A inclusão de alunos com Transtorno do Espectro Autista (TEA) no ensino regular tem avançado, mas ainda há desafios a serem superados.
A formação de profissionais e a criação de redes de apoio entre escolas, famílias e especialistas são pontos cruciais para garantir um atendimento adequado.
É o que pontua Teca Antunes, diretora pedagógica da Escola Bilíngue Aubrick, em entrevista à Catraca Livre neste Abril Azul, mês de conscientização sobre o autismo.
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“Felizmente há avanços importantes no atendimento a alunos neurodivergentes nas escolas comuns; mas sempre haverá oportunidades para aprimoramento das práticas“, afirma a pedagoga.
Educação inclusiva na atualidade
A inclusão de crianças com TEA em escolas regulares com suporte adequado é um direito. Recusar matrícula ou um acompanhamento especializado ao aluno sempre que necessário configura discriminação passível de punição, conforme a Lei Brasileira de Inclusão (LBI).
Sendo assim, crianças com autismo não precisam, necessariamente, frequentar escolas especializadas, podendo ser inseridas no ambiente escolar regular com os apoios necessários, como o Atendimento Educacional Especializado (AEE) e as salas de recursos multifuncionais.
“Acredito que a presença de alunos com TEA na escola regular seja essencial para seu desenvolvimento acadêmico e social”, opina a pedagoga.
O AEE é um suporte oferecido no contraturno escolar para alunos com deficiência, transtornos do desenvolvimento ou altas habilidades, conforme a Lei 9.394/96. Ele deve complementar o ensino regular, ocorrer preferencialmente em Salas de Recursos Multifuncionais (SRM) e busca eliminar barreiras no aprendizado. Suas diretrizes estão previstas na Resolução CNE/CEB nº 4/2009 e no Decreto nº 7.611/2011.

Desafios que persistem
Apesar dos avanços na ampliação do acesso à educação, a realidade ainda impõe desafios para a inclusão efetiva desses alunos.
Os professores, muitas vezes, não recebem a capacitação adequada para lidar com diferentes níveis de necessidade de suporte para estudantes com TEA, que podem apresentar dificuldades na comunicação, interação social e aprendizagem.
“Os desafios incluem a construção de planos individualizados que são específicos para cada aluno, pois cada um traz demandas únicas e a escola deve buscar dar respostas a essas necessidades”, explica Teca.
O reconhecimento precoce das necessidades individuais é essencial para garantir estratégias pedagógicas eficazes. No entanto, a sobrecarga dos docentes e a falta de estrutura nas escolas podem comprometer esse processo.
Enquanto isso, alunos com TEA podem enfrentar desafios que vão desde a adaptação a rotinas até a compreensão de regras sociais e a regulação emocional.
O professor, sozinho, nem sempre consegue suprir todas as necessidades dos alunos com autismo. Por isso, é fundamental um trabalho conjunto com especialistas e o fortalecimento do suporte oferecido pela rede pública de ensino.
No Brasil, de acordo com o MEC, 36% das escolas contam com salas de recursos multifuncionais. Ainda há um longo caminho para que a inclusão aconteça de forma plena.
Quais mudanças estruturais e pedagógicas são essenciais para tornar a escola inclusiva?
Para tornar a escola mais inclusiva, segundo Antunes, é essencial um ambiente que respeite e acolha diferentes formas de aprendizado e convivência.
“Adaptações físicas e pedagógicas podem ser necessárias, mas o princípio de flexibilização do ensino é fator essencial, pois prevê estratégias didáticas diferenciadas e recursos variados para garantir que cada estudante possa acessar o conhecimento de maneira eficiente e significativa“, explica.
A diretora pedagógica acredita que a adaptação das aulas não apenas beneficia alunos com TEA, mas toda a turma. Métodos como o uso de linguagem clara e objetiva, apoio visual, flexibilização do tempo e organização das atividades em etapas são exemplos de estratégias inclusivas.

Além disso, a criação de um ambiente escolar que valorize a diversidade e o respeito é essencial para evitar o bullying e o isolamento.
O suporte da equipe pedagógica é crucial para intervir sempre que necessário. “A formação de professores e a conscientização dos alunos sobre a diversidade que nos caracteriza são fundamentais para prevenir o bullying e promover interações respeitosas“, reforça.
Então, o que avaliar ao escolher a escola de uma criança com autismo?
Os pais devem buscar escolas que estejam dispostas a adaptar-se às necessidades do aluno. “Uma escola que esteja disposta a construir as respostas às necessidades de cada aluno é uma escola adequada“, afirma Antunes.
“O posicionamento é importante, pois os desafios vão se colocar ao longo do processo e a escola terá que buscar formas de garantir a aprendizagem de todos os alunos“, destaca.
O ideal é observar se há um plano individualizado de ensino, iniciativas de conscientização entre os colegas e uma parceria ativa com as famílias, conforme a especialista.
“A construção de um vínculo entre escola e família é essencial. Reuniões frequentes, compartilhamento de estratégias e alinhamento sobre as necessidades da criança permitem um acompanhamento mais eficiente. Quando escola e família trabalham juntas, o aluno se sente mais seguro e apoiado, favorecendo seu desenvolvimento acadêmico e emocional.”
O que fazer quando a escola não oferece suporte adequado?
A orientação é que os pais estabeleçam um diálogo aberto com a escola, apresentando as necessidades da criança.
“Caso a instituição não ofereça adaptações adequadas, os pais podem recorrer à orientação de especialistas e a órgãos responsáveis no campo da educação para garantir que os direitos da criança sejam respeitados”, finaliza a diretora.
O órgão mais próximo dos pais costuma ser a Secretaria de Educação Municipal e, quando houver violação dos direitos da criança, o Conselho Tutelar.
O compromisso coletivo é essencial para construir um ambiente mais acessível e acolhedor para todos.