. 

A pesquisa conduzida por especialistas da Escola de Medicina Geisel do Dartmouth College demonstrou que o Therabot foi capaz de reduzir significativamente os sintomas desses transtornos em um período de apenas oito semanas.

O estudo é o primeiro ensaio clínico randomizado (RCT) a comprovar a eficácia de um chatbot terapêutico totalmente baseado em inteligência artificial generativa no tratamento de sintomas clínicos relacionados à saúde mental.

Como o Therabot funciona?

O Therabot é um aplicativo baseado em texto, compatível com smartphones iOS e Android, projetado para conversar com usuários e oferecer suporte emocional. Ele utiliza modelos de linguagem de grande escala (LLMs), a mesma tecnologia usada por plataformas como ChatGPT, Google Gemini e Microsoft Copilot.

Estudo sugere que chat de IA pode ajudar a melhorar a saúde mental

O diferencial do Therabot está no seu conteúdo, que foi desenvolvido e revisado por especialistas em saúde mental, como psicólogos clínicos e psiquiatras, com base em métodos da terapia cognitivo-comportamental (TCC).

A TCC é uma abordagem psicoterapêutica amplamente reconhecida por sua eficácia no tratamento de condições como depressão, ansiedade e distúrbios alimentares. O objetivo central é identificar e modificar pensamentos disfuncionais e comportamentos prejudiciais, promovendo estratégias mais saudáveis de enfrentamento.

Resultados do estudo

A pesquisa envolveu 210 adultos com sintomas clínicos significativos de depressão, transtorno de ansiedade generalizada (TAG) ou transtornos alimentares. Os participantes foram divididos em dois grupos: um grupo de controle e outro que utilizou o Therabot. Em média, os usuários passaram mais de seis horas interagindo com o chatbot ao longo do estudo.

Os resultados foram animadores:

  • Redução de 51% nos sintomas de depressão;
  • Redução de 31% nos sintomas de ansiedade;
  • Redução de 19% nos sintomas de transtornos alimentares.

Além da melhora nos sintomas, os participantes avaliaram positivamente a experiência com o chatbot, considerando a interação comparável ao atendimento humano em muitos aspectos.

Os resultados animam, mas é preciso olhá-los com cautela

Apesar da inovação tecnológica e dos resultados encorajadores, o estudo apresenta limitações metodológicas relevantes, segundo especialistas em pesquisa clínica.

A amostra total de 210 pessoas é considerada pequena para estudos clínicos. Um grupo maior e mais diverso poderia oferecer dados mais robustos e permitir análises segmentadas por idade, gênero, histórico clínico e outros fatores importantes.

Além disso, o estudo durou apenas oito semanas, o que impossibilita qualquer afirmação sobre sustentabilidade dos efeitos no médio e longo prazo. Transtornos como depressão e ansiedade costumam ser recorrentes, exigindo tratamentos consistentes e acompanhamento contínuo.

Outro ponto importante a se observar é que o ensaio clínico não seguiu o modelo duplo-cego, considerado padrão ouro para pesquisas científicas. Todos os participantes sabiam que estavam usando um chatbot e que faziam parte de um experimento, o que pode gerar um viés de expectativa, ou seja, a melhora relatada pode ter sido influenciada pela crença de que o tratamento funcionaria.

No entanto, a experiência com o Therabot já aponta para uma revolução no modo como cuidados com a saúde mental podem ser oferecidos. 

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