CASO INDEAL: Paradeiro de mais de R$ 400 milhões da empresa de Novo Hamburgo vira mistério em Brasília

Enquanto os 15 réus da InDeal Consultoria em Mercados Digitais recorrem das condenações por fraudes financeiras, que juntas passam de 200 anos de prisão, milhares de clientes lesados pela empresa de Novo Hamburgo aguardam indenizações de aproximadamente R$ 500 milhões. O pagamento está autorizado pela Justiça e haveria dinheiro suficiente, só que o paradeiro da maior fonte dos recursos virou mistério.

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Malas cheias de dinheiro foram apreendidas com suspeitos

Foto: Arquivo/GES

A esperança dos investidores está nos 3.537,21068616 bitcoins apreendidos em novembro de 2020 nos Estados Unidos. A carteira de criptoativos estava na conta de Marcos Antônio Fagundes, um dos cinco sócios da InDeal. Conforme revelado pela reportagem do Grupo Sinos, foi vendida em outubro de 2022 por 68,5 milhões de dólares.

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“Com esse dinheiro, daria para pagar todos os credores habilitados em 30 dias, mas o problema é que a venda desses bitcoins sequer está no processo. Não há extrato, nada. Gostaríamos de saber do paradeiro e por que esse dinheiro não chegou ainda”, declara a advogada Nathália Costa, sócia da Medeiros Administração Judicial, responsável pela gestão da massa falida da InDeal.

Documentos

A InDeal tinha mais de 23 mil investidores, mas a maioria não se cadastrou na massa falida e uma pequena parte não conseguiu comprovar, por meio de documentos, o direito ao reembolso das perdas. No momento, segundo ela, há 6.216 clientes da empresa aptos às indenizações. Em imóveis, veículos, dinheiro, jóias e outros bens apreendidos, o patrimônio fica na casa dos R$ 15 milhões. Pelo menos um leilão deve ocorrer no primeiro semestre de 2025. “O patrimônio físico não cobre o passivo. O principal é esse montante de bitcoins”, observa a advogada.

O intrigante silêncio da cooperação internacional

Sete meses após a transação, a 7ª Vara Federal de Porto Alegre confirmou à reportagem a venda dos bitcoins por 68,5 milhões de dólares. Agora, porém, o órgão responsável pela ação penal não se manifesta a respeito do paradeiro do dinheiro. A única informação é que a repatriação é tratada em processo de cooperação internacional a cargo do Ministério da Justiça. Que também não se posiciona.

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“A gente tentou essas informações de várias formas e não obtivemos retorno”, salienta Nathalia. Ela diz que sequer tem a confirmação da venda dos bitcoins, que ficou sabendo pela reportagem. “Recebemos dezenas de contatos dos credores atrás de novidades, mas estamos de mãos atadas. Fazemos o que está ao nosso alcance juridicamente.” Nem o juiz da Vara de Falências de Novo Hamburgo, Alexandre Boeira, que já chegou a oficiar o Ministério da Justiça, obtém retorno de pedidos de informações.

Advogados acreditam em benefícios para economia da região

Para advogados de clientes da InDeal, as indenizações trariam benefícios à economia regional. “Teríamos um aporte de aproximadamente R$ 300 milhões somente nas regiões metropolitana, Vale dos sinos e Paranhana, considerando que a maioria dos credores são daqui”, salienta o advogado Rogério Faccin. Ele diz que a falta de informações está deixando os clientes apreensivos. “A própria administradora judicial não tem informação sobre a localização dos valores relativos à apreensão dos bitcoins.”

A decretação da falência da InDeal, em dezembro de 2022, é um dos fatores que abriu caminho para futura indenização dos investidores. “Desde 2019, quando houve a intervenção na empresa, nós acreditamos que os clientes eram vítimas e tinham direito a receber o valor investido”, expõe o advogado João Baptista de Mello Neto, que também questiona o destino dos bitcoins apreendidos.

“O administrador judicial e o juiz responsável vêm fazendo um trabalho extraordinário para que todos recebam. No entanto, não temos informações sobre o resultado da repatriação dos bitcoins. Por quê?”

Entenda o caso

A InDeal foi fechada na manhã de 21 de maio de 2019, pela Operação Egypto da Polícia Federal, com a prisão de cinco sócios e cinco colaboradores mais próximos. Todos foram soltos.

No mesmo dia, foram apreendidos mais de R$ 1 milhão em dinheiro e vários bens de luxo, entre carros, jóias e roupas. A maior parte dos mandados foi cumprida em cidades como Novo Hamburgo, São Leopoldo, Campo Bom e Estância Velha. Imóveis de alto padrão também foram colocados à disposição da Justiça.

Com a promessa de juros de 15% ao mês, a InDeal atraiu milhares de investidores e arrecadou R$ 1,1 bilhão desde 2017. Os rendimentos, conforme a empresa, eram oriundos de aplicações em bitcoins. O maior prejuízo individual foi de um médico do Vale do Sinos, que aplicou R$ 800 mil.

O nome da operação sugere que a InDeal era uma pirâmide financeira. Os crimes apurados são de operação de instituição sem autorização legal, gestão fraudulenta, apropriação indébita, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

No dia 19 de janeiro do ano passado, os dez que tinham sido presos e mais cinco réus foram condenados a penas somadas de mais de 200 anos de prisão. Estão recorrendo em liberdade. Alegam que não agiram de má-fé.

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