Relatório preliminar do Cenipa aponta causas da queda de avião em Gramado que matou 10 pessoas

As causas do acidente aéreo de 22 de dezembro de 2024, em Gramado, que matou dez pessoas e feriu 17, sendo duas gravemente, têm dois fatores principais. O apontamento foi feito pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), responsável por investigar o caso.

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Local do acidente aéreo em Gramado



Local do acidente aéreo em Gramado

Foto: Mônica Pereira/GES-ESPECIAL

Em um relatório preliminar, o órgão destaca que a aeronave – modelo Piper Cheyenne, pilotada pelo empresário paulista Luiz Claudio Galeazzi, de 61 anos, teve um voo controlado contra o terreno (Cfit) e uma perda de controle em voo (LOC-I).

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De acordo com o Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea), da Força Aérea Brasileira, o termo Cfit – do inglês controlled flight into terrain – caracteriza que o acidente aconteceu mesmo quando a aeronave está funcionando perfeitamente. Ainda, que o “principal fator contribuinte é o incorreto conhecimento, por parte do piloto, da real situação de sua aeronave em relação ao solo ou a obstáculos no terreno”.

“Pode ter sido uma emergência, um mal súbito do piloto, alguma coisa fez com que ele não subisse”, analisa o ex-piloto e ex-diretor de operações da Varig, Nelson Riet.

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A observação é endossada pelo presidente do Aeroclube de Novo Hamburgo, Alceu Feijó Filho. “Não houve nenhum problema no avião, que estava perfeitamente em ordem, mas ele se projetou ao solo, por algum problema. Provavelmente, erro do piloto”, declara.

O Cenipa afirma que, após a decolagem, no aeroporto de Canela, a aeronave efetuou uma curva à direita e chocou-se contra a chaminé de um prédio. Posteriormente, teve a perda de controle, colidindo contra mais edificações até a parada total. A sigla LOC-I – do inglês loss of control in-flight – é quando acontece o desvio da trajetória pretendida.

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De acordo com Nelson Riet, algo forçou com que a aeronave ficasse baixa. “Normalmente, a gente decola e mantém a reta da pista ou faz curva à esquerda, esse é o padrão internacional. Alguma coisa fez com que ele fizesse curva à direita, talvez, tentando pousar de novo”, observa.

“O que a gente não sabe é porque ele estava tão baixo. O modelo do avião é bom. Esse avião voa por instrumento, ou seja, ele não precisa de visibilidade. O piloto não devia conhecer muito bem a área e acabou se chocando contra a chaminé. Ele perdeu o controle no momento que bateu, deve ter danificado o avião e isso descontrolou o voo e ele foi até o chão”, comenta.

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Já para Alceu Feijó Filho, o mau tempo foi o fator principal, já que no momento da decolagem havia cerração. “Ele se envolveu em uma situação que não estava tecnicamente preparado, aliás, que piloto nenhum está preparado. O avião ainda estava na pista quando entrou no nevoeiro”, destaca.

“Aconteceu uma desorientação espacial e a meteorologia foi fundamental para acontecer o acidente. Se ele esperasse melhorar a condição de teto, não teria acontecido nada. Ele decolou com uma condição adversa e não conseguiu controlar o avião”, pondera.

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O Cenipa destaca que as investigações não buscam estabelecer culpa ou responsabilização, mas indicar possíveis fatores contribuintes que permitam elucidar eventuais questões técnicas relacionadas à ocorrência aeronáutica. O objetivo é implementar medidas para evitar a recorrência de acidentes semelhantes. Não foi estabelecido um prazo para a conclusão do relatório.

Utilização de caixas-pretas em todas as aeronaves

Na avaliação do ex-piloto Nelson Riet, será difícil esclarecer as causas do acidente, pela falta de caixa-preta na aeronave. “Não existe nenhuma outra informação precisa. Os motores foram destruídos no impacto. Então, não dá para fazer muita perícia nos motores porque eles estão destruídos. Os instrumentos de voo, que poderiam dar alguma indicação, também foram destruídos. Não sobrou nada que o investigador possa pesquisar e encontrar a real causa do acidente”, frisa.

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Ainda de acordo com o ele, ter caixas-pretas em todas as aeronaves é uma realidade distante. Na aviação comercial, é uma obrigatoriedade, mas, no caso de aviões particulares, é uma decisão do proprietário.

“São instrumentos caros, pesados e de difícil instalação. Eu acredito que, no futuro, a tecnologia vai transformar esses equipamentos, deixá-los mais leves. Hoje em dia, os aviões comerciais, além de ter as caixas-pretas, elas ficam transmitindo constantemente para a fábrica todas as indicações. Pode ser que isso venha também para as aeronaves particulares. Só transmitir, sem precisar do equipamento. Mas, por enquanto, é inviável”, reforça.

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