Pai e filho de Gramado fazem história e celebram conquistas das 12 Horas de Tarumã

Um Fiat Uno e um protótipo MC40. Os anos de 1987 e de 2024. As 12 Horas de Tarumã. O que tudo isso tem em comum? Os gramadenses André e Franco. Pai e filho que são apaixonados pelo automobilismo e campeões das pistas. Pela segunda vez, depois de 37 anos, o sobrenome Pasquale volta a figurar na taça de uma das corridas mais tradicionais do Brasil.

André e Franco Pasquale são campeões das 12 Horas de Tarumã



André e Franco Pasquale são campeões das 12 Horas de Tarumã

Foto: Mônica Pereira/GES-ESPECIAL

Com réplicas dos troféus e dos carros exibidas com orgulho, André, que tem 66 anos, conta que o amor pela alta velocidade está na terceira geração da família, que se fixou em Gramado em 1910. Apesar de não ter pilotado, o pai dele gostava de acompanhar as provas e o levava junto. Na época, ainda eram disputadas pelas ruas de Porto Alegre.

Um dos últimos campeões antes da corrida ir para o Autódromo Internacional de Tarumã, em Viamão, foi Emerson Fittipaldi. Bicampeão da Fórmula 1, o piloto brasileiro e o irmão, Wilson Fittipaldi Júnior, o Wilsinho, conquistaram a tradicional prova de 12 horas de duração, em dezembro de 1968, com um Fusca.

André ficou bem perto de se profissionalizar. Em 1982, foi para a Europa na busca da realização desse sonho. Contudo, o maior desafio sempre foi a questão financeira. O automobilismo exige muito investimento. Mesmo tendo alcançado boas colocações em campeonatos de nível nacional, o esporte acabou virando somente um hobby.

Mas parece que as habilidades no volante foram passadas ao filho. Franco, de 28 anos, está conseguindo uma trajetória vitoriosa. Desde 2012, são 13 pódios conquistados do kart, passando pela Fórmula Jr. até chegar no acesso da Stock Car.

História campeã

Na infância, os finais de semana da família eram curtidos em um kartódromo de Gramado. Inicialmente, alugavam o equipamento para poder treinar, até que André conseguiu adquirir um kart. Franco pilotou em etapas em Tarumã e no Velopark, em Nova Santa Rita, até ser campeão gaúcho, em 2012. “Eu não era nascido na época que o pai competia, mas via ele sempre correndo no kart. Fui pegando gosto”, destaca o piloto.

Por causa do custo para competir e treinar, André fez um trato com o filho. “Eu dizia que no dia que ele me ganhasse na corrida, eu ia parar e investir na carreira dele, e um dia isso aconteceu”, brinca. Nos anos seguintes, Franco competiu na Fórmula Jr., ficando em terceiro lugar no campeonato gaúcho e sendo vice-campeão da Copa Brasil.

Em meados de 2015, o gramadense começou a se aventurar com os protótipos e nas provas de longa duração, de até três horas. “Fui até a categoria nacional, que hoje é a Nascar Brasil, e cheguei no acesso à Stock Car, só que faltou dinheiro para seguir a temporada. Tive que voltar algumas categorias para continuar correndo”, explica o gramadense, ao lamentar não ter conseguido se profissionalizar ainda.

Atualmente, Franco está na equipe MC Tubarão e participa do campeonato Super Turismo, que é estadual e tem cinco corridas no ano. Em 2021 e 2023, ele ficou em terceiro lugar na disputa, já vencendo também as 6 Horas de Guaporé, na categoria TS.

Vitória repleta de significados

Na superação, MC Tubarão vence as 12 Horas de Tarumã 2024



Na superação, MC Tubarão vence as 12 Horas de Tarumã 2024

Foto: Gustavo Henemann/Agência Akyma

A disputa das 12 Horas de Tarumã ocorreu em dezembro do ano passado. Junto com outros dois pilotos, Franco encarou os desafios de uma parada técnica forçada logo no início da prova, depois que o protótipo MC40 #5 teve uma quebra de semieixo da roda traseira esquerda. Foram, ao todo, 537 voltas no circuito de Tarumã.

Depois da alegria da conquista, outra ainda maior: levantar junto com o pai a taça de campeão, 37 anos após a vitória de André. “Eu já tinha ganhado a corrida na categoria P3, mas foi a primeira vez na geral. Agora eu entendo a relevância que essa corrida tem. É uma felicidade estar com o meu nome gravado na taça, assim como o do pai”, afirma.

O calendário de provas de 2025 ainda não foi divulgado, mas a expectativa de Franco é que possa retornar às pistas em março.

Sempre em alta velocidade

Franco e André Pasquale são campeões das 12 Horas de Tarumã



Franco e André Pasquale são campeões das 12 Horas de Tarumã

Foto: Arquivo Pessoal

Por ter um perfil mais calmo, é Franco quem começa as corridas na equipe. Para ele, estar em alta velocidade é uma sensação indescritível. “Você vai se acostumando. A gente fica tão concentrado na próxima freada, em fazer tudo da melhor maneira possível, que nem olhamos o velocímetro. Sabemos que estamos acelerando ao máximo e buscando o limite do carro. A velocidade da reta a gente só descobre depois no box”, declara.

Outro ponto abordado por Franco é que o piloto precisa ter sensibilidade para entender o carro e saber o que é preciso para tornar o veículo mais rápido, assim como passar todas as “sensações” aos mecânicos e engenheiros.

Nesses anos de competições, o piloto sofreu um acidente grave, mas teve apenas ferimentos leves. Estava a 190 km/h quando o freio do carro não funcionou e ele bateu. “Deu tempo de avisar no rádio e o pai chegou antes da ambulância”, recorda.

Barreira do investimento financeiro

André e Franco Pasquale são campeões das 12 Horas de Tarumã



André e Franco Pasquale são campeões das 12 Horas de Tarumã

Foto: Mônica Pereira/GES-ESPECIAL

No final de 2024, o automobilismo ficou em evidência no País pela minissérie da Netflix, que mostra a vida do piloto brasileiro Ayrton Senna. Para percorrer o caminho de um dos maiores pilotos da história, do kart até a Fórmula 1, milhões de reais precisam ser investidos. “É bem difícil. Precisa de sorte, dinheiro e bons padrinhos”, argumenta André.

Depois de cerca de oito anos, o Brasil volta a ter um representante na Fórmula 1, o jovem Gabriel Bortoleto, representante da equipe Sauber. “Só de ele estar lá é um campeão, porque não é fácil”, destaca o piloto.

Franco, por exemplo, tem provas a cada dois meses. Ele cita que o ideal seria treinar o máximo possível. Porém, não tem como fazer esse investimento. Por isso, pega o carro somente um dia antes da corrida. Para não perder o ritmo e os reflexos, comprou um simulador, aliado a isso mantém uma rotina de atividades físicas.

Das 12 horas da corrida em Tarumã, Franco pilotou por cinco horas no total. “Precisa estar com o condicionamento físico em dia para aguentar, além do mental, porque estamos sempre buscando o limite”, argumenta, ao pontuar que o carro fica em uma média de 210 km/h. A maior velocidade já alcançada foi em Interlagos, em São Paulo, quando chegou a 270 km/h.

“Tenho capacidade de estar lá e competir no mesmo nível”

Franco é vinculado à Federação Gaúcha de Automobilismo e possui a maior graduação necessária para competir até na Stock Car. “Hoje eu vejo que a Stock Car é um caminho difícil, mas o que é viável e pode ser que aconteça é subir para a Endurance Brasil, que é o mesmo tipo de corrida que eu faço, só que é a nível nacional. Depois disso, quem sabe ser visto por alguma equipe internacional”, projeta.

Para o piloto, que no último ano teve apoio da Unicred, o mais difícil é conseguir os aportes financeiros para que o sonho se concretize. “Eu tenho capacidade de estar lá e competir no mesmo nível. Tudo é questão de viabilidade financeira, e eu esbarro nisso”, comenta. O objetivo é continuar ganhando provas e campeonatos para ser visto e mostrar o potencial. “Se a oportunidade surgir, eu estou preparado”, atesta. 

Adicionar aos favoritos o Link permanente.