MORTE DE GÊMEAS: Presa pela morte das filhas, mãe diz ter perdido dente ao ser agredida por policiais penais

Ré por duplo feminicídio pela morte das próprias filhas, Gisele Beatriz Dias, presa há mais de 90 dias, afirma ter sofrido agressões físicas e verbais por policiais penais. Detida ainda em outubro do ano passado, dias após as filhas gêmeas Manuela e Antônia, de 6 anos, morrerem, ela diz que o caso teria acontecido antes da audiência de custódia, realizada em 16 de outubro de 2024.

Gêmeas Manuela e Antônia Pereira, de 6 anos | abc+



Gêmeas Manuela e Antônia Pereira, de 6 anos

Foto: Reprodução/Facebook

Segundo a mulher, entre os xingamentos, ela teria recebido tapas no rosto que ocasionaram a perda de um dente. Cerca de cinco a sete homens teriam a levado para uma sala e praticado os atos violentos, usando um objeto que ela descreveu como sendo “comprido” e “mole”.

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Além de confirmar que estavam com uniformes e coletes pretos, ela não soube informar detalhes de como os supostos agressores eram nem onde estavam — justificando que foi forçada a ficar de cabeça abaixada. Apesar disso, desconfia que o ataque tenha ocorrido no Núcleo de Gestão Estratégica do Sistema Prisional (Nugesp), em Porto Alegre.

Ainda conforme a denúncia de Gisele, os agentes a teriam ameaçado para que ela não contasse sobre as agressões e por isso ela não comentou o caso na audiência de custódia. O caso teria vindo à tona após ela contar ao pai, que então teria denunciado.

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Procurada pela reportagem, a Corregedoria-Geral do Sistema Penitenciário informou que “há processo apuratório sobre a denúncia em questão, todavia não é possível detalhar as informações tendo em vista que o procedimento está em andamento”. Gisele está presa na Penitenciária Estadual Feminina de Guaíba.

O que diz a defesa de Gisele 

Advogado de Gisele, José Paulo Schneider define o caso relatado pela cliente como um “escândalo”. Segundo ele, ela foi chamada para falar sobre o caso em uma audiência de provas, realizada on-line, com a 1ª Vara Judicial da Comarca de Igrejinha no começo de novembro do ano passado.

“Então o juiz oficiou a Susepe [Superintendência dos Serviços Penitenciários] para que investigasse. Até agora não veio nada para os autos, de que a Susepe tenha investigado ou não. Me parece que a Susepe não fez nada, pelo menos não tem isso no processo e o juiz mandou mandar quando tivesse. E o Ministério Público estava presente na audiência e não se manifestou, não pediu abertura de investigação. É um absurdo que isso tenha acontecido.”

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Em nota enviada pelo advogado após o Ministério Público aceitar a denúncia que levará Gisele a responder pela morte das gêmeas na Justiça, ele diz que “a defesa técnica recebeu com surpresa a revelação da denúncia feita sob absoluto sigilo para as partes envolvidas”.

“O advogado lembra que o caso foi amplamente divulgado na imprensa até a acusada não ter defesa constituída. O sigilo máximo foi decretado após a audiência em que a ré revelou ter sofrido agressões e ameaças por agentes públicos, antes da audiência de custódia”, afirma o texto.

O caso

Manuela e Antônia Pereira, de 6 anos, morreram em um intervalo de oito dias, entre 7 e 15 de outubro do ano passado, com sintomas similares. A mãe foi presa ainda no dia 15 de outubro, na época ainda suspeita de ter cometido os crimes.

A autópsia de Manuela, que morreu primeiro, apontou “hemorragia pulmonar penetrando nos espaços aéreos com insuficiência respiratória, com um afogamento atípico por sangue, indicando como causa da morte ‘insuficiência respiratória’ e hemorragia pulmonar”, causada por meio cruel (asfixia).

Já a ficha de atendimento ambulatorial de Antônia indicava “pupilas fixas, sangramento efusivo pela traqueia por suspeita de intoxicação por veneno de rato, causada por meio cruel (asfixia)”.

A suspeita é que elas tenham sido envenenadas, mas os resultados das análises do Instituto-Geral de Perícias (IGP) ainda não foram conclusivos sobre a causa dos óbitos.

A Justiça aceitou a denúncia contra Gisele Beatriz Dias, por duplo feminicídio, nesta quinta-feira (16).

A defesa dela afirma que “não há qualquer prova científica que confirme a hipótese acusatória de que as gêmeas tenham sido mortas por envenenamento ou intoxicação”, pontuando que “tudo será meticulosamente contestado nos autos durante o curso do processo, sobretudo as condutas que colocam em xeque a imparcialidade judicial”.

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