Senadores ligados à saúde querem tirar ‘fumódromos’ do projeto de exploração de cassinos e bingos


Na avaliação de parlamentares, texto é ‘jabuti’ e ‘retrocesso’ e deve ser retirado durante a votação no plenário. Do contrário, senador petista defende veto de Lula ao dispositivo. Senadores médicos ou ligados à pauta da saúde querem retirar do projeto que libera o funcionamento de cassinos, bingos e jogo do bicho a previsão de que sejam criados fumódromos no país.
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Ralf Kunze/Pixabay
Na avaliação desses parlamentares, a medida é considerada um “jabuti” – jargão comum no Congresso para alterações em projetos que incluem temas não relacionados ao assunto original.
Desde 2011, uma lei proíbe a criação de áreas fechadas reservadas a fumantes. A regulamentação da medida foi feita em 2014.
Ao ser aprovado na Câmara dos Deputados, o texto que regulamenta os jogos de azar trouxe dois dispositivos que contrariam a atual legislação. Durante a votação na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, os artigos foram mantidos pelos parlamentares.
Pelo texto, “os estabelecimentos autorizados à exploração de jogos de cassino e de bingo deverão possuir áreas reservadas para fumantes”.
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‘Equívoco’
Presidente da Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado, responsável pelos debates sobre saúde, o senador Humberto Costa (PT-PE), que também é médico, chama o texto de “equívoco” e “insanidade”.
O parlamentar avalia que os fumódromos concentram a exposição dos fumantes aos componentes nocivos, ao mesmo tempo em que não oferecem proteção suficiente para os não-fumantes.
“O Brasil desenvolveu uma estratégia exitosa no combate ao tabagismo e na preservação das pessoas que têm contato com fumo, com fumaça. O fim do fumódromo foi um avanço importante”, diz.
O senador diz que vai apresentar uma emenda para retirar a medida do projeto e, se ela não for aprovada, pedirá ao presidente Lula que vete o dispositivo.
“É do interesse das indústrias do tabaco que as pessoas possam fumar com mais facilidade. E é do interesse dos donos de cassino e bingo que vão fazer com que as pessoas não interrompam o jogo para fumar”, avalia Costa.
Também médico, o líder do PSD, Otto Alencar (BA), chama a recriação dos fumódromos de “retrocesso”.
“Isso vai facilitar e pode comprometer muito a saúde. São quantas pessoas que já morrem por ano por câncer de pulmão? A nicotina tem efeito cumulativo, causa várias doenças que são muito comprometedoras da saúde”, avalia.
Outros dois parlamentares que integram a CAS, reservadamente, criticaram a medida e avaliam que ela deve ser retirada do texto durante a votação da proposta no plenário. Um deles defende a realização de audiência pública sobre o tema.
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JN
Votação apertada
Em entrevista ao Estúdio I, o relator do projeto no Senado, Irajá (PSD-TO), disse que esse não é o principal ponto da discussão da proposta.
“O fumódromo é uma discussão a ser também considerada, evidentemente. Nós precisamos ter uma preocupação com isso, em cada vez mais coibir a prática, o uso e o consumo de cigarro, seja cigarro eletrônico, seja cigarro tradicional. Mas essa agenda [da autorização dos jogos de azar] é uma agenda social e econômica. Nós precisamos lembrar disso. Nós estamos tratando aqui do fortalecimento do turismo nacional, uma indústria que gera milhões de empregos no Brasil”, afirmou.
Ao g1, a presidente da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), dra. Margareth Dalcolmo, avaliou que os dispositivos previstos na proposta representam um “atraso”.
“Mais uma tentativa absolutamente sem nenhum sentido, injustificada e grotesca de voltar a ter qualquer liberação desse hábito tão nocivo”, disse.
A proposta foi aprovada na semana passada pela CCJ do Senado, em votação apertada com 14 votos favoráveis e 12 contrários. O texto enfrenta resistência no Congresso, principalmente dos parlamentares mais conservadores e também da bancada evangélica.
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