Muita água e solo frágil dificultam obras de contenção de morro no bairro Três Pinheiros

Com a presença de máquinas e equipes especializadas em geotecnia, as obras de contenção no bairro Três Pinheiros, em Gramado, completam seis meses. A localidade foi uma das primeiras a apresentar risco de deslizamento de terra – ainda devido às chuvas de novembro de 2023.

Obras no Três Pinheiros estão 40% concluídas



Obras no Três Pinheiros estão 40% concluídas

Foto: Mônica Pereira/GES-ESPECIAL

Em uma intervenção considerada complexa, o morro que separa o bairro da Rua Ladeira das Azaleias, no Planalto, está sendo estabilizado. Parte da contenção nas margens da perimetral, que foi danificada, está sendo substituída, assim como o trecho que não sofreu avarias é reforçado.

Com um investimento de R$ 4,1 milhões, o custeio da obra está sendo feito pela Prefeitura de Gramado e Defesa Civil Nacional, que acompanha o passo a passo do projeto, através de prestações de contas. A conclusão estava prevista para este mês de janeiro, mas a quantidade de água encontrada e o nível de fragilidade do solo exigem novos estudos na área.

O projeto executivo de recuperação da cortina atirantada foi desenvolvido pela empresa Azambuja Engenharia e Geotecnia e quem está executando o trabalho é a Roxor Soluções em Engenharia e Geotecnia.

O engenheiro civil da Roxor, Ray Tartari de Aguiar, destaca que a obra mudou do caráter de produção para o de investigação. Isso porque o volume de água que ainda corre pelo morro é muito maior do que o originalmente previsto. Assim, é preciso fazer um serviço de drenagem e serão instalados mais 260 metros de drenos horizontais profundos (DHPs).

DHPs serão instalados para diminuir volume de água



DHPs serão instalados para diminuir volume de água

Foto: Mônica Pereira/GES-ESPECIAL

Segundo os profissionais, há vertentes de água no morro que precisam ser drenadas. Além disso, o volume de chuva em um curto espaço de tempo pode alterar o curso d’água.

Outro ponto de atenção dos geotécnicos são as fraturas encontradas nesse maciço. O engenheiro civil da Prefeitura de Gramado e fiscal da obra, Arthur Fernandes, diz que, na próxima semana, será executada uma técnica de boroscopia. O ensaio conquiste em um equipamento com uma câmera na ponta que permite enxergar por dentro dos furos. “Queremos ver as paredes desses furos, porque estão desbarrancando a 16 metros de profundidade”, explica.

Esses complicadores causam atraso no serviço. O novo prazo de conclusão das obras é para o dia 11 de junho deste ano.

Ensaios de todos os 142 tirantes

Primeira fase da obra deve ser concluída até junho



Primeira fase da obra deve ser concluída até junho

Foto: Mônica Pereira/GES-ESPECIAL

Para os engenheiros envolvidos, fazer uma obra de recuperação é mais difícil do que construir do zero. Porém, não existia a possibilidade de demolir a parte danificada da contenção, pois isso causaria o desmoronamento de todo o morro. Em dezembro de 2023, pedras foram colocadas na base da cortina para escorar a estrutura, que tinha risco iminente de rompimento.

Uma grelha atirantada está sendo feita para reforçar a parte da cortina que não rompeu – com vigas e pilares. Já a nova cortina será 2,5 metros mais alta do que a anterior, chegando a 7,5 metros de altura.

Ao todo, serão instalados 142 tirantes de aço – que ajudarão a segurar o morro. Essas barras vão dentro do maciço e são ancoradas com calda de cimento. Depois, são tencionadas com uma carga de 54 toneladas. “Atirantamento é a gente fazer pressão contra o maciço para evitar que ele faça essa força contrária”, explica Arthur. “Todos os 142 tirantes que estão sendo colocados terão um ensaio e um relatório atestando a carga. Só assim que a fiscalização, eu e o projetista podem aceitar o novo muro”, endossa.

Obras no Três Pinheiros estão 40% concluídas



Obras no Três Pinheiros estão 40% concluídas

Foto: Mônica Pereira/GES-ESPECIAL

Ray detalha que a parte da nova contenção que já foi construída está desempenhando a função. Agora, são esperados os resultados dos ensaios da boroscopia e dos DHPs para que a empresa responsável pelo projeto executivo autorize o avanço das escavações ou faça as mudanças necessárias.

O engenheiro atesta que a geotecnia tem uma série de fatores variáveis. “A gente está furando e não consegue ver o que tem ali dentro, se tem água, a resistência. Isso traz dificuldade e temos que ir contornando e ajustando ao decorrer da obra”, comenta Ray.

Atualmente, a Roxor está com 17 pessoas trabalhando no canteiro de obras. O engenheiro reforça que, devido a expertise necessária, a equipe é fixa da empresa, que tem sede em Chapecó, em Santa Catarina.

40% da obra executada

Equipe da Prefeitura de Gramado e da Roxor Engenharia em vistoria nas obras de contenção na localidade



Equipe da Prefeitura de Gramado e da Roxor Engenharia em vistoria nas obras de contenção na localidade

Foto: Mônica Pereira/GES-ESPECIAL

De acordo com a empresa, a obra está cerca de 40% concluída. Dependendo dos resultados das investigações do solo e do funcionamento dos DHPs, os engenheiros apontam que é possível concluir até junho. As áreas de geotecnia e de construção civil vão seguindo juntas. “Conforme a gente for liberando novos trechos para a injeção dos tirantes, vamos construindo os novos painéis de concreto”, frisa Ray.

O engenheiro civil da Roxor, Nelson Pio Neto, frisa que é o clima que dita o andamento das obras. “Precisamos de tempo seco. A maior dificuldade do cronograma é a chuva”, enfatiza.

“Encontramos um fato novo e precisamos definir estratégias de trabalho para eliminar a água e estabelecer o procedimento de ancoragem. A gente está encontrando problemas e estamos buscando as melhores decisões técnicas possíveis. Vamos fazer do jeito certo para não termos problemas”, finaliza Ray.

O secretário adjunto de Governança, Anderson Menezes, declara que o diálogo entre as equipes é constante para buscar a resolução dos problemas. Ele aponta que conta também com o respaldo da Defesa Civil Nacional, que tem atendido aos pedidos com rapidez.

Esta é a primeira fase da obra, pois será necessário, também, fazer o grampeamento do morro e outra etapa na Rua Ladeira das Azaleias. Anderson acentua que ajustes estão sendo realizados no projeto. Após a finalização e aprovação da Defesa Civil Nacional – que deve aportar recurso para a execução – será aberto o processo de licitação.

Municípios afetados

Passados oito meses da maior catástrofe climática já enfrentada pelo Rio Grande do Sul, os caminhos para a reconstrução seguem em andamento. Os problemas que afetaram o Estado podem ser divididos em dois principais eixos: inundações e deslizamentos de terra. É nesse último tópico que um estudo do Instituto de Geociências da Universidade Federal do RS (IGeo/Ufrgs) se concentrou.

Com as chuvas recordes de maio, os pesquisadores mapearam 16.862 movimentos de massa no território gaúcho. A análise abrangeu uma área de aproximadamente 18 mil km², utilizando imagens de satélite de alta resolução. A gravidade dos dados, transformou o mapeamento em uma ferramenta essencial para avaliar riscos remanescentes e planejar ações de curto, médio e longo prazo.

O levantamento dos pesquisadores abrange os 150 municípios mais atingidos por movimentos de massa na região hidrográfica do Guaíba, com foco nos 60 municípios com o maior número de cicatrizes. O ranking é liderado por Caxias do Sul (656 cicatrizes), seguido por Veranópolis (636), Agudo (540), Bento Gonçalves (516) e Fontoura Xavier (485). Esses números refletem o acumulado de chuvas e a presença de terrenos íngremes nessas localidades.

Na região, Nova Petrópolis (11º lugar), Gramado (25º), Canela (28º) e São Francisco de Paula (36º) também figuram entre os 60 mais prejudicados.

“Esses municípios possuem áreas urbanas significativas em zonas de risco e precisam estar atentos a isso. Os desastres geológicos geralmente têm consequências mais fatais. A sobrevivência é rara em eventos desse tipo, por isso prevenir é sempre o melhor caminho”, aponta Clódis Andrades-Filho, professor do IGeo e coordenador do Laboratório de Sensoriamento Remoto Geológico, Geomorfológico e Dinâmicas de Paisagem (Latitude). 

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