Entrevistas e encontros marcantes de J. Borges; ‘eu penso logo se vai tocar no sentimento do povo’


Artista pernambucano morreu na manhã desta sexta-feira (26), em Bezerros, Agreste de Pernambuco. J. Borges
Edna Silva/Divulgação
Ao longo dos 88 anos de vida, J. Borges concedeu várias entrevistas à imprensa. Em muitas delas, o xilogravurista, poeta e cordelista pernambucano falou sobre suas obras e como elas nasciam. A entrevista mais recente que foi veiculada no Jornal Nacional, ele disse: “quando inicio um cordel para escrever ou uma gravura para fazer, eu penso logo se vai tocar no sentimento do povo” (veja vídeo abaixo)
Obras de J.Borges em exposição no Rio
✅ Siga o canal do g1 Caruaru e região no WhatsApp
José Francisco Borges, conhecido por J. Borges, ganhou fama não só em Pernambuco, mas também no Brasil todo. Na manhã desta sexta-feira (26), o ícone do Agreste faleceu na casa onde morava, em Bezerros, no Agreste.
O g1 separou trechos de entrevistas de J. Borges à TV Asa Branca. Em uma delas, o artista falou que a inspiração de suas obras, que retratam o sertão, a religiosidade e o dia a dia do povo nordestino. Entre as falas, o xilogravurista reconheceu com gratidão as pessoas que divulgaram seu trabalho, grandes nomes como Ariano Suassuana (veja vídeo).
J. Borges fala sobre inspiração para criar obras
Obras do artista J. Borges
Reprodução/TV Globo
Em 2018, a Escola de Samba Acadêmicos da Rocinha, no Rio de Janeiro, teve como tema os 110 anos da xilogravura no Brasil. J. Borges foi homenageado no Madeira Matriz, samba enredo da escola. Em entrevista à TV Globo, o bezerrense estava radiante de alegria.
“Eu achei maravilho, muito bonito!” disse o xilogravurista à TV Globo.
Com tantos cordéis, é difícil imaginar que o artista tinha algum que o marcou mais. Mas ele existe, e tem um título até polêmico: “A chegada da prostituta no Céu”. Nas palavras, o J. Borges fala sobre o sofrimento das mulheres prostitutas e como são marginalizadas perante a sociedade.
“Falar sobre prostituta é um caso muito sério, que é um ser sofredor, sua vida é de mistério e para sobreviver sempre usa o adultério. Perante a sociedade ela é marginalizada, existe umas mais calmas e outras mais depravadas e quem tem mais ódio delas, é a própria mulher casada” trecho do cordel A Chegada da Prostituta no Céu.
Esta obra específica vendeu mais de 100 mil exemplares e acabou tornando-se peça de teatro (veja vídeo).
J. Borges cita obra ‘A chegada da Prostitua no Céu’
MORTE
J. Borges foi agraciado, em 1999, com a Ordem de Mérito Cultural do Ministério da Cultura
Hermes da Costa Neto/Divulgação
J. Borges, xilogravurista, poeta e cordelista pernambucano, morreu na manhã desta sexta-feira (26), aos 88 anos, em Bezerros, no Agreste de Pernambuco, onde ele nasceu e viveu toda sua vida. A informação foi confirmada pelo filho do artista, Pablo, ao g1.
Segundo familiares, o pernambucano foi internado há duas semanas por problemas no pulmão e coração, mas recebeu alta e morreu em casa, por volta das 6h da manhã. O artista será velado no Centro de Artesanato, que fica localizado no município de Bezerros. A data e horário ainda não foram definidos.
Reconhecimento e admiração
Artista J. Borges em imagem de arquivo
Reprodução/TV Globo
Ao longo de sua trajetória, J. Borges ganhou vários prêmios, como a comenda da Ordem do Mérito Cultural, o prêmio da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) na categoria Ação Educativa/Cultural e o título de Patrimônio Vivo de Pernambuco.
O encontro com o escritor Ariano Suassuna, no início da década de 1970, foi um marco na história de J. Borges. Encantado pela criatividade das gravuras, Ariano ajudou a levar a obra do amigo para o mundo. José Saramago era outro fã. O livro “O Lagarto”, do escritor português, ganhou ilustrações do artista pernambucano.
Ilustrou também a capa de livros de Eduardo Galeano, inspirou documentários e o desfile da escola de samba Acadêmicos da Rocinha, em 2018.
Adicionar aos favoritos o Link permanente.