Frio, chuva e ciclone em dezembro? O que explica tempo atípico deste mês

Diferente do que costuma ser esperado para os meses de dezembro no Brasil — quando os dias tendem a ser bem quentes —, os primeiros dez dias deste mês têm tido chuvas e temperaturas mais baixas. Com duas ondas de tempestade, volumes de chuva de até 300 milímetros no Sul e um ciclone bomba no Rio Grande do Sul, o padrão meteorológico observado até agora muito mais recorda os meses do inverno, conforme destaca a MetSul Meteorologia.

Chuva e frio em dezembro faz mês ser diferente do esperado | abc+



Chuva e frio em dezembro faz mês ser diferente do esperado

Foto: Letícia Breda/GES-Especial

“O ciclone bomba do começo deste mês talvez seja o exemplo mais marcante de como este dezembro até agora foge ao habitual no clima. Ciclones extratropicais se formam em qualquer época do ano no Atlântico Sul, mas é altamente incomum que haja uma ciclogênese explosiva em latitudes médias, como se viu, em pleno dezembro”, afirma a MetSul.

Conforme explicam os especialistas, como um dos fatores para a formação destes ciclones mais intensos são as massas de ar frio de maior potência, a formação de um ciclone bomba nessas latitudes não é frequente no inverno e muito menos no fim do ano. Assim também, o avanço de massas de ar frio em uma época do ano em que o calor já predomina favoreceu a ocorrência de duas ondas de tempestades em apenas cinco dias.

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No Sul do Brasil, os acumulados de precipitação somente nos primeiros dez dias do mês foram de 300 a 350 milímetros em alguns pontos do Paraná; de até 250 milímetros em diversos municípios de Santa Catarina; e no Rio Grande do Sul, acima de 100 milímetros, com marcas isoladas de 150 a 200 milímetros em diferentes pontos da metade norte.

Houve registro de madrugadas no Sul do território gaúcho onde os termômetros chegaram a 5°C. No último domingo (8), inclusive, cidades da Serra registraram cerca de 13°C, o que é mais comum nos meses frios do ano.

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Em Campo Bom, dezembro tem sido muito atípico. A cidade que costuma registrar forte calor nos meses de verão, teve neste mês, a menor temperatura média na localidade do Vale do Sinos desde 1990, segundo o observador meteorológico da cidade, Nilson Wolff.

Mas o que explica esse tempo?

Conforme a MetSul, não há apenas um fator que explique o motivo pelo qual este mês de dezembro tenha tido tantos fenômenos e condições do tempo que são mais comuns nos meses de inverno.

“No Oceano Pacífico, o sinal é misto neste momento. O Pacífico Equatorial Centro-Leste mesmo sem La Niña, apresenta neutralidade fria. Ou seja, uma condição que favorece incursões tardias de ar frio. Por outro lado, as águas oceânicas na costa do Peru durante as últimas semanas aqueceram com anomalias positivas de temperatura superficial, o que favorece mais chuva no Sul do Brasil”, ressalta.

O fator principal, contudo, está muito ao Sul e na região antártica, diz a MetSul sobre a análise do clima feita por eles. “A chamada Oscilação Antártica (AAO) ou Modo Anular Sul apresenta desde o começo do mês valores negativos a muito negativos, condição que historicamente proporciona mais ingresso de ar frio e aumento da chuva no Sul do Brasil, além do aumento de ciclones em latitudes médias”, explicam os profissionais.

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A Oscilação Antártica trata-se de um índice de variabilidade relacionado ao cinturão de vento e de baixas pressões ao redor da Antártida. Este cinturão se expande ou se contrai, conforme a fase da oscilação polar. Ela é uma das mais importantes variáveis que impacta as condições do clima no Brasil e no Hemisfério Sul, tanto em relação à chuva quanto à temperatura.

Ela possui duas fases: a positiva e a negativa. “Na positiva, o cinturão de vento ao redor da Antártida se intensifica e se contrai em torno do Polo Sul. Já na fase negativa, o cinturão de vento enfraquece e se desloca para Norte, no sentido do Equador, obviamente sem atingir a faixa equatorial.”

É quando há maior ondulação da corrente de jato na fase negativa que crescem as chances de episódios de chuva mais volumosa e ciclones. Alguns estudos indicam que quando ela está na fase negativa há maior propensão para chuva no Sul e Sudeste do Brasil.

Como atua a Oscilação Antártica

“Independente da condição do Pacífico (El Niño, neutralidade e La Niña), períodos de AAO- (valores negativos da Oscilação Antártica) têm potencial de incrementar a precipitação no Sudeste da América do Sul com maior frequência de ingresso de massas de ar frio de origem polar nos meses de inverno”, observa a MetSul.

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