“A gente já esteve aqui várias vezes, mas o tempo passa e nada acontece. Nada. O Certea [Centro de Referência em Transtorno do Espectro Autista] é só um prédio, porque se a gente precisa mesmo, não serve para nada”, reclama Jussara Rolim.
Foto: Paulo Pires/GES
A auxiliar de cozinha com 49 anos faz parte de um grupo de “mães atípicas”, que voltou a promover uma manifestação, com cartazes, cornetas e apitos, na manhã desta sexta-feira (28), em frente a Prefeitura de Canoas. Elas haviam protestado, antes disso, no começo do ano.
“Mães atípicas” são mulheres que têm filhos neuroatípicos ou com alguma deficiência física ou intelectual. Tentam equilibrar a vida pessoal e profissional em paralelo à luta por melhores condições e contra o preconceito.
Idolésia da Silva, 47 anos, afirmou que briga é por melhoria de condições no atendimento de saúde para crianças e adolescentes com neuroatípicos. A luta, ela afirma, já dura anos.
“Eu perdi o meu guri, em agosto do ano passado, após esperar por quase dois anos por uma consulta com um neurologista, que nunca aconteceu”, relata. “Há anos que se luta por melhores condições. Então ele morreu, mas a minha luta continua. Eu vou seguir gritando”, afirma.
Responsável por organizar a manifestação, Lúcia Marcelino explicou que a gritaria em frente ao Paço Municipal acabou sendo necessária após uma série de tentativas frustradas para buscar respostas da Prefeitura.
“Eu organizei esta manifestação após ficar um mês correndo atrás do prefeito”, explica. “Só que ele não queria assunto. Então, a partir de agora, vamos passar a nos manifestar uma vez por semana, se for necessário”, avisa.
Falta carinho
Integrante do Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência (Comdip), Vilsemar Rodrigues defende que se siga o Estatuto da Pessoa com Deficiência e, assim, sejam garantidas condições adequadas a uma parcela da população que precisa de um olhar diferenciado.
“Não dá para pessoas que trabalham com PCD pensarem em dinheiro e bater o ponto às cinco, simplesmente”, afirma. “Estas mulheres estão reivindicando por saúde e proteção, que estão previstos no Estatuto, mas andam sendo ignorados nos prédios públicos. Falta carinho a estas mães atípicas e seus filhos”.
Postura
O clima em frente ao Paço Municipal era de animosidade. Secretário de Saúde, Eduardo Bermudez conversou com manifestantes, no entanto, não conseguiu convencê-las a entrar e conversar na sede da administração.
Aos gritos de “Prefeito, cadê você? Eu vim aqui só pra ti ver” e “Saúde é direito, não é favor”, as manifestantes permaneceram no local aguardando o chefe do Executivo, o prefeito Airton Souza.
Airton já havia atendido ao grupo, no dia 14 de janeiro, data da última manifestação organizada pelo grupo Coração de Mãe. Na época, o gestor defendeu o “diálogo” e garantiu a criação de soluções para os problemas.
“Canoas merece ser uma cidade inclusiva, e estou aqui para fazer isso acontecer”, chegou a escrever nas redes sociais após o encontro.
Foi somente no meio da manhã que o grupo acabou um convite para encontrar o prefeito Airton Souza e debater a pauta de reivindicações no auditório Sady Schwitz.
Posicionamento
O Escritório de Comunicação da Prefeitura de Canoas informou que irá se posicionar sobre o assunto posteriormente, quando a pauta de reivindicações for conhecida e houver encaminhamentos.