Os bastidores do apoio do PSB ao PT em Florianópolis

Ao longo de meses, PSOL e PSB caminharam juntos na construção de uma aliança para a eleição em Florianópolis em torno da candidatura a prefeito do deputado estadual Marquito (PSOL). Nominata de candidatos a vereador discutida, fotos em rede social, conversas avançadas para fechar apoio do PSB.

Parceria ao longo dos últimos meses davam a entender que Marquito teria o apoio do PSB

Conversas entre Marquito (à esq.) e o PSB de Florianópolis duraram meses e eram registradas pela sigla em suas redes sociais – Foto: Reprodução/PSB Florianópolis/ND

Eis que surge uma ordem da direção nacional do PSB e o jogo vira: o partido deve coligar-se com o PT e apoiar o candidato petista, Vanderlei “Lela” Farias. “Ordem do comando nacional não se discute, se cumpre”, afirma o presidente do diretório municipal do PSB, Homero Gomes, ele mesmo um entusiasta do apoio a Marquito, mas que, em nome da unidade do partido, acatou a ordem superior.

Apoio do PSB dependia de reciprocidade

A história da mudança de planos do PSB passa por uma palavra: reciprocidade. Em Santa Catarina, as siglas fecharam parcerias em diversas cidades, entre elas Garopaba, Imbituba e Penha.

O apoio do PSB ao deputado Marquito, no entanto, ficou condicionado à reciprocidade de apoio do PSOL em alguma capital.

“Era desejo de ambos os partidos em função da liderança do deputado Marquito, que tem legitimidade para liderar o processo, mas havia a necessidade de uma demonstração inequívoca de reciprocidade por parte do PSOL, e precisava ser outra capital”, ressalta Homero Gomes.

Nas conversas, foi debatido o apoio do PSOL no Recife (PE), onde o prefeito João Campos (PSB) aparece muito à frente nas pesquisas. Sem acordo, foi a vez de tentar uma aliança em torno da candidatura do deputado federal Duarte Junior (PSB) em São Luís (MA). Nada feito também, restou a última cartada: o apoio ao candidato Luciano Ducci (PSB) a prefeito de Curitiba (PR).

“Pedimos Curitiba, onde o pré-candidato do PSOL aparece com 0,1% nas pesquisas. Houve uma sinalização de que poderiam retirar a candidatura e nos apoiar, o que me deixou esperançoso. Mas também não houve acordo e não restou alternativa ao PSB, o que lamentamos profundamente”, diz Gomes.

Chance de recomposição é remota

A crônica política já cansou de mostrar que, assim como no futebol, o jogo “só termina quando acaba”. No entanto, a chance de uma reviravolta que coloque todos no mesmo barco novamente é praticamente nula, pelo menos no primeiro turno.

“Não vislumbro qualquer chance de aliança. Não tem elemento algum para acreditar nisso, a não ser que haja algo nacional”, garante Gomes.

Não é, porém, o que pensa o presidente do diretório estadual do PSB, Israel Rocha. Ainda que considere muito difícil, Rocha nutre uma remota esperança de que tudo se acerte até o sábado. “Ainda queremos o apoio do PSOL”, afirma.

PT aguarda por “gesto” do PSOL

Pré-candidatos do PT e do PSOL exerceram mandato na mesma época na Câmara de Vereadores da Capital

PT ainda não desistiu de ver Lela e Marquito (ao fundo, à dir.) na mesma foto no primeiro turno – Foto: Reprodução/Redes sociais/ND

A posição é compartilhada com o presidente interino do PT estadual, Vitor Silveira, que disse ainda esperar “um gesto” do PSOL nestes dias que antecedem as convenções das siglas, marcadas para o próximo sábado, às 9h – a do PSOL, na Câmara de Vereadores, e a do PT, no auditório do Cesusc, em Santo Antônio de Lisboa.

“Estamos conversando e até lá muita água pode rolar”, avalia Silveira, para quem a aliança PT/PSB seguiu um “processo natural” que, entende, pode ter causado algum desconforto, mas foi um movimento necessário para criar condições de enfrentar os adversários, principalmente o PL, e que o fato de o PT ser o partido do presidente da República conta muito.

O que vem sendo oferecido ao PSOL é a vaga de vice na chapa de Lela. O nome, segundo o dirigente petista, sairia de uma decisão interna dos psolistas. “Seria um gesto para a cidade”, conclui.

Legitimidade de ambos os lados

Apesar de lamentar a falta de acordo entre os dois partidos, Homero Gomes vê legitimidade nas candidaturas, com base no que as siglas têm hoje de representatividade.

“Política se faz com liderança, não se faz em proveta, não na esquerda. O PSOL tem um deputado, tem três vereadores na Câmara de Florianópolis. O PT tem uma vereadora. Os partidos têm representatividade forte, têm legitimidade. É do jogo”, avalia.

Gomes invoca o momento político brasileiro para lamentar mais uma vez a situação que alterou o apoio do PSB. “Pelo momento que o país atravessa, é natural (a esquerda) buscar uma unidade, mas infelizmente não foi possível. A base exige e ela não está conseguindo entender essa situação.”

O sonho do presidente municipal do PSB era reeditar a frente ampla construída em 2020 em torno da candidatura de Elson Pereira (PSOL), com o petista Lino Peres de vice.

“É uma infelicidade. Em 2020 eu assumi a presidência do PSB para construir aquela frente ampla. Quem conseguiu construir aquilo se sente frustrado”, afirma Gomes, que aposta num eventual segundo turno para reunir todos em torno de uma candidatura de esquerda na cidade.

Processo traumático, diz Marquito

O deputado Marquito lamenta também que o namoro não tenha terminado em casamento, com a oficialização do apoio do PSB a sua candidatura. “Esse processo é traumático, e lamentamos que todo esse trabalho que viemos construindo há mais de um ano não tenha tido peso na decisão que foi tomada”, diz.

O candidato psolista destaca o caminho percorrido nas conversas e a parceria com o PSB. “Fizemos mais de 15 plenárias no nosso programa em movimento Floripa Mais Querida, e construímos cada uma junto a valiosos companheiros do PSB.”

Retomada futura

Namoro terminado, no entanto, não significa, na visão do deputado, o fim da possibilidade de a relação ser retomada, especificamente num eventual segundo turno.

“Essa relação é fruto de um trabalho muito artesanal. Nós garantimos apoios em importantes cidades do estado, atuamos junto à chapa de vereadores do PSB. Fizemos tudo que foi possível. Por isso sentimos essa retirada, mas seguimos firmes no nosso propósito de disputar a cidade, chegar no segundo turno e vencer essa eleição”, diz Marquito, de olho no apoio do PSB, PT e PC do B na disputa final.

Da parte do PT também há a convicção da possibilidade de um segundo turno que reúna os partidos de esquerda, mas, no caso, em torno da candidatura do petista. “Pesquisas apontam a possibilidade de o Lela ir para o segundo turno”, diz o presidente interino do PT catarinense.

 

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