Artista plástico morto em casa por enxurrada da chuva pintou quadro sobre alagamento e tinha portão antienchente na Vila Madalena


Rodolpho Tamanini Netto, de 73 anos, era artista plástico e morava em Pinheiros, na Zona Oeste. Capital registrou o terceiro maior volume de chuva da história nesta sexta (24), segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Rodolpho Tamanini Neto chegou a pintar o quadro ‘A Enchente’ em 2008 para tratar dos problemas ocasionados pela chuva
Reprodução/Divulgação
O artista plástico que morreu na tarde de sexta-feira (24), após a enxurrada da chuva invadir sua casa, já havia pintado um quadro sobre alagamento e possuía portão antienchente na residência onde morava desde a infância na Vila Madalena, bairro boêmio da Zona Oeste de São Paulo.
Rodolpho Tamanini Neto tinha 73 anos. O corpo dele só foi encontrado na manhã de sábado (25). Policiais militares foram acionados por testemunhas e entraram no imóvel da vítima. A principal suspeita é de que o idoso tenha morrido afogado depois que a água entrou na residência e atingiu uma altura de 2 metros. O caso é investigado pela Polícia Civil no 14º Distrito Policial (DP), Pinheiros.
O paulistano residia no sobrado desde criança. Morava no andar superior. O debaixo era alugado, mas estava vazio quando começou a chover na semana passada. Segundo o boletim de ocorrência do caso, com o acúmulo de água nas da chuva, a Rua Belmiro Braga alagou, parecendo um rio.
A força da correnteza arrastou carros e um deles bateu no portão de contensão contra enchente da casa de Rodolpho. Nesse momento, ele havia descido e ido ao quintal olhar se ele estava alagado. Em seguida, a força da água rompeu o portão, segundo mostra um vídeo gravado por um vizinho (veja abaixo).
Enxurrada invade casa e mata idoso na Vila Madalena, na Zona Oeste de SP
Depois, a enxurrada tomou o imóvel, vitimando o artista. Havia marcas de sangue na parede e próximo ao teto da oficina.
“É fatalidade, eu diria… vai responsabilizar quem? A Prefeitura porque não tomou providências? Ele sabia do perigo que corria quando chovia. Era uma batalha de anos”, falou ao g1 o francês Jacques Ardies, curador da galeria de artes que recebe o seu nome e onde Rodolpho expunha suas obras.
O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), chegou a dizer à imprensa durante o final de semana que a cidade estava “muito preparada” para enfrentar eventos climáticos e os impactos da chuva. No domingo (26), o mandatário lamentou a morte do artista ao ser indagado pela TV Globo.
“A gente sente demais. O senhor de 73 anos faleceu ali no Beco do Batman, ali é uma região que realmente é quase um vale, que concentra a água vindo de muitos locais”, disse Nunes. “A gente tem procurado fazer algumas ações ali, mas é um local difícil, muito impermeabilizado, e um carro acabou sendo arrastado e acabou levando essa pessoa. Óbvio que a gente lamenta demais.”
Quadro ‘A Enchente’
Rodolpho e Jacques eram amigos há mais de 40 anos.
“Há uns 30 anos ele tinha colocado esse portão antienchente na frente da casa para impedir a entrada de água da chuva. Em 2008 ele pintou o quadro ‘A Enchente’. Não dá para saber exatamente o local que ele quis representar, mas mostra a chuva caindo, pessoas ilhadas num barranco e dentro de um ônibus e outra tentando se salvar num barco”, contou o curador.
Rodolpho começou a expor suas obras em 1970, quando tinha 19 anos, no Museu do Folclore, e no ano seguinte expôs na Alemanha. Autodidata, recebeu no começo uma orientação da pintora Lise Forell. Em 1971, fez sua primeira exposição individual e, a partir de 1975, iniciou participações em salões do Brasil e do mundo como na Inglaterra, França e Suíça (veja abaixo algumas de suas telas).
“Seus temas são basicamente a cidade de São Paulo, que retrata de forma bela e atraente; as paisagens marinhas do nosso litoral, onde o homem, em geral nu, é representado perfeitamente integrado dentro de uma natureza pura, bela e tranquila; e a vida na favela interpretada como um lugar agradável de viver, cheias de crianças empinando pipas e gatos no telhados e cachorros brincalhões, o todo realçado pelo uso de cores chapadas em degrades sofisticados”, escreveu a galeria.
A galeria de artes Jacques Ardies prestou homenagem a Rodolpho:
“Um artista de talento único e expressão marcante, Rodolpho deixará para sempre um legado inesquecível, não apenas por sua obra, mas também pela pessoa extraordinária que foi. Nos unimos aos familiares e amigos neste momento de profunda dor, expressando nosso mais sincero pesar. Que Rodolpho descanse em paz e que sua memória permaneça viva em nossos corações”.
O velório de Rodolpho ocorrerá nesta segunda-feira (27) no Cemitério São Pedro, na Vila Alpina, Zona Leste de São Paulo. O corpo dele deverá ser cremado. O artista era solteiro e não tinha filhos. Seus parentes, admiradores do seu trabalho e amigos comparecerão à cerimônia.
Segundo a Defesa Civil do estado, além do idoso morto na capital paulista, outras duas pessoas morreram na Grande São Paulo desde sexta-feira por causa das chuvas. Uma faleceu em Guarulhos e outra em Itapecerica da Serra.
Só na sexta (24), o município de São Paulo registrou o terceiro maior volume de chuva da história, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) — foram 125,4 mm acumulados.
Rodolpho Tamanini Netto, artista plástico
Arquivo pessoal
Homenagem a Rodolpho Tamanini Netto
Reprodução
Obras de Rodolpho Tamanini Netto
Mosteiro São Bento, por Rodolpho Tamanini Netto
Reprodução/Galeria Jacques Ardies
Os ciclistas, por Rodolpho Tamanini Netto
Reprodução/Galeria Jacques Ardies
Vendo os golfinhos brincarem, por Rodolpho Tamanini Netto
Reprodução/Galeria Jacques Ardies
Uma pessoa morreu após fortes chuvas em São Paulo
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