‘O sol brilha para todos’: Com mais de 100 mil moradores, conheça a história da Baixada da Sobral, maior aglomerado de bairros de Rio Branco


Regional que começou com uma fazenda se tornou uma das regiões mais populosas da capital acreana, atualmente com 18 bairros, e foi berço de personalidades como Gleici Damasceno e o goleiro Weverton. Moradores escolheram nome ‘Baixada do Sol’ para a regional entre 2008 e 2009, mas acabou não sendo adotado oficialmente. 15 bairros da regional são cortados pela Avenida Sobral
Reprodução/Google Street View
“Quando eu cheguei, tudo isso aqui era mato”
Não é incomum ouvir pessoas mais velhas falarem isso, especialmente em Rio Branco, onde o desenvolvimento urbano está relacionado à exploração de terras por latifundiários. No caso da Baixada da Sobral, o maior aglomerado de bairros da capital acreana, isso se confirma.
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Atualmente, a regional se confirma como o maior aglomerado de bairros de Rio Branco. No total, mais de 100 mil pessoas moram nos 18 bairros existentes na localidade, ultrapassando até a quantidade de moradores de Cruzeiro do Sul, segunda maior cidade do estado.
O bairro Sobral herdou o nome de uma fazenda que funcionava no local. A região cresceu em volta do estabelecimento e do Aeroporto Francisco Salgado Filho, que deu origem ao bairro Aeroporto Velho.
Aeroporto Francisco Salgado Filho, que funcionava na região que deu origem ao bairro Aeroporto Velho
Reprodução/Blog Fala Baixada
De acordo com o estudo “Percepção de risco dos moradores de área com inundações recorrentes: análise nos bairros da Baixada da Sobral”, do curso de Geografia da Universidade Federal do Acre (Ufac), este desenvolvimento se deu, principalmente, na década de 1970, após o fim do segundo ciclo da borracha.
“Quando o sistema extrativista da borracha entrou em crise, o governador Vanderley Dantas decidiu estimular a vinda de grandes empresas, fazendeiros e especuladores de terras para o Acre e, dessa forma, o Estado passou de um sistema econômico baseado no extrativismo para uma economia agrícola”, ressalta a pesquisa.
Crescimento do local
O estudo explica ainda que os primeiros bairros da região da baixada foram Aeroporto Velho, Bahia, Palmeiral, Glória, Pista, Bahia Nova, João Eduardo I e João Eduardo II. A partir de 1983, outros bairros começaram a surgir.
Nessa época, foi quando a professora Janete Figueiredo chegou ao bairro Sobral. Ela, que já foi presidente da associação de moradores do bairro por seis mandatos e conselheira municipal representando a regional, lembra que a região se desenvolveu muito.
Fazenda Sobral, em Rio Branco, que deu origem ao bairro de mesmo nome
Reprodução/Blog Fala Baixada
“Era o povo que vinha da zona rural, dos seringais, e não tinha conhecimento, não tinha intimidade com a rua. Vieram para cá, para a Baixada. Aquele pessoal antigo foi se juntando. Era uma fazenda, com o nome de Fazenda Sobral. Então, começou dali, e foi evoluindo. Na época que eu cheguei aqui, o que funcionava? Era o Aeroporto Velho, a única coisa que funcionava, era só até ali. O ônibus que vinha do Centro, só vinha até ali. Para cá, para cima, não tinha mais nada. Só tinha fazenda, gado, boi. Começou evoluindo, evoluindo, evoluindo, e já estamos em 18 bairros”, relembra.
Janete Figueiredo mora há mais de 40 anos no bairro Sobral
Mardilson Gomes/Secretaria de Educação
‘O sol brilha para todos’
Atualmente, compõem a Baixada da Sobral os seguintes bairros:
Preventorio
Palheiral
Bahia Velha
Bahia Nova
João Eduardo I
João Eduardo II
João Eduardo III
Glória
Pista
Aeroporto Velho
Airton Sena
Boa União
São Sebastião
Boa Vista
Sobralzinha
Santo Afonso
Plácido de Castro
João Paulo
Entre os anos de 2008 e 2009, os moradores participaram de uma eleição que escolheu um nome para a regional. O nome, escolhido por votação popular, foi apresentado ao conselho municipal, mas não chegou a ser adotado oficialmente.
“A gente [conselheiros municipais] falava aqui da região, como era a nossa região, o que tinha de bom, o que tinha que se mudar. Foi crescendo [o bairro], e começaram a dar a ideia de escolher um novo nome para a regional, porque não tinha só a Sobral. E aí ficou Baixada do Sol, que tem a ver com movimento, com alegria. Porque aqui é periferia, mas o povo é alegre, o povo é hospitaleiro, o povo acolhe as pessoas. Não tem aquele negócio de andar no salto alto. O sol é aquela coisa lá em cima, né? Brilha, por onde você passa, ele brilha para todo mundo”, acrescenta Janete.
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Na regional que acolheu pessoas de origens tão diferentes, a produtora cultural Arinete Araújo se encontrou. Ela também se lembra dos bairros ainda no estágio inicial de desenvolvimento.
“Quando eu cheguei, tinha três casas. Foram montando, depois disso surgiram vários moradores, e veio o primeiro presidente, que era conhecido por ‘Bazin’, e vieram outros. Aí foi tendo um início, um pontapé da comunidade aqui da Baixada, que foi um histórico. Eu comecei, depois de tudo isso, a participar da igreja, a gente foi para a Pastoral da Criança, onde atendíamos 53 famílias. Eu passei oito anos à frente, junto com a Janete [Figueiredo], que era a presidente, com outras meninas também, com o meu irmão, e outro pessoal da comunidade, ajudando as pessoas carentes. Aí, mesmo período, era na comunidade, nas ruas, formação, reunião, associação morador de bairro”, conta.
Com o passar dos anos e o envolvimento com a comunidade, Arinete também participou da formação da quadrilha junina Assanhados na Roça, que representa a regional, e já existe há cerca de 30 anos.
Arinete conta que a junina surgiu a partir de uma ideia de Janete, que notou a falta de opções de lazer e diversão na região, apenas alguns campos de futebol e igrejas.
Ela entrou na organização para ajudar na presidência por um mês, pois, como deficiente, tinha direito a um cartão de ônibus especial, o que facilitava na participação em reuniões no quadrilhódromo, que ficava longe da regional. Porém, acabou sendo escolhida como líder da junina, e ajudou a desenvolver.
“A gente corria atrás de ir para a reunião, e aí começou a vir um bairro, começou a vir outro, aí nós sentávamos com os moradores para escolher os nomes dos bairros. Participei de várias coisas, do João Eduardo também, que, através da igreja, a gente fazia todo o acompanhamento, aquela luta na assistência social, economia solidária, Mesa Brasil”, ressalta.
Célebres moradores
Gleici foi recebida por uma multidão no bairro que morava com a família
Aline Nascimento/G1
Goleiro titular da seleção brasileira de futebol na conquista do então inédito ouro olímpico nas Olímpiadas do Rio de Janeiro, em 2016, e vencedora do reality show Big Brother Brasil, da Rede Globo, em 2018. Estes são os dois maiores exemplos de moradores famosos da Baixada da Sobral.
Gleici Damasceno, de família humilde da periferia da capital, tem dois irmãos, 15 tias e 50 primos, e é a única deles a ter concluído o ensino médio e a fazer curso superior. Ela também é militante dos direitos humanos e da juventude negra. Após quase 90 dias confinada, Gleici venceu o reality com 57,28% dos votos. Pouco tempo depois da vitória, ela voltou à baixada, onde foi recebida por uma multidão.
“Não sabia a dimensão disso aqui. Parece que estou sonhando. Não sei explicar o que é porque nunca vivi isso. Estou nervosa, até tremendo”, contou Gleici.
Vestido com camisa da amarela, o boneco foi colocado de braços abertos. Uma bandeira do Brasil também foi pendurada no mesmo local. O ge entrou em contato com familiares do jogador em Rio Branco, mas foi informado que nem o boneco e nem a bandeira foram colocados pela família. Quem também homenageou Weverton foram as crianças da Creche Sorriso de Criança, situada da região da Baixada da Sobral, na capital acreana. Ao lado dos educadores, as crianças produziram banners personalizados para o goleiro.
Arquivo pessoal
E a grande população da baixada não costuma abandonar os seus. O goleiro Weverton ganhou uma homenagens dos torcedores acreanos na véspera da estreia da Seleção na Copa do Mundo do Catar, em 2022. Um boneco que simboliza o jogador acreano foi pendurado em cima de uma placa de sinalização na Avenida Sobral.
Vestido com camisa da amarela, o boneco foi colocado de braços abertos. Uma bandeira do Brasil também foi pendurada no mesmo local. O ge entrou em contato com familiares do jogador em Rio Branco, mas foi informado que nem o boneco e nem a bandeira foram colocados pela família.
Quem também homenageou Weverton foram as crianças da Creche Sorriso de Criança, situada na baixada. Ao lado dos educadores, as crianças produziram banners personalizados para o goleiro.
VÍDEOS: g1
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