No dia 4 de abril de 1909, era fundado o clube que se tornaria uma das maiores paixões do Rio Grande do Sul: o Sport Club Internacional. Em 116 anos, o Colorado construiu uma trajetória vitoriosa, com títulos e momentos inesquecíveis acompanhados por uma das torcidas mais apaixonadas do País.
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Contudo, o Inter é uma paixão sem fronteiras que atravessa gerações. Em 2002, Jehad Talab Mohammad Falna, com 22 anos na época, chegou ao Rio Grande do Sul vindo da Palestina. Ele conta que, mesmo sem falar português, assistia jogos da dupla Gre-Nal, mas que percebeu que gostava de ver o Inter ganhar, “como se fosse algo internalizado”.
Foto: Arquivo pessoal
Ao ver a empolgação da torcida colorada, se sentiu tocado e, então, ao pesquisar a história do clube, as raízes sociais na origem do time porto-alegrense fizeram com que ele se tornasse um torcedor do Inter. O palestino chegou a ter cadeira locada no Beira-Rio e tornou-se sócio um frequentador assíduo de jogos no estádio.
O ilustre torcedor viu o doloroso vice-campeonato brasileiro para o Corinthians em 2005, mas também acompanhou a consagração colorada em 2006, com a conquista da primeira Libertadores e também do Mundial de Clubes. “Essas glórias inéditas só aumentaram o fervor do coloradismo dele”, conta Ayman Jehad Marques Falna, filho do palestino de coração colorado.
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Morador de São Leopoldo, Falna chegou a integrar o consulado do município do Vale do Sinos, o que o permitiu conhecer jogadores colorados. Em 2008, quase viajou para os Emirados Árabes para acompanhar o time do coração na Dubai Cup, vencida pelo time brasileiro que derrotou o Inter de Milão-ITA, por 2 a 1. “Só não foi porque minha mãe não deixou”, conta Ayman.
A paixão do pai pelo Inter foi transmitida ao filho. “Eu cresci colorado pela influência do meu pai, eu sempre fui no Beira-Rio antigo quando era pequeno”, lembra. Contudo, o jovem esclarece que o fanatismo pelo Clube do Povo foi uma vontade individual.
O pai, por questões pessoais, já não frequenta o Beira-Rio. Mas o filho vai ao estádio sempre que pode. Ayman conta que os dois assistem aos jogos juntos em casa sempre que possível. “Inclusive, ele ama me ligar quando não está em casa e eu estou assistindo na sala. Pergunta o placar em voz alta e zoa os amigos árabes dele que são gremistas”, detalhe.
O coloradismo na família continua. Além de Ayman, que já é colorado, o pai tem o desejo de associar o caçula, que completa 15 anos na próxima semana, ao Inter. Assim, o amor pelo Clube do Povo permanecerá em mais uma geração dos Falnas.
Origem de um clube para o povo
A origem do Inter está ligada à integração entre povos de diferentes nacionalidades. Na direção contrária de outros clubes de Porto Alegre na época, que eram voltados para descendentes alemães, o Colorado desde a sua origem acolheu diferentes etnias.
A fundação do clube foi conduzida pelos irmãos Henrique Poppe Leão, José Eduardo Poppe e Luiz Madeira Popp, que chegaram à capital gaúcha por volta de 1908, em meio à crescente do futebol no Brasil.
O berço do futebol colorado foi na região da ilhota, antigo bairro humilde. O campo da Rua Arlindo, que atualmente tem uma praça com nome do clube, foi onde aconteceram os primeiros treinos do Inter. Depois, o local sediou partidas da Liga da Canela Preta e também revelou grandes nomes do futebol brasileiro, como Tesourinha, ponta-direita que também defendeu as cores da Seleção Brasileira.
Por conta de constantes enchentes, o clube teve que mudar de sede e, em 1910, migrou para o Campo da Várzea, que hoje é o Parque da Redenção. A estadia no local durou pouco, e em 1972, o clube alugou a chácara do Eucaliptos, o primeiro local de jogos exclusivos do Colorado. Foi neste local que aconteceu a primeira senda de vitórias do Colorado, que venceu sequência do Campeonato Citadino entre 1913 e 1917.
Primeiras conquistas dentro e fora de campo
A segunda década colorada foi difícil, com poucos títulos e dificuldades financeiras. Porém, o time deu a volta por cima e, em 1927, conquistou seu primeiro título do Gauchão, que atualmente é o maior campeão da competição estadual, com 46 conquistas, sendo a mais recente em cima do maior rival, em março de 2025, quase 9 anos após seu último triunfo no campeonato.
Em 1931, o Inter inaugurou o Estádio dos Eucaliptos, no bairro Menino Deus. Logo na estreia, goleou o Grêmio por 3 a 0. Foi nessa fase que o time passou a consolidar-se como Clube do Povo, por conta da identificação com as classes mais humildes da sociedade gaúcha, das arquibancadas ao campo.
Foto: Acervo/SCI
Foi nesse período também que começou o surgimento do conhecido Rolo Compressor. Em 1938, goleou o Grêmio por 11 a 0, porém o resultado foi reduzido para 6 a 0 por ser considerado elástico demais para um clássico Gre-Nal, segundo o árbitro da época, Álvaro Silveira.
Primeira era dourada do Colorado foi na década de 1940, época de ídolos como Tesourinha e Carlitos, supremacia no clássico Gre-Nal, estádio lotado e torcedores marcantes como Vicente Rao e Charuto. Foi nessa fase que o clube se consagrou como Rolo Compressor.
Uma nova casa: lendário Beira-Rio
O torcedor colorado é um grande marco da história do clube. Em uma época em que um título nacional parecia distante para um clube fora do eixo Rio-São Paulo, o Inter deu início a um projeto: a construção de uma nova casa. O sonhado Gigante da Beira-Rio.
Foto: Acervo/SCI
Em meio às dificuldades financeiras, o clube viu seus torcedores doarem materiais de construção e também ajudar na mão-de-obra da construção do novo templo Colorado. Após três décadas no lendário Estádio dos Eucaliptos, em 6 de abril de 1969, o Beira-Rio, construído sobre as águas do Guaíba, foi inaugurado.
A partida de estreia da atual casa colorada foi diante do Benfica-POR. O time porto-alegrense venceu o jogo por 2 a 1. Com apenas 18 anos, o ídolo Claudiomiro eternizou seu nome na história ao marcar o primeiro gol do Estádio.
O Beira-Rio foi palco de cinco partidas da Copa do Mundo de 2014. Antes disso, o estádio colorado passou por uma reforma de modernização, iniciada em 2012 e concluída dois anos depois. O estádio foi reinaugurado em 6 de abril de 2014, em jogo contra o Peñarol-URU. O Inter venceu por 2 a 1, com gols de D’Alessandro.
A casa do Inter também foi palco de grandes conquistas, como as Libertadores de 2006 e 2010 e também a Sul-Americana em 2008. O Inter foi o primeiro clube brasileiro a conquistar a Sula e é o único time gaúcho a levantar este troféu.
Recentemente, o Beira-Rio foi impactado pela enchente que assolou o Rio Grande do Sul em maio de 2024. O clube teve um prejuízo milionário e precisou fazer um grande trabalho de recuperação. Foram mais de 100 dias jogando longe da sua casa e torcida, mandando jogos em outros estádios dentro e fora do território gaúcho. Contudo, a torcida sempre esteve ao lado do clube e o acompanhou por onde passou nesse período que teve que mandar jogos longe da Avenida Padre Cacique, 891.
Foto: BRIO
Até o topo do mundo
“Segue tua senda de vitórias, Colorado das glórias, orgulho do Brasil”. Esse trecho do atual do hino do Inter se aplica muito à sua história. Entre altas e baixos, desde seu primeiro título conquistado em 1912, a Taça 12 de abril, o clube da capital gaúcha sempre lutou e nunca deixou de acreditar, inclusive que poderia chegar ao topo do mundo, feito de 2006, que até hoje é considerado uma das maiores conquistas de um clube brasileiro.
O Inter foi o primeiro time do país a vencer o Brasileirão, algo que por muito tempo era visto como quase que impossível. Em 1975, o Inter derrotou o Cruzeiro no Beira-Rio, com o famoso gol iluminado de Elias Figueroa, e assim, conquistou seu primeiro título nacional.
No ano seguinte, em 1976, com o incrível aproveitamento de 84%, diante do Corinthians, também no Beira-Rio, o Clube do Povo sagrou-se bicampeão do Campeonato Brasileiro. O Colorado venceu a equipe paulista por 2 a 0, com gols construídos a partir de cobranças de falta de Valdomiro. Na primeira, Dadá marcou de cabeça e na segunda o próprio camisa 7 marcou, com arremate certeiro.
O tricampeonato foi poucos anos depois, em 1979. O Inter conquistou o título de forma invicta e até então é o único clube com essa marca na competição nacional. Foram 23 partidas, com 40 gols marcados e 13 sofridos. A final foi diante do Vasco da Gama de Roberto Dinamite. O Colorado venceu as duas partidas: no Maracanã, por 2 a 0, e na volta, no Beira-Rio, por 2 a 1. Essa foi a última conquista do Brasileirão pelo Internacional.
Ainda dentro das competições nacionais, o Inter foi campeão da Copa do Brasil em 1992. A conquista veio em um período de carência de grandes títulos e decepções em outras competições nacionais e internacionais no fim dos anos de 1980. Em 13 de dezembro daquele ano, o Colorado conquistou a taça inédita diante do Fluminense no Beira-Rio.
O ano mágico do Inter foi em 2006, quando, diante do seu torcedor, no seu estádio, conquistou sua primeira Libertadores da América, diante do São Paulo, então atual campeão da competição continental e também do mundo. No dia 17 de dezembro daquele ano, dos pés do improvável Adriano Gabiru, diante do Barcelona de Ronaldinho Gaúcho, tornou-se campeão do mundo. A sua maior conquista em 116 anos.
Em 2008, o Inter conquistou um título inédito para os clubes brasileiros: a Copa Sul-Americana. Para isso, venceu o Estudiantes De La Plata, da Argentina, por 1 a 0. No jogo de volta, foi derrotado pelo mesmo placar no tempo normal. O jogo foi à prorrogação, quando Nilmar marcou um gol e garantiu a taça para o time gaúcho.
A América voltou a ser pintada de vermelho em 2010, com o bicampeonato da Libertadores. O Inter venceu as duas partidas diante do Chivas de Guadalarara, do México. A primeira na casa do adversário por 2 a 1 e o jogo da volta por 3 a 2, no Beira-Rio. A taça foi entregue ao capitão Bolívar pelo Rei Pelé. Um marco histórico.
Outros títulos
– Gauchão 46x (único octa campeão 1969-1976)
– Bicampeão da Recopa Sul-Americana (2007 e 2011)
– Copa Suruga 2009
– Dubai Cup 2008
80 anos de hegemonia no Gre-Nal
Em 1945, o Inter ultrapassou o número de vitórias do Grêmio em clássicos e desde então está à frente do maior rival. O duelo da virada foi em 30 de setembro daquele ano. O Colorado venceu por 4 a 2.
Foto: Ricardo Duarte/Inter
No total, foram realizados 446 clássicos Gre-Nais, com 165 vitórias coloradas, 141 triunfos do Tricolor e 140 empates. Foram marcados 1.183 gols, sendo 607 do Inter e 576 pelo Grêmio.