
Por que ainda jogamos com personagens que não se parecem com a gente? Por que os games mais famosos do mundo continuam ignorando narrativas e corpos reais, como os das periferias brasileiras? Para Rafael Braga, game designer, arte-educador e fundador da Subsolo Games, e Ari Almeida, desenvolvedora de jogos e cofundadora do Coletivo Trans de Gamedevs, a resposta passa por mais inclusão, mais diversidade — e menos elitismo.


Os dois são desenvolvedores independentes e vivem na pele os desafios de criar jogos que representem mais gente e alcancem quem está fora dos grandes centros do mercado gamer. E eles têm algo claro: o game pode ser uma ferramenta de transformação — se for acessível a todes.
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O preço da exclusão: quem pode jogar?
“O que realmente torna um jogo acessível?”, provoca Rafael, que também é professor de jogos digitais na periferia de São Paulo. “Um jogo AAA custa de R$200 a R$300. Quantas famílias podem gastar isso? Talvez os jogos indies sejam a resposta.”
Mas não para por aí. Ele lembra que, nas quebradas, nem todo mundo tem acesso a consoles, computadores ou celulares potentes. E se a pessoa for PCD? Os controles adaptados são raros (e caros), e poucos jogos oferecem modos para baixa visão ou daltonismo.
“A indústria bilionária dos games precisa arcar com esses custos. A gente, do lado indie, já está apontando caminhos.” Um desses caminhos é Breu, jogo brasileiro que traz elementos da cultura periférica e acessibilidade embutida no DNA.
Onde estão os corpos reais?
Ari Almeida é mais direta: “Toda pessoa de grupo minorizado lembra da primeira vez que se viu num personagem. Isso é poderoso.”
Para ela, representatividade não é bônus: é o básico. “Personagens trans, não-brancos, com deficiência, mulheres, neurodivergentes… Isso conecta. Faz com que grupos que nunca se sentiram parte possam se ver ali. Isso empodera.”
Rafael concorda. “Free Fire, Fortnite, GTA… São os jogos favoritos da molecada das periferias. Mas nenhum tem personagens que se pareçam com eles. Como educador, tento mostrar que eles também podem criar novas narrativas.”
E sabe o que acontece quando os times de desenvolvimento também são diversos? Jogos mais criativos, com histórias únicas. “Tem espaço pra deus nórdico, claro”, brinca Rafael. “Mas e a jornada no Sertão da Bahia como em Árida? E o Uno da Firma em Horizon Chase? Ou uma partida de taco de rua em Hit it Back? Só o Brasil pode oferecer isso.”
Ari reforça: “A maior inovação dos próximos anos será a inclusão de identidades e vivências que até hoje ficaram de fora. Isso gera personagens mais profundos e mecânicas mais interessantes.”
E agora?
Se você curte games, já sabe: dá pra curtir o que existe e apoiar quem tá criando o novo. Pode ser baixando um jogo indie, recomendando um desenvolvedor da quebrada, ou só dando aquele feedback construtivo sobre acessibilidade.
Porque, como Rafael diz: “O game pode — e deve — ser um lugar onde todo mundo se vê.”