Número de famílias brasileiras sem condições de pagar dívidas atrasadas chega ao maior patamar já registrado no mês de novembro


Oito em cada dez famílias brasileiras que ganham até três salários mínimos estão endividadas, segundo a Confederação Nacional do Comércio. Cresce o número de famílias brasileiras sem condições de pagar dívidas atrasadas
Em novembro, o número de famílias brasileiras sem condições de pagar dívidas atrasadas chegou ao maior patamar já registrado em um mês de novembro.
É uma conta que nem todo mundo consegue pagar. Na história da vendedora e auxiliar de odontologia Caoa Pereira, o sonho é terminar de pagar a faculdade e a dívida é no cartão de crédito.
“Vai parcelando, vai parcelando. Acho que esse mês eu consigo pagar. Vamos rezar para sim”, diz.
Oito em cada dez famílias brasileiras que ganham até três salários mínimos tem algum tipo de dívida, segundo a Confederação Nacional do Comércio.
“Eu compro mais, assim, é alimentação. Querendo ou não, você acaba parcelando porque as coisas estão muito caras no mercado”, conta a dona de casa Maria Aparecida Santiago.
Quase 13% das famílias estão em uma situação pior: dizem não ter condições de pagar dívidas atrasadas. Esse é o maior número já registrado em um mês de novembro. A taxa é ainda maior entre as famílias de renda mais baixa: ultrapassa os 18%.
Um cenário onde falta de educação financeira, explica o professor de Finanças, Fabio Gallo.
“Não houve também a recomposição da renda real do trabalhador depois da pandemia, embora tenha melhorado muito, o desemprego está muito baixo em termos históricos brasileiros. Mas essencialmente eu atribuo ao fato da falta de educação financeira das pessoas. Grande parte da nossa população recorre ao crédito consignado. Só que você pega, pode ir em banco de varejo normal, vai encontrar a 4,5% ao mês. As pessoas não têm noção que 4,5% ao mês significa 69,6% ao ano. Nossa inflação, por exemplo, está projetada para 2024 completa em 4,8%. Ou seja, você está gastando de juros em um mês a inflação toda do ano”, afirma Fabio Gallo, professor de finanças da FGV-SP.
Cresce o número de famílias brasileiras sem condições de pagar dívidas atrasadas
Reprodução/TV Globo
Quem procura feirões para quitar débitos, como o organizado pela Câmara de Dirigentes Lojistas de Uberaba, em Minas Gerais, conta histórias que se arrastam.
“A minha dívida atrasou, depois eu parcelei, e nessas cinco parcelas ou seis, eu já paguei a maioria. Ficou faltando duas, duas de R$ 400 e pouco. Agora, já está em quase R$ 4 mil”, conta a dona de casa Ivone Machado.
As contas vencidas do personal trainer Giuseppe Barberato chegaram a R$ 5 mil:
“Eu estou, hoje, organizando tudo para arrumar minha vida. Minha vida financeira e também pessoal, porque deixar rastros para trás a vida pessoal também não anda”.
As dívidas arrastadas não atrapalham só a vida dos brasileiros dessa reportagem. Muitas pessoas endividadas formam famílias que consomem menos, já que sobra menos para gastar, e formam um país que cresce menos. O orçamento apertado dentro de casa afeta toda a economia brasileira.
“Só tem uma saída: a gente buscar realmente uma situação econômica mais benéfica para todo mundo, com taxas de juros mais baixas, que tenha a possibilidade de ter uma inflação mais baixa e que você eduque financeiramente as pessoas. Senão, vamos continuar nessa situação”, afirma Fabio Gallo.
Cresce o número de famílias brasileiras sem condições de pagar dívidas atrasadas
Reprodução/TV Globo
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