Um estudo publicado na revista inglesa The Lancet Public Health revela que a perda auditiva não tratada está diretamente associada ao aumento de 42% no risco de demência em indivíduos entre 40 e 69 anos.

A pesquisa, que analisou dados de 438 mil pessoas, destaca que o uso de aparelhos auditivos por quem tem perda auditiva reduz o risco de demência, enquanto aqueles que não tratam a condição são tão propensos à doença.
Descobertas do estudo
O estudo analisou dados do UK Biobank. Dos avaliados, 111.822 (um quarto) apresentaram perda auditiva — desse grupo, apenas 13.092 (12%) usavam o dispositivo.
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Os autores, então, descobriram que aqueles com perda auditiva que não usavam aparelhos tinham um risco 42% maior de desenvolver demência por qualquer uma das causas.
Ao mesmo tempo, nenhuma probabilidade aumentada foi encontrada entre os que tinham surdez parcial, mas utilizavam o equipamento.
Por que detectar a perda auditiva cedo faz diferença?
A fonoaudióloga Dra. Vanessa Gardini, especialista em reabilitação auditiva, da Pró-Ouvir Aparelhos Auditivos, de Sorocaba (SP), informa que a detecção precoce da perda auditiva deve ser uma prioridade nos exames de saúde, a partir dos 40 anos.
Segundo ela, a falta de consciência sobre os benefícios dos aparelhos auditivos, aliada ao preconceito de usar aparelhos, ainda é uma barreira para muitas pessoas.
“O tratamento precoce da perda auditiva não só melhora a qualidade de vida, mas também tem um impacto muito positivo na saúde cerebral, retardando, ou até prevenindo, o desenvolvimento da demência“, afirma a Dra. Vanessa.
Riscos de não tratar a perda auditiva
A especialista alerta que a perda auditiva não tratada causa privação sensorial, afetando áreas do cérebro essenciais para a memória e o aprendizado. Além disso, ela destaca que, ao não utilizar aparelhos auditivos, o indivíduo também tende a se isolar, o que contribui, ainda mais, para o declínio das funções cognitivas.
“Quando a gente ouve, o som é convertido em estímulo elétrico e passa pelas vias neurais até chegar à região do cérebro, onde ele é traduzido em informação. É assim que a gente ouve. E essa mesma região do cérebro é responsável pela memória, equilíbrio, aquisição de linguagem e comunicação. É uma região neural que precisa ser estimulada, precisa ser exercitada para não atrofiar”, afirma.
A fonoaudióloga acrescenta que a inatividade dessa região do cérebro é um dos fatores que podem levar às demências, mas que episódios gerados pela própria condição, como depressão e isolamento social, frequentes em pessoas que não ouvem, também são agravantes.
“Os indivíduos que começam a perder a audição tendem a se afastar de situações sociais, pois têm dificuldade em acompanhar conversas e acabam se sentindo deslocados. Isso pode causar uma sensação de frustração e, eventualmente, resultar em um quadro de ansiedade ou depressão“, pontua.
Hábitos, como falar ao telefone, assistir à televisão ou conversar, são interrompidos pela perda auditiva, que pode ocorrer gradualmente, principalmente na fase de envelhecimento, ou estar presente desde o nascimento.
A médica explica que o uso de aparelhos auditivos é fundamental, mas o tratamento não se resume a isso, pois envolve uma série de processos, como exame de audiometria clínica, avaliação detalhada das necessidades e dificuldades do paciente, adaptação e acompanhamento contínuo.
“O cérebro do paciente precisa ser treinado a reaprender a ouvir, desenvolvendo habilidades, como memória auditiva, atenção e identificação de sons, especialmente após um longo período de privação sensorial”, destaca a Dra. Vanessa.