Relatório aponta que Gramado possui 68 áreas de risco geológico

Os anos de 2023 e 2024 foram desafiadores para Gramado, por conta de desastres climáticos. Com chuvas acima da média, deslizamentos de terra foram registrados em diversos pontos da cidade, com mais de 200 locais vistoriados pelo poder público. Em localidades do interior, nove pessoas morreram devido aos desastres.

Deslizamento no bairro Piratini, em Gramado, na Rua Henrique Bertoluci



Deslizamento no bairro Piratini, em Gramado, na Rua Henrique Bertoluci

Foto: Mônica Pereira/GES-ESPECIAL

Como uma forma de auxiliar a Prefeitura de Gramado a aprimorar e executar políticas que possam mitigar e prevenir os danos, o Serviço Geológico do Brasil (SGB) elaborou um relatório, destacando áreas com risco geológico. Foram 68 pontos considerados de risco alto ou muito alto, associadas a deslizamentos, rastejo, queda de blocos de rocha, inundação, enxurrada e erosão de margem fluvial.

Um mapeamento similar havia sido realizado na cidade em 2015. Os resultados atuais mostram um aumento considerável no número de áreas, que, até então, era de apenas oito. Para o SGB, o incremento foi reforçado “pelo crescimento do município nos últimos dez anos, impulsionado pelo turismo, e aos eventos extremos de precipitação que ocorreram no Estado do Rio Grande do Sul em 2023/2024, que deflagraram inúmeros movimentos de massa na região serrana”.

Em 2015 as áreas de risco englobavam 189 imóveis e 716 pessoas. Em 2024, o número soltou para 2.432 imóveis e uma população de 9,7 mil pessoas.

Além do mapeamento, disponível no link rigeo.sgb.gov.br, o SGB conta com o aplicativo Prevenção SGB, que pode ser baixado gratuitamente, e permite aos cidadãos ter informações sobre áreas de risco e cadastrar novos pontos de ocorrência de risco geológico e hidrológico, servindo como subsídio para a atualização frequente do tema nos municípios.

“Vamos ter que aprender a conviver com essa realidade”

A coordenadora da Defesa Civil de Gramado, Juliana Fisch, ressalta que as equipes do Executivo municipal estavam ansiosas por receber o relatório, entregue no final de 2024. A partir dele, será possível iniciar um planejamento para minimizar os danos e conseguir dar uma resposta mais rápida à comunidade em caso de novas ocorrências.

Ela explica que a Defesa Civil municipal já tinha conhecimento de todas as áreas apontadas pelo SGB, inclusive, houve o pedido para a inclusão da Linha Caboclo, que não consta no mapeamento, mas que teve danos por causa das chuvas de maio do ano passado.

Os servidores do órgão municipal farão treinamentos neste início de ano para que o plano de contingência de Gramado possa ser atualizado. “Continuamos fazendo as vistorias de forma constante e já começamos a fazer algumas ações sugeridas no relatório, como os treinamentos”, destaca Juliana.

A coordenadora adianta que também estão começando a pensar em formas de alertas, principalmente às comunidades do interior. “Queremos criar um canal direto com esses moradores, pois são locais que a gente demora mais a chegar, por causa do difícil acesso”, diz.

Ainda, treinamentos com a população serão realizados. “Precisamos orientar as pessoas para que entendam se houve uma movimentação de terra, um barulho estranho e que possam saber sobre a necessidade de evacuação. Vamos ter que aprender a conviver com essa realidade”, argumenta Juliana, revelando que a Defesa Civil da cidade está testando um sistema de pluviômetro eletrônico.

Outro projeto que deve ocorrer ao longo de 2025 é o da Defesa Civil Mirim. O programa vai atingir estudantes das escolas da cidade, uma maneira de disseminar as informações.

“Estamos em um período de seca, momento que começamos a trabalhar em medidas preventivas e nos equiparmos. Conseguimos avançar na aquisição de equipamentos de proteção individual (EPIs), motosserra e motopoda. Agora, estamos em busca de recursos de emendas para adquirir um veículo 4×4”, projeta Juliana.

Defesa Civil como aliada da comunidade

Juliana Fisch



Juliana Fisch

Foto: Fernanda Fauth/GES-Especial

A sede da Defesa Civil fica na antiga sede da rádio Excelsior, próximo da Delegacia de Polícia de Gramado. O local é considerado estratégico pela localização. Para Juliana, agora é preciso focar em melhorar a base e investir em tecnologia.

“Estamos nos aperfeiçoando para que a gente consiga agir cada vez mais rápido. Sabemos que não vamos conseguir evitar um desastre climático, mas temos que ter uma pronta resposta. Precisamos que a comunidade nos perceba como aliados, não estamos aqui para fazer mal às pessoas. Somente buscando a proteção de todos”, descreve a coordenadora.

Juliana pondera que é preciso estar vigilante e reportar situações à Defesa Civil, disponível através do WhatsApp (54) 9 9629-6160.

Algumas das áreas de risco de Gramado estão sendo estudadas por equipes de engenharia para que obras possam ser executadas, como no Três Pinheiros, Orlandi, Piratini e localidades do interior. “O que a gente percebe é que, mesmo sem chuva, algumas áreas continuam se movimentando. Por isso, esse mapeamento é tão importante para nós”, analisa.

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Quais os locais mapeados

Risco muito alto – ruas Henrique Bertoluci, Ábramo Éberle, das Alfazemas, das Lavandas, Ladeira das Azaleias, Setembrino de Carvalho, Augusto Orlandi, Boca de Leão, Olímpio Swaizer, Maximiliano Hahn, Venerável, Estrada Linha Ávila, Paraná, Maranhão, Gil, Estrada da Linha São Roque, Estrada/comunidade Pedras Brancas, Estrada Morro Redondo – Linha Furna, Estrada da Lajeana, Estrada Linha Araripe, Estrada Linha Ávila Baixa, dois locais no Vale do Arroio Irapuru, Estrada Linha Moreira, Estrada Linha Carahá e Estrada Professora Elvira A. Benetti

Risco alto – ruas Germano Monareto, Avelino Alves de Moraes, Padre Nóbrega, das Araucárias, Almiro Drecksler, Ivo Machado, Estrada da Pedreira, Almerindo Tomazi, três trechos da Avenida Primeiro de Maio, RS-115, Francisca Casagrande, três trechos da Avenida do Trabalhador, Guilherme Abraham, das Maravilhas, Parobé Linha Nova, Avenida das Hortênsias, Prefeito Nelson Dinnebier, Waldi Kich, Porto Alegre, Piauí, Manaus, Luis Prass, Estrada Professora Elvira A. Benetti, Pedro Tomazeli, Estrada da Linha São Roque, Estrada da Linha Furna, quatro trechos da Estrada Linha Bonita, Estrada Linha Bonita, Irineu Masoti, Estrada Linha Ávila Alta, dois trechos na Estrada Serra Grande, Estrada Ademar Paulo Bazzan, Linha Morro Agudo e Estrada Linha Moreira.

Ações sugeridas

O documento do SGB também aponta 13 tópicos, que foram sugeridos ao poder público.
Entre os apontamentos estão o cadastro das propriedades nas áreas de risco; avaliar a possibilidade de remover e de realocar temporariamente em locais seguros os moradores que se encontram nas áreas de risco durante o período de chuvas; desenvolver estudos de adequação do sistema de drenagem pluvial e de esgoto; verificar e reparar os pontos de vazamento de água em encanamentos; desenvolver estudos geotécnicos e hidrológicos para embasar projetos e obras de contenção de encostas ou de blocos rochosos; fiscalizar e proibir a construção em áreas protegidas pela legislação vigente; instalar sistema de alerta para as áreas de risco; realizar programas de educação ambiental; elaborar plano de contingência que envolva as zonas rural e urbana; fiscalizar e exigir que novos loteamentos apresentem projetos urbanísticos respaldados por profissionais habilitados; executar manutenção das drenagens pluviais e dos canais de córregos, a fim de evitar que o acúmulo de resíduos impeça o perfeito escoamento das águas durante a estação chuvosa; agir de modo preventivo nos períodos de seca. E, por fim, adequar os projetos de engenharia às condições geológicas e topográficas locais, evitando realizar escavações e aterros de grande porte. 

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