Apreensão de 21kg de ouro em aeroporto levou PF a investigar grupo que movimentou R$ 4 bilhões com garimpo ilegal no Pará


Operação Flygold II mirou grupo que recrutava estrangeiros para contrabandear ouro para outros estados e até para o exterior, segundo a PF. Ação apreendeu armas de grosso calibre em Itaituba, no interior do Pará; 7 suspeitos estão foragidos. Polícia Federal cumprindo mandado de busca e apreensão em um dos alvos da operação (à esquerda); Armas e outros objetos apreendidos pela PF (à direita)
Polícia Federal / Divulgação
Uma apreensão de 21kg de ouro com um estrangeiro no Aeroporto Wilson Fonseca, em Santarém, no oeste do Pará, levou a Polícia Federal a desencadear as investigações da operação Flygold II deflagrada na última quarta-feira (11) em seis estados.
A investigação, que mirou uma organização criminosa responsável pelo transporte ilegal de ouro extraído de terras indígenas, incluindo a Terra Indígena Munduruku, no Pará, revelou um esquema de proporção bilionária com ramificações em São Paulo, Paraná, Goiás, Roraima e Amapá.
Segundo a PF, a investigação foi iniciada após a prisão de um homem, de nacionalidade venezuelana, que tentou embarcar com 21kg de ouro em barras, avaliadas em R$ 7 milhões, em Santarém com destino a Manaus, no Amazonas, na madrugada de 28 de outubro de 2023.
Após o flagrante, a PF passou a investigar o caso e monitorar contrabandistas. Por cerca de um ano, o grupo alvo da operação transportou ilegalmente cerca de uma tonelada de ouro do Pará para outros estados e países, movimentando mais de R$ 4 bilhões.
Foram expedidos 9 mandados de prisão na operação, mas apenas duas pessoas foram presas em Itaituba na quarta-feira (11) — onde um arsenal de 20 armas, incluindo fuzis, foi encontrado. Outros sete suspeitos continuam foragidos.
Os nomes dos alvos não foram divulgados e as investigações ainda seguem em sigilo, segundo informou a PF.
Barras de ouro apreendidas no aeroporto de Santarém em 28/10/2023
Divulgação/PF

Grupo recrutava estrangeiros, diz PF
Segundo a PF, a organização criminosa recrutava, principalmente, estrangeiros – em grande parte venezuelanos – para transportar o ouro.
Eles despachavam bagagens cheias de ouro em voos comerciais, utilizando documentos falsos ou empresas fantasmas para mascarar as operações financeiras.
A operação resultou na apreensão de:
R$ 615 milhões em bens e valores, incluindo joias e carros de luxo, como modelos avaliados em até R$ 1 milhão cada.
Mais de 20 armas de grosso calibre, como fuzis 556, revólveres calibre 357 e pistolas 9mm, parte delas encontrada exposta em uma parede. O arsenal foi apreendido em Itaituba.
Uma moto aquática usada pelos criminosos, reforçando o alto padrão de vida financiado pelo esquema.
Carros de luxo foram apreendidos no município de Itaituba, região sudoeste do Pará
Garimpo ilegal no Pará
A Terra Indígena Munduruku, no Pará, é uma das mais afetadas pelo garimpo ilegal na Amazônia.
Segundo um estudo divulgado em março deste ano, até dezembro de 2023, eram 7 mil hectares ocupados pelo garimpo ilegal, sendo que 5,6 mil hectares foram destruídos nos últimos cinco anos (entre 2019 e 2023).
Um estudo recente da Fiocruz também mostrou que os indígenas dessa região estavam com níveis alarmantes de mercúrio no corpo, metal pesado utilizado em garimpos para a purificação do ouro.
O governo federal faz desde 9 de novembro uma operação para retirar invasores e destruir equipamentos ligados ao garimpo ilegal na TI, localizada principalmente em Jacareacanga e também em Itaituba.
Com prejuízo estimado em R$ 74 milhões ao garimpo, a força-tarefa envolve 20 órgãos federais, que já realizaram mais de 300 ações em 2,3 milhões de hectares. A operação, que está no segundo mês, visa inviabilizar a atividade criminosa e proteger os 9.257 indígenas que habitam o território.
PF atua contra garimpo ilegal na T.I. Munduruku, no PA.
PF PA
Carros de luxo apreendidos em Itaituba-PA, na Operação Flygold II
Polícia Federal / Divulgação
Armas estavam na parede da residência

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