Vídeo de youtuber americano em viatura é ‘tiro no pé’ da Polícia Militar de SP, diz Flávia Oliveira


Comentarista da GloboNews fala sobre filmagem de influencer estrangeiro ao lado de PMs na capital paulista. Secretaria de Segurança Pública investiga irregularidades. Flávia Oliveira: Vídeo de youtube é ‘tiro no pé’ da PM de São Paulo
A participação de um youtuber americano em ações da Polícia Militar em favelas da Zona Norte de São Paulo é alvo de investigação da Secretaria de Segurança Pública (SSP), que analisa imagens que mostram Gen Kimura dentro de viatura, segurando armas e utilizando equipamentos da corporação.
Para a comentarista Flávia Oliveira, da GloboNews, as imagens prejudicam a reputação da Polícia Militar de São Paulo.
“É algo, do ponto de vista até mais objetivo, que não qualifica o trabalho da polícia de São Paulo. Pelo contrário, desmoraliza esse trabalho. Me parece que se a intenção era, em alguma medida, aproximar da transparência, da visibilidade a uma operação, o efeito é absolutamente desmoralizante. É assim que a Polícia de São Paulo trabalha? … Então, me parece que é – para usar um chavão da própria área – um ‘tiro no pé’ da corporação”, diz.
Segundo a comentarista, as imagens captadas pelo americano deveriam ser utilizadas na formação de novos policiais, como exemplo do que não ser feito.
“Esse vídeo deveria ser usado do ponto de vista pedagógico sobre o que não fazer. Ser adotado no treinamento de policiais de São Paulo e de outras praças sobre o que não fazer, como naquele jogo dos sete erros”, dizFlávia.
No vídeo, divulgado no canal do youtuber, ele documenta diversas incursões em comunidades. Segundo a SSP, tal prática é proibida e não foi autorizada pelo comando da PM.
“Um indivíduo sem formação, sem fazer parte da corporação, estrangeiro, midiático e segurando em armas. Vimos conversas inadequadas na porta do quartel, treinamentos e simulações de luta. Ele participa da operação como em um videogame e não tem nada de profissional por parte dos policiais”, completa.
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Irregularidades investigadas
As imagens foram feitas no dia 21 de abril, um domingo. No vídeos, ele aparece de colete da PM e narra perseguições feitas pelos agentes.
“Toda a dinâmica mostrada nas imagens, envolvendo um civil em práticas exclusivamente militares, não é permitida e fará parte das investigações”, diz a Secretaria de Segurança Pública.
No vídeo, ele também descreve a forma como os policias atuam nas periferias da cidade:
“Nós não achamos nada suspeito nas casas em que reviramos, mas isso não os parou [os policiais] de revistar as pessoas. Acho que muitas pessoas nos EUA chamariam isso de ‘profiling’ [busca por pessoas com suposto histórico criminal – metodologia apontada por especialistas como racista e discriminatória], mas nesse caso parece um recurso que eles precisam utilizar, especialmente em um ambiente tão imprevisível, não apenas pela segurança deles, mas para achar mais pistas sobre membros do tráfico. Como veremos adiante, eles foram certeiros no ‘profiling’ deles.”
YouTuber participa de operação da PM em SP
Reprodução/YouTube
No vídeo, ele também descreve a forma como os policias atuam nas periferias da cidade:
“Nós não achamos nada suspeito nas casas em que reviramos, mas isso não os parou [os policiais] de revistar as pessoas. Acho que muitas pessoas nos EUA chamariam isso de ‘profiling’ [busca por pessoas com suposto histórico criminal – metodologia apontada por especialistas como racista e discriminatória], mas nesse caso parece um recurso que eles precisam utilizar, especialmente em um ambiente tão imprevisível, não apenas pela segurança deles, mas para achar mais pistas sobre membros do tráfico. Como veremos adiante, eles foram certeiros no ‘profiling’ deles.”
Youtuber americano participa de ação da PM em SP e divulga vídeos nas redes sociais
Ariadne Natal, especialista em Letalidade policial, pesquisadora associada do Núcleo de Estudos da Violência da USP, pesquisadora de pós-doutorado do Peace Research Institute Frankfurt, na Alemanha, aponta que a abordagem é sensacionalista e preconceituosa.
“As comunidades patrulhadas são apresentadas como locais onde “as piores atrocidades acontecem” e onde todos são potenciais criminosos. Moradores são mostrados sem autorização, sendo até ridicularizados em um momento. Diversas ações inadequadas da polícia são capturadas, como abrir portas, entrar em barracos sem autorização e apontar armas para pessoas, inclusive crianças, que são mostradas em vídeo, contrariando o Estatuto da Criança e do Adolescente”, disse em entrevista à GloboNews.
PMs celebram mortes com ‘cigarros e bebidas
Youtuber aparece manuseando arma da Polícia Militar.
Reprodução
Em um outro momento dos registros, o influenciador afirma:
“Esse tempo todo, não sei se vocês estão conseguindo ver, mas eu estou tenso. Espero que esteja conseguindo transmitir o que eu tô sentindo nesse momento” (…) “É muito perigoso, mas é muito lindo [a favela].”
Em uma das conversas, um policial comenta, em inglês, que as mortes de criminosos são comemoradas “com cigarros e bebidas”.
“Quando matamos um bandido, nós celebramos com cigarro e bebidas. [Com o batalhão?] Não, só o pelotão. Como dissemos antes, o pelotão é como uma família.”
A SSP diz que a frase “não condiz com as práticas adotadas pelas forças de segurança do Estado”. Segundo apurado pelo g1, o agente será investigado pelas declarações.
Em nota, a secretaria afirmou que solicitou esclarecimentos à Polícia Militar logo após ter acesso aos vídeos e que foi instaurada uma “sindicância para apurar todas as circunstâncias e adotar as providências necessárias.”
“As polícias paulistas são instruídas e continuamente capacitadas para agirem dentro da lei. Excessos e desvios não são tolerados e todos os casos são punidos com rigor. Além disso, a dinâmica do vídeo não é permitida de acordo com as regras internas da Corporação.”
O Youtuber conta ainda que acompanhou o trabalho das polícias científica e técnica. E diz ter visto cenas de um crime com vítimas.
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