Com ânimo de recuperação, projeção de colheita da uva é de 700 mil toneladas

Maior produtor de uva e vinhos do País, o Rio Grande do Sul abriu a colheita deste ano com a expectativa de colher 700 mil toneladas da fruta. A abertura oficial da colheita ocorreu na Serra Gaúcha, região pioneira na cultura vitivinícola no Estado, no último no dia 16 de janeiro. Estima-se que 15 mil famílias gaúchas cultivem uvas no Rio Grande do Sul, o que chega a 48 mil hectares de parreiras, que descerram a Serra e hoje estão em várias regiões do Estado, dos vales à Campanha.

Colheita de uvas foi aberta oficialmente em 16 de janeiro, na Serra Gaúcha | abc+



Colheita de uvas foi aberta oficialmente em 16 de janeiro, na Serra Gaúcha

Foto: Fábio Ribeiro dos Santos/Embrapa

Durante a cerimônia de abertura da safra, realizada no distrito Faria Lemos, em Bento Gonçalves, o secretário da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi), Clair Kuhn, disse que a expectativa é de uma “safra cheia” e falou em retomada da produção. “E expectativa de alta qualidade dos frutos, que terão impactos diretos na produção dos nossos vinhos, espumantes e sucos”.

No entanto, o pico de produção dos últimos anos ocorreu em 2023, quando o Estado colheu 907 toneladas de uvas. No ao passado, segundo dados do IBGE, a colheita rendeu 703 mil toneladas. Os efeitos do clima explicam a quebra na colheita em 2024. O regime de chuvas, as horas de frio e o calor todos no tempo certo favorecem a safra. Quando um ou mais desses fatores se desalinha, os parreirais sentem.

Em 2024, a chuva cessou no tempo certo, favorecendo o desenvolvimento das uvas a partir de agosto e setembro. E agora, com calor e estiagem, há casos em que os cachos estão amadurecendo antes do tempo. Por isso o otimismo com a colheita, mesmo que em números ainda não bata o recorde dos últimos anos.

Chuvas em 2023 tiveram impacto direto na safra do ano passado

A retomada a que se referiu o secretário Kuhn se deve à quebra na safra registrada no ano passado, quando a safra de uva para industrialização de 2024 no Rio Grande do Sul teve uma queda de 26,58% em relação a 2023, segundo dados do Sistema de Declarações Vinícolas (Sisdevin) da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi).

Secretário Clair Kuhn, ao centro, na abertura da safra da uva em Bento Gonçalves, em 16 de janeiro | abc+



Secretário Clair Kuhn, ao centro, na abertura da safra da uva em Bento Gonçalves, em 16 de janeiro

Foto: Fernando Dias/Ascom Seapi

Para se ter uma ideia, tanto as uvas americanas ou híbridas, quanto as viníferas (utilizadas para elaboração de vinhos finos) registraram queda no comparativo com a safra anterior, de 24,5% e 41,05%, respectivamente. A avaliação, na época, divulgada pela Seapi, foi de que o excesso de chuvas na primavera e as doenças fúngicas, como míldio, foram apontadas como fatores que influenciaram a quebra da safra.

Para este ano, o clima ajudou e a expectativa é se recuperar

A quebra da safra ficou para trás. Para o gerente agrícola da Cooperativa Vinícola Aurora, Maurício Bonafé, a atual safra será marcada pela recuperação. No setor da cooperativa representa de 10% a 15% do total de uvas para processamento no Rio Grande do Sul. Para este ano, a estimativa é de colher 70 milhões de quilos de uva. A confiança das famílias produtoras e de Bonafé se explicam pelo clima. O gestor da Aurora aponta os efeitos mais menos do La Niña e que a estiagem em alguns períodos não deve causar perdas significativas na colheita.

“Todas as variedades estão com uma qualidade muito boa. O clima tem ajudado e o manejo acaba fazendo com que se extraia o máximo das características que precisamos para a elaboração sucos, vinhos e espumantes. As uvas para suco deverão ter boa cor e concentração de açúcares, as brancas viníferas com excelente nível de acidez e sanidade e as tintas também estão com boas perspectivas de qualidade”, resume o gerente.

O sentido de “reconstrução” na safra também abrange os efeitos das chuvas que assolaram o Rio Grande do Sul maio do ano passado. O excesso de chuvas também afetou as culturas da Serra. Além das chuvas em setembro de 2023 que afetaram diretamente a safra uva em 2024, a catástrofe climática de maio do ano passado também castigou a vitivinicultura. “Somente na Aurora foram 86 propriedades atingidas (7,82% do total de associados), com 75 hectares afetados, em diferentes níveis de prejuízos, pelos deslizamentos de terra em decorrência das chuvas. Em volume, serão, aproximadamente, 2,5 milhões de quilos de uva a menos nesta safra”, informou a cooperativa.

Uvas começaram a amadurecer e estão prontas

Produtor de uvas em Riozinho, Leomar José Pirolla, 45 anos, começou a colher a produção na primeira quinzena de janeiro. “O clima está bom”, avalia, ponderando que o desenvolvimento da uva teve certo atraso, mas que passou a amadurecer rápido. E o trabalho sob os parreirais precisa ser rápido, porque as uvas estão sendo disputadas por abelhas.

Na propriedade em Riozinho, a colheita de uvas se iniciou na primeira quinzena de janeiro | abc+



Na propriedade em Riozinho, a colheita de uvas se iniciou na primeira quinzena de janeiro

Foto: Leomar Pirolla/Especial

“Este ano parece não ter tanta flor no mato e as abelhas estão vindo direto nas uvas”, conta o produtor que trabalha com a família, a esposa Luciana Damasceno Hencke, 43 anos, o pai Anísio Antônio Pirolla, 77, e a mãe, Nilva Maria Pirolla, 67.

A expectativa de Pirolla com o “clima bom” deste ano se deve ao comparativo com a safra anterior. Os efeitos das chuvas foram sentidos por todos os produtores. O produtor de uvas de Riozinho detalha que, em comparação com a safra passada, nesta houve uma boa florada, entre setembro e outubro.

“Em 2023 teve chuva nesse período. Mas em 2024 foi diferente”, compara. No início de janeiro, os cachos estavam pronto, só faltando amadurecer. Com o tempo favorecendo, a estimativa era de que os 2 hectares plantados fossem colhidos rápidos dado o desenvolvimento das uvas.

O cultivo da família Pirolla vai para a indústria na região e também para a comercialização direta ao consumidor. Além disso, uma parte a própria família utiliza para a produção de vinho, sucos e vinagre. “Temos outras plantações, mas a uva é o nosso principal”, afirma Pirolla que segue a tradição iniciada pelo pai há mais de 50 anos. 

Uvas cultivadas na propriedade da família Priolla, em Riozinho, vão para a indústria e também para a venda direta ao consumidor | abc+



Uvas cultivadas na propriedade da família Priolla, em Riozinho, vão para a indústria e também para a venda direta ao consumidor

Foto: Leomar Pirolla/Especial

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