Por que a safra gaúcha de uva é considerada surpreendente?

Um levantamento técnico da Emater/RS-Ascar em 55 municípios gaúchos, a maioria da Serra, aponta para uma safra de uva surpreendente. A explicação está no volume de produção, que deve ser 55% maior em relação à safra anterior e 5% acima dos números considerados normais pelo setor no Rio Grande do Sul.

Safra de uva surpreende na Serra Gaúcha e fica acima da média histórica | abc+



Safra de uva surpreende na Serra Gaúcha e fica acima da média histórica

Foto: Divulgação/Emater

Segundo a Emater, a produção deve chegar a 860 mil toneladas de uva. O cálculo engloba toda a fruta com propósito comercial, ou seja, para transformação industrial (745 mil toneladas), doméstico (15 mil toneladas) e para consumo in natura (100 mil toneladas).

A colheita da variedade mais cultivada na região, a Bordô, que deveria acontecer em fevereiro, foi antecipada em 20 dias, o que indica que a vindima poderá encerrar no final do mês de fevereiro.

“As cultivares superprecoces e precoces apresentaram ótima sanidade das bagas, coloração e teor de açúcar. Mantendo-se as condições climáticas semelhantes às atuais, as variedades de ciclo médio e as tardias (Cabernet Sauvignon, Moscatos, Isabella) deverão apresentar a mesma qualidade”, analisa a Emater.

Conforme o engenheiro agrônomo do escritório regional da Emater em Caxias do Sul, Enio Ângelo Todeschini, com os desastres naturais que marcaram o ano de 2024, especialmente o excesso de chuvas no outono e inverno, era de se esperar uma safra com sérias deficiências.

“Surpreendentemente houve uma ótima brotação, fertilidade dentro da média e tamanho/peso dos cachos acima da média”, afirma o especialista.

Segundo Todeschini, contribuíram para isso o acúmulo de horas de frio, embora mal distribuído, um pouco acima da média histórica; a alternância fisiológica; a ausência de geadas tardias; e as condições climáticas do período de setembro a dezembro.

O período foi de temperaturas mais baixas à noite e médias diurnas abaixo do padrão histórico, favorecendo o florescimento, o desenvolvimento e a maturação das bagas, bem como a sanidade da cultura, reduzindo as intervenções fitossanitárias.

A técnica que foi decisiva para o sucesso da safra

Todeschini destaca ainda a importância de outra prática que vem sendo trabalhada pela Emater/RS-Ascar há décadas: o uso de planta de cobertura do solo.

“É a prática cultural de maior adesão e efeitos a médio e longo prazo, reduzindo o uso de herbicidas e fertilizantes, as perdas de solo, nutrientes e água. A cada ano que passa, o manejo imprimido aos pomares vem sendo aperfeiçoado, refletindo-se em aumento da produtividade ou, como nessa safra, na redução das perdas”, conclui.

E o preço pago ao produtor?

Com relação ao preço recebido pelo produtor, o extensionista lembra que, embora houvesse uma expectativa inicial de a indústria remunerar com valores minimamente semelhantes aos da safra anterior devido aos baixos estoques de produtos, à medida que foi se constatando uma safra maior, prevaleceu a lei da oferta e da procura, “na qual a precificação sempre segue uma curva inversamente proporcional à oferta do produto”, informou a Emater.

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