GRAMADO: Como drenagem “radical” ajudou a frear deslizamentos de terra em loteamento

A maior parte dos moradores do Loteamento Orlandi, no bairro Várzea Grande, em Gramado, poderá retornar para casa na próxima semana.

Com intervenções desde o final de maio para frear os deslizamentos de terra, as obras se mostraram promissoras e tiveram resultados positivos, conforme estudos da BSE Engenharia.

Loteamento Orlandi, em Gramado, recebe intervenções para conter deslizamentos



Loteamento Orlandi, em Gramado, recebe intervenções para conter deslizamentos

Foto: Mônica Pereira/GES-ESPECIAL

A empresa, especializada em geotecnia, foi contratada pela Prefeitura para os estudos e indicação do que poderia ser realizado para estancar a movimentação de massa que estava acontecendo na área, desde novembro do ano passado, mas que aumentou com as fortes chuvas de abril e maio.

Rachaduras apareceram nas vias e nas casas, fazendo com que os moradores tivessem que sair das residências em maio, após interdições da Defesa Civil.

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Como foi a investigação do solo

Loteamento Orlandi, em Gramado, recebe intervenções para conter deslizamentos



Loteamento Orlandi, em Gramado, recebe intervenções para conter deslizamentos

Foto: Mônica Pereira/GES-ESPECIAL

Como a investigação havia iniciado naquela época, no dia 17 de maio, foi apresentada aos moradores a proposta de uma intervenção “radical” de drenagem, que tinha o intuito principal de preservar os lotes existentes. Após dois meses de trabalho, o solo se tornou mais estável, de acordo com o engenheiro civil Eduardo Simões.

Na noite da segunda-feira (22), uma nova reunião ocorreu, desta vez, para apresentar os resultados obtidos até o momento. Eduardo destaca que foram 13 furos de sondagem realizados no loteamento para os diagnósticos.

“Alguns atingindo 25 metros de comprimento e não pegando rocha, ou seja, a rocha está mais abaixo”, declara, ressaltando que um dos fatores de atenção é uma camada argilosa mole, com cerca de oito metros de espessura e que está a aproximadamente 18 metros de profundidade.

Solução foi drenagem “radical”

Moradores do Orlandi foram informados das análises



Moradores do Orlandi foram informados das análises

Foto: Divulgação

Para fazer a drenagem de toda a água existente no subsolo, em três diferentes níveis, trincheiras (valas) foram abertas por toda a extensão do loteamento para auxiliar no escoamento da água. Mesmo com dias consecutivos sem chuva, ainda há água escorrendo por essas trincheiras. O profissional pondera que a meio metro de profundidade já se encontrava água e com pressão.

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Toda essa água passando pelo solo causou dois movimentos de grande porte. “O loteamento teve deslocamentos da ordem de 30 centímetros somente entre o dia 29 de abril e 3 de maio. Se a gente pegar o histórico, desde novembro, chega da ordem de 60 a 70 centímetros”, declara Eduardo.

“A drenagem foi uma intervenção de grande porte, com máquina escavando trincheiras de sete a oito metros de profundidade”, afirma o profissional, reiterando que isso foi fundamental para estabilizar o movimento.

“Mesmo com o pico extremo de chuva de junho, tivemos uma taxa muito baixa. O movimento ainda não parou, existem pequenos movimentos residuais e vamos fazer intervenções pontuais para estancar de vez”, atesta. 

Intervenções vão continuar

Loteamento Orlandi, em Gramado, recebe intervenções para conter deslizamentos



Loteamento Orlandi, em Gramado, recebe intervenções para conter deslizamentos

Foto: Mônica Pereira/GES-ESPECIAL

Segundo Eduardo, a movimentação está na casa de 1,6 centímetro por mês. Para cessar de vez, serão instalados poços e drenos horizontais profundos, os DHPs. Os poços terão funcionamento de três a quatro meses e depois poderão ser usados caso necessário. Já os DHPs, vão atravessar o lote, com canos de PVC, que auxiliarão no escoamento da água nos locais críticos.

De acordo com a Prefeitura, cerca de R$ 900 mil foram gastos com materiais, além de R$ 872.146,10 para contratação da BSE Engenharia, incluindo monitoramento, diagnósticos e colocação de equipamentos para investigação do subsolo e dos deslocamentos.

Dados para obras assertivas

Cristiane Bandeira



Cristiane Bandeira

Foto: Mônica Pereira/GES-ESPECIAL

O loteamento tem cerca de 60 lotes, mas alguns deles com mais de uma edificação. Neste primeiro momento, nove não terão autorização para retornar, pois ficam em ponto de ruptura do solo, em área considerada crítica.

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A Corsan está atuando no loteamento para refazer a rede de abastecimento de água, o que deve ocorrer até esta sexta-feira, dia 26. Depois disso, as equipes técnicas devem realizar uma vistoria no local e, então, autorizar o retorno dos moradores.

A secretária do Meio Ambiente, Cristiane Bandeira, declara que a intenção no início era salvar o loteamento, que estava condenado, porém, atualmente, a maioria das casas também poderá ser habitada novamente, com pequenas intervenções. Inclusive, não há a recomendação de que os moradores façam grandes obras até a conclusão dos estudos.

“A gente ainda vai seguir monitorando o loteamento por 12 meses. Contudo, até dezembro, a gente tem uma expectativa de que o loteamento se estabilize e não se mova mais”, aponta Cristiane. Depois desse prazo, devem ser reavaliadas as estruturas das casas que estão nos pontos mais críticos e que tiveram danos.

Para Cristiane, o momento é positivo, pois havia previsão de retorno somente em meados de dezembro. “Foram três reuniões muito importantes para que a gente pudesse informar tudo que estava acontecendo de forma oficial. Os estudos, sondagens, topografia, toda a investigação do subsolo foram fundamentais para conseguirmos chegar com um posicionamento técnico de que o loteamento foi salvo e as casas, na sua grande maioria, estão salvas”, atesta.

Segundo a secretária, saber as causas dos deslizamentos é primordial para que as obras sejam executadas de forma segura. “A gente precisa desses dados para que possamos ser assertivos”, diz. 

Cobrança de ações

Patricia Lapa



Patricia Lapa

Foto: Mônica Pereira/GES-ESPECIAL

A representante da associação de moradores do loteamento, Patricia Lapa, conta que a comunidade não esperava poder retornar em julho, já que a previsão era no final deste ano. “No entanto, observamos que as obras estavam progredindo de forma acelerada”, destaca.

“Recebemos diariamente questionamentos, dúvidas e preocupações, compreensíveis diante da situação que enfrentamos. Pedir paciência neste momento é difícil, mas com calma e transparência, temos trabalhado para alinhar informações com o poder público. Inicialmente, não esperávamos uma resposta positiva tão rápida. Reconhecemos o esforço de cada um para proteger seu patrimônio. A batalha não acabou. Continuamos firmes no nosso compromisso”, alega.

A comunidade agora aguarda a divulgação do novo mapa confirmando a liberação das residências, previsto para a segunda-feira (29).

“Antes dessa catástrofe, éramos vizinhos que trocavam cumprimentos rápidos, mas agora nos conhecemos melhor e nos tornamos mais fortes juntos. Não tenho dúvidas de que a associação, juntamente com os moradores, atuará de forma acolhedora. Lembro a todos que o aluguel social será mantido até que o retorno definitivo seja possível. A associação continuará atenta e disponível para apoiar, seja através de informações ou cobrando ações efetivas”, pontua.

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