Mulher completa mais de dois meses com rim de porco e se torna a primeira a sobreviver tanto tempo com órgão de animal


Essa é a primeira vez que um paciente sobrevive tanto tempo com o órgão. Recuperação é esperança para quem espera por transplante. No Brasil, são mais de 40 mil pessoas. No meio, Towana, que está há dois meses com rim de porco
Mateo Salsedo
A mulher que recebeu um rim de porco após anos de hemodiálise é a primeira a sobreviver tanto tempo com o órgão do animal. Towana Looney está saudável há dois meses após o transplante, e o resultado traz esperança para milhares de pacientes ao redor do mundo.
A cirurgia foi realizada em novembro de 2024 pela equipe de pesquisadores do NYU Langone Transplant Institute, nos Estados Unidos. Desde então, ela segue bem.
“É uma nova visão da vida, sou uma supermulher”, disse Towana em entrevista à Associated Press.
Antes dela, outros quatro pacientes receberam um rim de porco, mas nenhum sobreviveu por mais de dois meses com o órgão. Towana já ultrapassou os 65 dias saudável após o transplante e com isso é a primeira a ultrapassar o marco e se tornou a única mulher viva com um rim de um animal.
Towana luta por um rim desde 2017. Tudo começou quando em 1999 ela doou um rim para a mãe, que tinha insuficiência renal. Anos depois, durante a gravidez, ela desenvolveu a mesma doença devido a complicações causadas pela pressão alta. Em dezembro de 2016, iniciou o tratamento com hemodiálise e, um ano depois, entrou na lista de espera para transplante, mas nunca encontrou um doador compatível.
Towana logo após a cirurgia
Divulgação/NYU Langone Health
Durante todos esses anos, ela dependia da hemodiálise, com sessões semanais que a mantinham horas conectada às máquinas. Hoje, comemora o fato de já conseguir ultrapassar seus parentes em longas caminhadas por Nova York, onde permanece até o fim do acompanhamento médico, previsto para encerrar em um mês.
Segundo os médicos, ela está saudável, sem qualquer sinal de rejeição, e sua função renal está completamente normal.
“Estamos bastante otimistas de que isso continuará funcionando bem por um período significativo”, disse o médico Robert Montgomery, que liderou o transplante.
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Os médicos acreditam que o quadro otimista de Towana tem a ver com a saúde dela antes do transplante. Diferente dos demais pacientes, ela tinha menos complicações anteriores e uma saúde estável, apesar do problema renal.
Isso acontece também porque hoje o transplante usando um rim animal geneticamente modificado ainda não é uma realidade. Nos Estados Unidos, o FDA permite o transplante em casos específicos em que o paciente não tem outras opções. No caso de Towana, ela estava há anos esperando sem qualquer rim compatível, o que poderia piorar seu quadro de saúde.
Ela já não está mais no hospital, mas ainda é acompanhada e deve ter alta em fevereiro
Shelby Lum/AP
Não há como prever por quanto tempo o novo rim de Looney funcionará, mas se ele falhar, ela poderá receber diálise novamente.
“A verdade é que não sabemos realmente quais são os próximos obstáculos porque esta é a primeira vez que chegamos tão longe”, disse Montgomery. “Teremos que continuar a realmente ficar de olho nela.”
O que é xenotransplante
A cirurgia de Looney é a mais recente de uma série de procedimentos semelhantes conhecidos como xenotransplante, que é a prática de transplante de órgãos entre espécies. O órgão é de um porco, mas geneticamente modificado para ser melhor aceito no corpo humano.
Neste caso, o rim tinha dez modificações genéticas que incluem a remoção de três antígenos imunogênicos, que podiam reforçar a resposta imunológica humana e causar a recusa. Além de um um receptor de hormônio de crescimento suíno, para evitar que ele ficasse desproporcional ao corpo humano.
Ainda foram adicionados seis transgenes humanos, para ajudar que ficasse mais parecido com o órgão humano e reduzir a probabilidade de rejeição.
As pesquisas sobre o xenotransplante vem crescendo nos últimos anos como opção frente à falta de órgãos para as pessoas com doenças que dependente de transplante.
Brasil tem mais de 40 mil pessoas esperando por um rim
No Brasil, 41 mil pessoas esperam por um transplante de rim. O órgão é o com a maior fila de espera no país, que tem 45 mil pessoas esperando por uma doação.
Segundo especialistas, isso ocorre por as doenças com maior prevalência no país afetam o órgão. Para se ter uma noção, o país tem um dos maiores números em transplante renal do mundo, ainda assim, há milhares de pessoas na fila por causa da recorrência.
A doação de órgãos ainda é o maior limitador para que esses números não avancem. Recentemente, o país implementou medidas para facilitar a doação, como a declaração de doador, mas por lei a decisão ainda é da família.
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