Campo Bom: A cidade do Vale do Sinos conhecida pelas altas temperaturas e pelos espaços ao ar livre

Vista aérea mostra até o palco do Largo Irmãos Vetter, em Campo Bom | abc+



Vista aérea mostra até o palco do Largo Irmãos Vetter, em Campo Bom

Foto: Vandré Brancão/GES-Especial

Vídeo mostra a cidade do alto

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Temperaturas altas viram marca e identificam cidade

Campo Bom é considerada uma das cidades mais quentes do Rio Grande do Sul e, não raro, bate o recorde do dia em comparação com todas as cidades brasileiras. Tá, mas por que isso ocorre? Responsável pela Estação Meteorológica de Campo Bom desde setembro de 1984, o voluntário Nilson Pedro Wolff, considerado homem do tempo na cidade, é uma caixa de conhecimentos sobre todas as características que tornam o Pequeno Gigante do Vale uma das cidades com mais projeção quando se trata de recordes de temperatura.

Chafariz é um convite para se refrescar em dias de calor | abc+



Chafariz é um convite para se refrescar em dias de calor

Foto: fotos Weslei Fillmann/Especial

“A gente já sabia que era um local quente”, comenta. Segundo ele, por Campo Bom estar em uma zona baixa, rodeada por morros, com vegetação abundante, umidade e rios, favorece a concentração de ar quente quando o mesmo começa a atingir a região. “Quando a estação foi inaugurada, em 1º de setembro de 1984, Campo Bom atingiu a máxima de temperatura no Estado”, afirma o Wolff. Por possuir esses registros, de vez em quando o nome do município é citado como a máxima, o que acontecede de fato cerca de 6 a 8 vezes por ano.

Temperatura em painel ao lado do Largo Irmãos Vetter | abc+



Temperatura em painel ao lado do Largo Irmãos Vetter

Foto: Weslei Fillmann/Especial

Outra percepção: quando a máxima do Estado é na região, chove devido à combinação de fatores como pressão baixa e umidade. A partir disso, se originam chuvas isoladas e ventania. “As baixadas costumam ser muito quentes”, comenta.

A mais alta foi em 1985

O recorde de temperatura mais alta em Campo Bom segue intacta há quase 30 anos. Em 16 de novembro de 1985, de acordo com o acervo de Wolff, o calor atingiu a marca de 41,9 ºC. Aquele ano ficou marcado por um grande período de estiagem no Vale do Sinos e, desde então, a marca nunca foi superada. O mais próximo disso foi em 2016, quando foram registrados dez dias com médias máximas de 41 graus.

Nilson Wolff junto ao seu extenso material meteorológico | abc+



Nilson Wolff junto ao seu extenso material meteorológico

Foto: Weslei Fillmann/Especial

O período que compreende o maior desastre climático do Rio Grande do Sul, em 2024, está documentado no acerco de Nilson Wolff. “Dia 28 de abril, 76 milímetros. Dia 29, 12; dia 30, 91. Somente nestes três dias, choveu mais que a precipitação média do mês”, comenta. Mas o maior registro ficou para maio de 2024. “Em um mês, deu 546 milímetros, sendo que a média é pouco mais de 140.”

Apesar de ser uma das cidades mais quentes, Campo Bom não passa livre de geadas. Wolff tem registros diários de geadas desde 1969. Campo Bom registra 15 geadas por ano. E o recorde de temperatura mais baixa foi de -1,9ºC, no ano 2000.

Um lugar para quem gosta de lazer e esportes

O bom campo para descanso dos tropeiros e do gado, que seguiam da Serra Geral para São Leopoldo e Porto Alegre, segue como o Campo Bom para todos que vão para a cidade aproveitar os espaços públicos que o município preserva e segue ampliando, seja para o lazer com a família e amigos, seja para o esporte, como o ciclismo, corrida, vôlei e futebol.

Pista de Atletismo do Parcão, reinaugurada no final de 2022 | abc+



Pista de Atletismo do Parcão, reinaugurada no final de 2022

Foto: Weslei Fillmann/Especial

E um destes espaços é a Pista de Atletismo, que foi reformada e reinaugurada no final de 2022 e reúne centenas de pessoas, principalmente nos finais de tarde. A atendente de restaurante Karin Marques, 29 anos, e o estudante de veterinária Willian Londero, 29, no entanto, aproveitaram o início da tarde de um dia quente e ensolarado para correr na estrutura do Parcão. Naquele momento, apenas os dois estavam ocupando o espaço, aproveitando a tranquilidade para movimentar o corpo. “É ótimo, muito diferente. É um espaço ótimo de lazer para as pessoas que vêm aqui tomar chimarrão com as crianças, correr, fazer exercícios. Acho excelente”, comenta Karin.

Casal Karin e Willian, na Pista de Atletismo do Parcão | abc+



Casal Karin e Willian, na Pista de Atletismo do Parcão

Foto: Weslei Fillmann/Especial

Londero também elogia o cuidado com os espaços públicos, principalmente por gerarem uma vontade das pessoas saírem de casa e irem aproveitar o tempo ao ar livre. “Tu estás em outra cidade, as pessoas ficam dentro de casa. Quando o sol está mais forte, tem menos gente. Mas tu ficas aqui desde as 15h30, começa a lotar. O pessoal traz a rede, para ir na quadra jogar vôlei; tem futebol. A corrida está muito bem organizada. Já tinha aqui (a pista), só que foi reformada, então ficou muito mais próprio para corrida”, destaca.

E a estrutura não serve apenas para quem vai apenas curtir de forma amadora, mas também para profissionais. “Hoje eu vejo o pessoal fazer treinos aqui. Tem gente que participa, que faz esportes profissionais, vem aqui treinar. Em dias de semana e em finais de semana, tu vens aqui e vês que há atletas que estão treinando para iniciar sua carreira”, comenta Londero. São opções como essas que costumam atrair pessoas de fora, como a própria Karin, que é de Novo Hamburgo.

Brincadeiras na água estão entre pontos preferidos da garotada

A advogada porto-alegrense Nathali Prestes há 9 anos escolheu Campo Bom como seu lar. Ela trabalha em um escritório em Novo Hamburgo, mas é para Campo Bom que retorna todo o final de dia. Numa tarde de domingo de janeiro, dia 19, levou o filho Davi e os amigos dele para curtirem a Fonte Luminosa, para se refrescar do calor.

Davi e os amigos Caetano, Lorenzo e Pietro, curtindo a fonte luminosa no calorão de Campo Bom | abc+



Davi e os amigos Caetano, Lorenzo e Pietro, curtindo a fonte luminosa no calorão de Campo Bom

Foto: Weslei Fillmann/Especial

“A cidade inteira, eu uso bastante. Tenho um filho de 10 anos. É uma cidade limpa, tranquila. E agora, com o Novo Parcão, estão amando (se referindo ao filho e aos amigos dele)”, comenta. A garotada, assim como outras dezenas de visitantes, se jogou na água numa diversão segura e saudável.

Além do espaço ao lado do Complexo do CEI, Nathali costuma ir aos fins de tarde na Pista de Atletismo, bastante usada pelo filho.

Outro local que costuma reunir grande público no calor é o chafariz do Largo Irmãos Vetter. Ele costuma ser ligado em finais de tarde todos os dias, inclusive em finais de semana.

Valorizaçãoda vida

Campo Bom realiza diversas atividades esportivas no decorrer do ano, como os campeonatos escolares no Ginásio do CEI, as competições de futsal com equipes municipais, torneios de beach tênis amador e muito mais. Outra opção, desta vez para quem está começando a ingressar a uma vida mais saudável, o município disponibiliza também a Estação Viva Mais, que fica ao lado da Pista de Atletismo. São diversos equipamentos ao ar livre, academia fechada e instrutores qualificados.

Pioneirismo na América Latina

Campo Bom foi pioneira na América Latina com a instalação da primeira estrutura viária destinada aos ciclistas, em 1977. O fato gerador foi o grande número de bicicletas conduzidas especialmente por trabalhadores da indústria calçadista. A ciclovia também se consolidou como ponto de lazer.

“Parece que é um novo mundo quando tu entra em Campo Bom”, comenta Londero. São mais de 20 quilômetros cercados por árvores, que garantem sombra e alívio da temperatura.

De volta, Feltes quer reforçar sensação de pertencimento

Prefeito de Campo Bom, Giovani Feltes | abc+



Prefeito de Campo Bom, Giovani Feltes

Foto: Weslei Fillmann/Especial

No comando do Executivo de Campo Bom, Giovani Feltes acompanha de perto o pulsar de Campo Bom. Aos 67 anos, retomou a cadeira de prefeito, posição que já ocupou por três mandatos. Está no quarto, agora em parceria com a vice Gênifer Engers. Com trajetória política que inclui eleição como vereador, deputado estadual e federal e secretarias estaduais, Feltes testemunha as diversas mudanças que transformam a cidade, que nesta sexta (31) festeja 66 anos.

Começando o seu décimo terceiro ano como prefeito, dará continuidade ao governo anterior, com o principal objetivo de ampliar o sentimento de pertencimento da população.

Em cerca de 50 anos de vida pública, acompanhou diversas mudanças em Campo Bom. “Campo Bom deixou de ser uma vila para começar a ter jeito e cara de cidade”, comenta. E parte deste processo inclui a implantação da ciclovia, a instalação de empresas de calçados, geração de emprego e renda e a construção de espaços públicos de qualidade para a população. “É uma construção coletiva, de todo mundo que ocupou a prefeitura”, destaca.

Um dos principais pontos que devem ser trabalhados nos próximos anos em Campo Bom é ampliar o sentimento de orgulho que a população tem pelo município, o que também atrai pessoas de fora da região para aproveitar as opções de lazer e esporte que a cidade oferece. “É isso que também faz as pessoas virem para cá, que escolhem Campo Bom e trabalham em outras cidades da região”, comenta.

E essa valorização pelo que é público costuma apresentar retornos. Moradora do Kephas, em Novo Hamburgo, a cuidadora de idosos e empregada doméstica Ivanir Ramos, 55 anos. “Eu trabalho aqui em Campo Bom. É a primeira vez que viemos aqui (no Novo Parcão), mas vamos muitas vezes no Parcão. E agora estamos aproveitando a fonte e tomando um chimarrão na sombra. Aqui é muito bom”, elogia.

Engajamento na escola

Para ampliar esse sentimento, algumas ações devem ser feitas, começando desde cedo com os jovens. “Isso é o que a gente quer fazer dentro das escolas. Os pais têm que entrar mais nas escolas. Voltar a rever e repensar a nossa maneira de viver em sociedade”, destaca Feltes.

Investimentos

Uma das obras que deve iniciar ainda em 2025 é a de modernização da Piscina do CEI, que vai receber um novo sistema de controle de temperatura da água, trocando o atual de caldeira a diesel, implementada na construção do complexo, para energia solar, tornando mais sustentável e econômica, inclusive, para a manutenção da estrutura.

Já a Guarda Municipal, fundada em 2022, deve receber ampliação no seu efetivo. “Tenho o compromisso assumido de chamar aqueles que estão aprovados. Vamos chamá-los, nas próximas semanas, e espero que eles consigam manter esses indicadores (baixos) e melhorem para 2025”, afirma.

Mirante, um pilar que é um marco da história do município

Quem passa pela Avenida Adriano Dias, no local onde havia a estação de trem em Campo Bom, percebe a imponente estrutura no Largo Irmãos Vetter. Inaugurado em 2004, o Mirante foi erguido onde antes existia uma chaminé com um apito, que regulava o horário da cidade e marcava o início, intervalo e fim do expediente da fábrica.

Fachada da Vetter e Cia. preservada pelo poder público | abc+



Fachada da Vetter e Cia. preservada pelo poder público

Foto: Weslei Fillmann/Especial

“Esse apito era movido a vapor e, às 6 horas da manhã, meio-dia e 6 horas da tarde, apitava”, conta o historiador Roberto Atkinson, da Associação Pró-memória de Campo Bom. A estrutura foi demolida ainda na década de 1980, quando a Reichert Calçados adquiriu a massa falida da Vetter e Cia. Na aquisição, o antigo cortume também foi demolido.

A Vetter e Cia. foi fundada em 1890 por Jacob Vetter, sendo a primeira indústria calçadista da cidade pioneira na exportação de calçados do Estado. A operação da companhia começou no bairro Rio Branco, antigo Morro das Pulgas, e em 1904, migrou para o local onde hoje é o Largo, ao lado da antiga estação de trem, atual Fundação Cultural de Campo Bom.

Já em 1918, foi inaugurada a nova fábrica de calçados, que impulsionou a economia no município batizado como Pequeno Gigante do Vale. Com o passar dos anos e o crescimento econômico, a cidade atraiu trabalhadores para as empresas calçadistas de Campo Bom, como a Strassburger, que realizou a primeira exportação brasileira em larga escala para os Estados Unidos em 1968, com as sandálias masculinas Franciscano. A cidade mantém vocação calçadista, sendo casa da Arezzo, Niger, FCC, Boxflex e outras.

Símbolo, orquídea tem origem anterior a 1959

Andar por Campo Bom também significa encontrar muita orquídea. E não de todos os tipos, principalmente a Cattleya intermedia. Não é à toa. Em 2018, por meio da lei municipal 4.854, a orquídea foi instituída como a flor símbolo de Campo Bom. Mas por que essa planta ganhou tanto reconhecimento no município?

Orquídeas nas palmeiras imperiais espalhadas pelo Largo Irmãos Vetter | abc+



Orquídeas nas palmeiras imperiais espalhadas pelo Largo Irmãos Vetter

Foto: Weslei Fillmann/Especial

O presidente da Fundação Cultural, Solandir de Oliveira, explica que, antes da emancipação do município, em 1959, havia muitos produtores de orquídea na região que viria a receber o nome de Campo Bom. Inclusive, havia uma exposição regional de orquídeas. A Cattleya, segundo Solandir, era e segue sendo uma das variedades mais conhecidas do Sul do Brasil.

A partir deste registro histórico, a Fundação encaminhou um projeto para a Câmara de Vereadores, que culminou na oficialização da planta como símbolo do município. A lei também possibilita ao governo municipal realizar ações que permitem a aquisição de plantas por meio de parcerias com a sociedade civil e execução de atividades ou projetos previamente estabelecidos.

Mais de 10 mil mudas da flor estão pela cidade

Mais de 10 mil mudas de orquídeas foram penduradas em diversos trechos da ciclovia de Campo Bom, mas de uma espécie mais comum, que vieram por doação de moradores. A primeira colocação ocorreu em 2017, mobilizando mais de 300 voluntários. Já no Largo Irmãos Vetter, foram colocadas unidades da espécie símbolo, as quais foram adquiridas pela prefeitura para embelezar o espaço.

“A orquídea não é um parasita. Ela precisa de um suporte. Tu coloca a orquídea, amarra com o cordão de algodão pelas raízes e, em pouco tempo, estará grudada”, comenta Solandir. O projeto de implantação das plantas é chamado de “Orquídea Amor e Valor”, e visa a levar às pessoas a importância da flor como símbolo municipal, além de promover o espírito comunitário.

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